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Conheça o rap tropicalista do grupo brasiliense Puro Suco

Os jovens venceram a infância difícil no Entorno para construir um estilo cheio de brasilidade

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Grupo de Rap de Brasília, Puro Suco. Brasília(DF), 01/08/2018
1 de 1 Grupo de Rap de Brasília, Puro Suco. Brasília(DF), 01/08/2018 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Rimas cheias de conteúdo feroz e métrica acelerada. Com essa receita, o Puro Suco tem ganhado destaque meteórico na cena hip-hop do Distrito Federal e Entorno. Formado por Murica, Prs e Ronchi, o grupo aposta no que chamam de rap tropicalista, uma mistura do gênero criado no Bronx (EUA) a ritmos tradicionais brasileiros como o samba e o maracatu. Neste sábado (4/8), os artistas apresentam o repertório do álbum de estreia – com previsão de lançamento ainda neste ano–, no Teatro Mapati (707 Norte), a partir das 20h.

Criado há apenas um ano, o Puro Suco surgiu da admiração mútua que os artistas nutriam pelos trabalhos individuais uns dos outros. “Quando vi o vídeo do Prs me surpreendi em como a gente tinha tanto em comum, como o nosso flow era parecido e de cara quis criar com ele”, conta Murica. O processo de composição fértil do duo já rendeu mais de 40 canções. Todas com os beats assinados pelo DJ e produtor musical Ronchi.

Ao todo, os artistas já soltaram três canções: a homônima Puro Suco; Sujão e Cabrón — faixa lançada há um mês e com quase 30 mil visualizações no YouTube. No show, prometem adiantar o repertório completo do disco que está por vir.

Além da natural crítica social característica do hip-hop, as músicas do Puro Suco tendem a ampliar a mensagem nas letras para uma “nova consciência jovem”, que fala sobre amor, coragem, autoconhecimento e respeito. “A nossa meta é fazer o máximo de pessoas dialogar com a nossa esquizofrenia musical”, salienta Murica.

Contracultura
Os jovens desaprovam o atual endeusamento da cultura norte-americana e desejam trazer o olhar — normalmente voltado ao estrangeiro — para a cultura brasileira. “Estamos indo na contramão dessa cultura de massa, ensinando as pessoas a dar valor ao que é nosso”, considera Murica.

Na apresentação deste sábado (4), os três integrantes serão acompanhados, ainda, por uma banda completa, formada por instrumentistas como Lucca Seabra (bateria), Victor Henrique (sax), Alexandre D’Almeida (guitarra), Pedro Alexandre (baixo), e Kennedy Gustavo (teclado).

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Os jovens criavam o repertório em um apartamento na 708 Norte, uma espécie de QG de artistas que eles apelidaram de Nova Íris, antes de as contas apertarem e eles terem se mudado para Ceilândia Norte
Puro Suco no antigo apartamento na 708 Norte
Além das rimas, Murica perpetua o prazer da leitura com o sebo itinerante que mantém
Puro Suco
Murica é conhecido nas redes devido ao sucesso que faz nas batalhas do DF
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Há apenas um ano no mercado, a Puro Suco já conquistou fãs dentro e fora do DF

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Os jovens criavam o repertório em um apartamento na 708 Norte, uma espécie de QG de artistas que eles apelidaram de Nova Íris, antes de as contas apertarem e eles terem se mudado para Ceilândia Norte

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Puro Suco no antigo apartamento na 708 Norte

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Além das rimas, Murica perpetua o prazer da leitura com o sebo itinerante que mantém

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Murica é conhecido nas redes devido ao sucesso que faz nas batalhas do DF

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Matheus Ronchi é instrumentista e cuida das melodias

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“Com a banda conseguimos abranger uma quantidade maior de estilos. Há até um momento mais voltado para o forró”, adianta o produtor musical, Ronchi. “A nossa ideia é justamente essa, a de misturar todos os estilos num liquidificador usando o rap como base”, completa Prs.

