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Criolo aposta em nova sonoridade e lança disco com dez sambas inéditos

Seu novo trabalho, “Espiral de Ilusão”, chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (28/4)

atualizado

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Laís Aranha / Reprodução
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1 de 1 imagem em preto e branco mostra rapper criolo - metrópoles - Foto: Laís Aranha / Reprodução

Os olhos de Criolo transbordam de emoção. Ao sentir o peso do mundo sobre suas costas, ele não viu outra alternativa. Compôs em quantidades exorbitantes. Segundo ele, foram de 15 a 20 letras por dia. As rimas de protesto, desta vez, deram lugar ao samba, gênero musical teoricamente mais leve. As letras, recheadas de sentimento, refletem um momento muito especial e atípico. “Eu tinha escrito uma infinidade de sambas há um tempão e isso ficou guardado”.

Recentemente, meus sentimentos se afloraram e essas composições ressurgiram. Eu queria dividir isso com as pessoas que estavam à minha volta. Essa energia boa tomou conta de todos.

Criolo

Sentado em um banco de madeira de uma simpática casinha na zona oeste de São Paulo, o rapper gesticula enquanto fala e quase derruba uma cesta de pão. Pouco tempo depois, com as mãos cruzadas e milimetricamente colocadas à mesa, Criolo discorre sobre seu novo trabalho, “Espiral de Ilusão”, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (28/4).

“Escrever um rap ou um samba, para mim, é a mesma coisa. Tudo é movido pelo sentimento. Não é que vem uma letra na minha cabeça e eu a coloco na estante do samba ou do rap. Eu não sei o que vai acontecer. Estou totalmente fora da minha zona de conforto. Fui só ouvindo meu coração. Música é sentimento”, afirma. Espiral de Ilusão traz ao todo dez sambas inéditos. Desses dez, nove são de autoria de Criolo. A exceção é Hora da Decisão, de Ricardo Rabelo e Dito Silva.

Samba
O samba não é nenhuma novidade na vida de Criolo. Ele é o autor de Banca de Jornal, samba famoso na voz de Tom Zé. No final do ano passado, ele também gravou Até Amanhã, música registrada no projeto póstumo Se Assoprar, Posso Acender de Novo, do mestre Adoniran Barbosa. Criado no bairro do Grajaú, no extremo sul de São Paulo, a relação de Criolo com o samba vem desde a infância. Discos de Martinho da Vila e Moreira da Silva sempre estiveram presentes em sua vida.

O pai, o senhor Cleon Gomes, nunca admitiu que em “casa de pobre” faltasse samba. Na estante da vitrola, o bom e velho batuque dividia as atenções com Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e Agnaldo Rayol. “Minha música é uma mistura das vivências e da expressão espontânea. Meu pai e minha mãe são maravilhosos. Muita gente me pergunta quais são minhas referências, meus ídolos musicais, os caras que admiro na literatura. Eu digo que são meu pai e minha mãe. As pessoas que me apresentaram tudo. Se escuto samba hoje em dia, foi porque eles ouviam. Por mais sofrimento que tivesse, sempre tinha música dentro de casa”, lembra.

Se em “Convoque Seu Buda” (2014), último trabalho de inéditas de Criolo, ele atirou para todos os lados, incluindo o samba, em Espiral de Ilusão, ele veste a camisa do samba de forma bastante contundente. Apesar de simples, Criolo não abre mão de suas letras fortes e impactantes. Em Cria de Favela, ele dá a letra do jogo. “Menino, você não pode voltar porque a biqueira não é seu lugar. Quem é que vai lucrar com essa patifaria? É gente da alta”.

O trecho da música cairia como uma luva em qualquer rap escrito por Criolo. Ela, entretanto, apresenta um arranjo alegre e contagiante. “O disco tem muita lágrima. Eu não acredito que algumas composições ficaram tão dançantes. Tem muita lágrima ali, mas também muita ressurreição. A gente que cresce em favela sabe como o sistema vira as costas para nós. Se você pegar quatro ou cinco letras deste disco, vai ver que, na verdade, é um rap que o Kleber (ele mesmo) fez”, conta ele.

Semelhanças
Na parte final da produção das músicas do disco, uma dúvida pertinente tirou o sono de Criolo. Ao ouvir um trecho de Dilúvio de Solidão, o rapper viu semelhanças com uma canção de Paulinho da Viola. “Não lembro o nome da música do Paulinho. Fiquei abalado, no entanto. Pensei que, de alguma forma, tinha reproduzido aquilo.” Criolo fez questão de procurar Paulinho para mostrar a música.

“Ele falou para eu ficar tranquilo. Disse que situações assim aconteciam com muita frequência na música e principalmente no samba. No final, elogiou a composição. Ele deu o aval para que eu gravasse. Fez elogios. Ouvir isso de um cara como o Paulinho, sobre algo que saiu do seu coração sem qualquer maldade, anima qualquer um”, revelou.

Em 2014, Criolo foi acusado de plágio pelo compositor Mamão. Na ocasião, ele viu semelhanças entre sua música “Tristeza Pé no Chão” (1973), popular na voz de Clara Nunes, e “Linha de Frente”, do álbum “Nó Na Orelha” (2011).

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