Crítica: Após tragédia, Ariana Grande escolhe ser feliz em Sweetener
No quarto álbum da carreira, a artista exorciza os demônios do atentado em Manchester, se aventura em novos sons e se declara ao noivo
atualizado
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“A luz está vindo para devolver tudo o que a escuridão roubou”. Se tal frase — presente na terceira faixa do quarto álbum da estrela pop Ariana Grande –, estivesse presente em uma balada melancólica sobre superação após tragédia, ninguém estranharia, afinal, tragédia é justamente o que aconteceu com a cantora, em maio de 2017, quando um de seus shows, em Manchester, foi alvo de um ataque terrorista que resultou em 23 mortes. No entanto, em Sweetener, Ariana escolhe uma rota diferente para curar suas feridas.
A faixa em questão, the light is coming, por exemplo, inicia com um rap provocador de Nicki Minaj, carregado por batidas de funk eletrônico cortesias de Pharrell, que, encarregado de metade da produção e composição do álbum, adiciona texturas e tira do lugar-comum músicas as quais poderiam soar convencionais nas mãos de um profissional com menos recurso e criatividade. Entre elas, a dançante blazed e a etérea R.E.M., com leves toques de reggae, no qual Ariana Grande demonstra sua vulnerabilidade e inocência: “Com licença…hmmm…eu te amo/eu sei que isso não é o jeito de iniciar uma conversa”.
Os efeitos do amor em um coração apaixonado também são cantados em everytime, pete davidson — dedicada ao noivo Pete Davidson, comediante do programa Saturday Night Live, com quem Ariana Grande tem vivido um arrebatador romance desde o início da relação, em maio deste ano — e na faixa-título, que mistura serenidade com um refrão cheio de atitude.
Em meio às experimentações sonoras de Pharrell e às confissões amorosas, são nas canções com a temática da confiança que Ariana Grande parece estar pronta para abandonar a estética da inocência e abraçar um amadurecimento pessoal e artístico, e se divertindo ao mesmo tempo.
Além da arrasa-quarteirão God is a woman, um dos singles de Sweetener, ao lado da também grandiosa no tears left to cry, a americana de 25 anos se permite celebrar o próprio momento, “É tão bom ser tão jovem, se divertir tanto e ser bem-sucedida”, ao mesmo tempo oferecendo reconhecimento às pequenas vitórias do dia a dia, para nós que não tivemos tanta sorte de ser estrelas pop reconhecidas mundialmente. “Eu acabei de receber ótimas notícias do trabalho, garoto, é uma surpresa”.
É só em get well soon, a última faixa do disco, que Ariana Grande finalmente oferece a esperada balada melancólica, abordando diretamente o ataque em Manchester, deixando sua potente voz passear pelos sentimentos de dor e pesar pelas vítimas daquele 22 de maio.
Para alguns, a angústia demonstrada em get well soon pode parecer muito pouco frente à grandiosidade do evento motivador da canção, porém, mais de um ano após a tragédia, pela qual a artista foi elogiada pela graça e sinceridade com que lidou com a situação, Ariana estava pronta para crescer como artista, se aventurar em novos sons e entregar um álbum sincero, explorando os caminhos atuais que a vida lhe tem apresentado. Afinal, se permitir amar e ser feliz talvez seja, no fim, a melhor resposta àqueles que tentam cercear a liberdade.
Avaliação: muito bom