Nascido em Brazlândia, Murillo Felipe, o “Murica”, foi apresentado ao rap pelo pai, ainda criança. O peso e as letras repletas de protesto conquistaram o jovem. Aos 12 anos, começou a pesquisar o segmento e procurou aprender com os rimadores mais experientes. Segundo ele, o gosto pela leitura e escrita também foram motores. “Eu comecei a compor algumas letras, a testar mesmo. Umas rimavam, outras não”, lembra.

Ao assistir pela internet uma das inúmeras batalhas do Emicida – ainda no início de carreira–, inspirou-se e resolveu arriscar-se nos encontros de MC’s do DF. “Quando participei pela primeira vez do duelo de Brazlândia, fiquei maravilhado com a liberdade de falar o que eu quisesse, sem script. Poder me enfiar por inteiro no universo da pessoa”, conta.

Daí até ser classificado como o “MC da métrica mais doida“, em um vídeo-compilado que ultrapassa 260 mil views no canal Rap Freestyle, do YouTube, foi um pulo. “As batalhas me trouxeram uma vivência muito boa para me descobrir como artista. Ver na hora como as pessoas recebem o meu íntimo, foi muito importante no meu crescimento no movimento”, explica.

Amizade e coletividade
Agora com 18 anos, Murica diz que o apoio familiar foi essencial para ele seguir em busca dos sonhos. A principal prova da crença em seu talento veio do próprio pai, Marcelo César Paiva. Marceneiro, ele chegou a oferecer seus trabalhos na luta pelo dinheiro necessário à gravação do primeiro EP do filho. “Meu pai é minha maior referência, meu oráculo, por muito tempo fomos só nós e meu irmão”, relembra.

Ao ingressar no curso de ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB), Murica mudou-se para a casa de um amigo na Asa Norte. Mais que um teto, o apartamento na quadra 708 transformou-se na Residência Artística Nova Iris — onde o vai e vem intenso de músicos lembra a primeira fase criativa dos Novos Baianos. “Aqui é um coletivo de artistas, tem muita história. Vocês ainda vão ouvir os ecos da Nova Iris”, prevê o rapper.

Enquanto a fama precoce e o talento ainda não são atividades lucrativas, o poeta conta com a ajuda da família e amigos para sobreviver. Mas não só isso, aproveitou as doações de livros e montou um sebo itinerante – um empreendimento pessoal denominado Apologia à Leitura. “Eu vendo as obras, mas também funciona como uma biblioteca aberta. As pessoas podem chegar, trocar uma ideia e passar o dia lendo”, conta Murica.

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Apaixonado pela leitura, Murica retira dos livros boa parte das referências para as rimas

 

Gustavo Peres Fonseca, o Prs, de 22 anos, divide as funções como auxiliar administrativo com a paixão pelo rap. Morador do Jardim Ipê, cidade do Entorno, herdou dos pais o gosto pela música – instrumentistas das fanfarras da cidade. “Essa experiência foi muito importante para que eu aprendesse a contar o tempo da música”, revela.

Com 15 anos, montou a Segunda Dose, que apesar de não ter seguido em frente, fez a ponte entre o jovem e integrantes do movimento hip-hop.  Chegou a gravar três vídeos com suas rimas, quando foi “descoberto” pelo Puro Suco. “Assim cheguei à galera da Nova Iris. Hoje somos uma família. Normalmente no meio rap é muita disputa de egos, mas aqui é diferente”, destaca Prs.

 

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Gustavo Peres mora no Jardim Ipê, no Entorno, e trabalha como office boy enquanto a música não é suficiente para o sustento

 

O beatmaker do grupo, Matheus Ronchi, 21 anos, começou o envolvimento com a música aos 12, quando ganhou de presente a primeira guitarra. Chegou a montar algumas bandas na adolescência, mas nenhuma vingou. Autodidata, o morador de Águas Claras começou a mexer sozinho nos programas de produção até aprender a criar os primeiros beats.

Assim como Murica, Ronchi também busca subsistência em outras atividades como a venda de beats e produção musical de álbuns para outros artistas da cidade. O músico ainda atua como DJ em eventos corporativos e casamentos, além de dividir o tempo como motorista particular cadastrado em aplicativos.

 

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Dono dos beats: Matheus Ronchi é o responsável pelas melodias de todas as canções do Puro Suco

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