Criolo relembra em turnê seu primeiro disco, lançado há 10 anos
Além de uma turnê — que passa por Brasília em 16/4 –, o cantor lançará single da música título e em março reeditará o disco na íntegra
atualizado
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O primeiro disco de Criolo, “Ainda Há Tempo”, comemora 10 anos em 2016. Para celebrar a data, o músico fará uma série de shows pelo país. A primeira acontece no dia 1.° de abril, no Áudio Club, em São Paulo. No dia 16, o cantor se apresenta em Brasília, dentro do Festival Encontro das Tribos. No dia 8/4, o single “Ainda Há Tempo” será relançado nas plataformas digitais. O disco físico completo só estará disponível na segunda quinzena de maio.
O cantor conta que ele e Daniel Ganjaman (amigo e produtor musical) sempre tiveram o desejo de fazer algo com o “Ainda Há Tempo”, já que, à época, foram só 500 cópias e ele nunca teve a oportunidade de produzir um show somente deste álbum. “Foi meu primeiro disco, mas já estava 18 anos na estrada quando ele nasceu. Algo extremamente importante para mim”, diz o músico.
Concepção artística
As apresentações de “Ainda Há Tempo” terão uma concepção artística diferente. A cada canção do show, o telão de LED exibirá um momento específico da trajetória de Criolo. O teaser de “Chuva Ácida”, por exemplo, apresenta o músico caminhando pelo bairro do Grajaú, circulando pelos principais pontos que marcaram sua infância e adolescência até chegar ao centro da cidade de São Paulo.
Mesmo depois de uma década, o disco menos conhecido da carreira de Criolo continua com letras atuais que, de diferentes formas, refletem a realidade do jovem da periferia. As duras rimas das 22 faixas mostram um Criolo em desenvolvimento, mas cheio de coisas a dizer, como a letra de “No Sapatinho”:
Eles querem que você desista, mas jamais se dê por vencido. E se eu vim pra cá é porque tenho uma missão. Talvez seja cantar rap ou cuidar do meu irmão
“Sentimos uma dor muito grande porque todas as letras, na verdade, são muito atuais. Ainda vivemos nesse abismo social. Isso é doloroso. Olhamos para as letras e percebemos a força desse rap nas nossas vidas e nas vidas das pessoas. É natural que eu reviva muitas memórias da minha infância e adolescência. A esperança não morre”, afirma.
Como as masters originais não existiam mais e as sessões de áudio não podiam ser abertas, algumas das batidas foram recriadas por novos produtores do rap brasileiro. “O Criolo dos três discos ainda é o mesmo: um cara do Grajaú para cima e para baixo e que tem muito orgulho das suas raízes familiares e de tudo o que viveu”, complementa.
Momento político
Criolo usa frases de efeito para falar sobre a atual situação política e econômica do país. Para ele, o discurso de ódio na sociedade é iminente e precisa ser estancado, antes mesmo de dar início a qualquer tipo de embate. Segundo o músico, o grande problema do Brasil continua sendo o preconceito, seja ele referente à raça, religião ou orientação sexual.
“Infelizmente, o preconceito é algo latente em nosso cotidiano. Não é só na música, claro. Meu pai já foi detido por ser negro. Ele acabou preso pelo simples fato de ser negro. Quando você entrega um currículo para uma vaga de emprego, por exemplo, ele, na maioria das vezes, precisa ter foto. Isso é muito forte”, diz Criolo.
Eu escuto pelos quatro cantos da cidade de São Paulo que todos querem um Brasil melhor. Mas, se todo mundo almeja isso, por que nossa situação ainda é tão delicada. Por que uma mulher precisa ser tratada como serviçal do homem em pleno 2016? Por que uma pessoa precisa perder a vida por assumir sua homossexualidade? O rap é minha comunicação com a sociedade. Eu só quero dividir com o mundo que o ódio não vale a pena
“Eu não quero que pessoas como meu pai sofram preconceito racial. Eu não quero que minha mãe sofra qualquer tipo de discriminação por ter sotaque nordestino. Eu não quero que meus amigos homossexuais apanhem nas ruas porque demonstram seu amor de uma outra forma”, afirma ainda.
Sobre as manifestações pró e contra governo, Criolo é incisivo. “Todo mundo fala que quer um Brasil melhor, mas tem a coragem de estourar a cara do outro que pensa diferente. Eu não entendo esse contraste tão absurdo. Não dá para tratar nosso cenário político como uma guerra de torcida, porque isso que está acontecendo mexe com a vida de todos os cidadãos brasileiros”, conclui.