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Crítica: Anima traz o melhor da melancolia eletrônica de Thom Yorke

Terceiro disco solo do líder da banda Radiohead chegou acompanhado de um curta homônimo lançado na Netflix

atualizado

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ANIMA
1 de 1 ANIMA - Foto: Darius Khondji/Netflix/Divulgação

Anima, novo e terceiro disco solo de Thom Yorke, o vocalista e líder da banda Radiohead, pega emprestado conceitos do psiquiatra Carl Jung, pai da psicologia analítica. O título remete às definições de inconsciente propostas pelo suíço. Anima diz respeito à personalidade interior do homem: feminina. Animus expressa a voz interna masculina da mulher. Misture esse jogo de espelhos com as paisagens eletrônicas do inglês, mais afiado do que nunca em sua carreira solo. Eis que surge, talvez, o melhor álbum dele.

A veia junguiana se mostra com mais clareza no curta-metragem homônimo dirigido por Paul Thomas Anderson, parceiro de longa data do grupo, e lançado na Netflix. No filme, o inglês divide as atenções com sua namorada, a atriz italiana Dajana Roncione.

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Paul Thomas Anderson, diretor de Anima, é conhecido por filmes como Magnólia (1999), Sangue Negro (2007) e Trama Fantasma (2017)
PTA, como é conhecido pelos fãs, tem parcerias de longa data com a banda. Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, assinou as trilhas sonoras de Sangue Negro (2007), O Mestre (2012), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2017). O músico também protagonizou o média-metragem Junun (2017), uma viagem pela música indiana contemporânea
PTA, por sua vez, dirigiu clipes de três músicas do disco A Moon Shaped Pool (2017), o mais recente da banda: Daydreaming, The Numbers e Present Tense
O filme Anima: disponível na Netflix
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Thom Yorke em show solo: Anima é o terceiro disco individual do líder do Radiohead

Tim Mosenfelder/Getty Images
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Paul Thomas Anderson, diretor de Anima, é conhecido por filmes como Magnólia (1999), Sangue Negro (2007) e Trama Fantasma (2017)

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PTA, como é conhecido pelos fãs, tem parcerias de longa data com a banda. Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, assinou as trilhas sonoras de Sangue Negro (2007), O Mestre (2012), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2017). O músico também protagonizou o média-metragem Junun (2017), uma viagem pela música indiana contemporânea

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PTA, por sua vez, dirigiu clipes de três músicas do disco A Moon Shaped Pool (2017), o mais recente da banda: Daydreaming, The Numbers e Present Tense

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O filme Anima: disponível na Netflix

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Anima sucede Eraser (2006), Tomorrow’s Modern Boxes (2014) e Suspiria (2018), estreia de Yorke como compositor de trilha sonora. Dois anos após o mais recente disco do Radiohead, A Moon Shaped Pool (2017), o inglês parece plenamente à vontade para trabalhar sua já conhecida melancolia por meio de timbres eletrônicos.

Mas ele jamais havia alcançado um nível tão frutífero de modulação (temática e sonora) quanto no novo trabalho. Com nove faixas e pouco mais de 47 minutos de duração, o disco transita por subgêneros eletrônicos diversos (jungle, IDM, techno) e ambiências que desafiam classificações apressadas.

Distopia e sonho

Traffic, a canção mais techno de Anima, abre o álbum dando o recado: Yorke continua afim de criticar, à sua maneira conceitual e elusiva de sempre, as injustiças de um mundo vil, algo distópico, e reforçar sua desconfiança nas autoridades – vale lembrar que deu entrevista recente chamando políticos de direita de palhaços – e nas tecnologias industriais. “Party with a rich zombie” (“faça festa com um zumbi rico”), ele canta aqui e ali.

Last I Heard (…He Was Circling the Drain) talvez seja a música que renda comparações imediatas com as atmosferas oníricas (assustadoras) do Radiohead, sobretudo fase Kid A (2000) e Amnesiac (2001). Yorke desfaz qualquer derivação simplista nas faixas seguintes: a frenética Twist, a meditativa Dawn Chorus, que já merece figurar entre as composições mais potentes e brilhantes do roqueiro, e o redemoinho interno chamado I Am a Very Rude Person.

O groove yorkiano chega ao clímax em Not the News, faixa que evidencia o processo criativo do músico e seu produtor, Nigel Godrich, ao longo de Anima: músicas trabalhadas ao vivo e depois remodeladas em estúdio. Essa artesania transmite uma atmosfera menos sufocante e controlada do que de costume. Ao mesmo tempo, dá margem para bem-vindas digressões.

The Axe retoma o clima de Dawn Chorus, agora com um refrão dedicado às promessas vazias do mundo hiperconectado: “Pensei que tivéssemos um acordo”. Impossible Knots levanta uma inesperada conexão direta com um rock alternativo bem reconhecível – linhas marcadas de baixo, bateria de Phil Selway, membro do Radiohead –, enquanto a quase instrumental à la Boards of Canada Runwayaway encerra a viagem.

Anima só poderia mesmo ser produto da mente febril e inquieta de um dos grandes artistas musicais (ou não) dos últimos trinta anos.

Avaliação: Ótimo

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