metropoles.com

Conheça Demá Chagas, o compositor do samba-enredo “Explode Coração”

A música é mais tocada do gênero no Brasil e está no topo há mais de 25 carnavais

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Emília Silberstein/Projeto Lupa
dema
1 de 1 dema - Foto: Emília Silberstein/Projeto Lupa

Texto: Naiara Leão

Não é preciso ser salgueirense, carioca e nem mesmo fã de carnaval. Todo mundo já entoou o maior sucesso de Demá Chagas, coautor de Peguei um Ita no norte (nome oficial do samba-enredo com refrão de “explode coração”) e de outras seis canções que embalaram escolas de samba na avenida. O maior hit do compositor consagrou o Salgueiro campeão em 1993 e quase 25 anos depois continua embalando de estádios a bloquinhos de rua. Segundo levantamentos do Ecad (Escritório de Arrecadação de Direitos Autorais), tem sido o samba-enredo mais tocado no Brasil por anos a fio.

O que poucos sabem sabe é que Demá gostava mesmo era de compor rock, manteve o refrão-chiclete guardado por uns cinco anos e quando finalmente o colocou numa música foi quase barrado pelos colegas compositores que achavam a letra “ruim demais”.

Como é que você começou no samba?
Demá Chagas: Sou nascido em Marechal Hermes e criado na Oswaldo Cruz, que são bairros tradicionais do samba do Rio de Janeiro. Comecei frequentando a roda de samba da Vila Isabel, só que meu lance mesmo era que eu tocava em uma banda de rock, olha só… Aí vim morar aqui na esquina [da quadra do Acadêmicos do Salgueiro, no bairro do Andaraí] e foi quando comecei com a frequentar a escola. Eu tinha 14 anos. Fui fazendo amigos aqui e um deles, o Celso Tavares [que também assina Explode Coração], falou: “Você escreve pra caramba, por que você não tenta fazer samba de enredo comigo? ” E eu dizia: “Cara, o meu lance é MPB, rock. Pra mim samba é um prazer, só isso. ” Mas ele insistiu até que escrevi.

A primeira vez que escrevi samba na minha vida, em 1982, o samba foi campeão [nas escolas há uma competição interna que escolhe o samba-enredo que irá representar a escola a cada ano. As disputas são verdadeiras epopeias, como mostra reportagem do Uol]. Aí peguei gosto pela coisa e nunca mais parei. Neste ano de 2017 ganhei o samba da Cubango [escola de samba do grupo de acesso]. E já ganhei num monte de escola.

O que tem que ter num samba-enredo?
Comunicação! Quando você consegue transmitir alegria para o povo, você conseguiu fazer um bom samba.

Qual a história por trás de “Explode Coração”, sua música mais famosa?
[Demá começa a rir antes de responder. É visível que ele gosta de falar do hit] A história é a seguinte: eu tinha esse refrão há uns quatro ou cinco anos, só que o Salgueiro vinha sempre colocando enredos afro ou políticos. Então eu não tinha espaço, dentro dos enredos que o Salgueiro vinha apresentando, pra colocar essa letra. Aí veio o enredo do Ita [Peguei um Ita no norte é inspirado em canção homônima de Dorival Caymmi, sobre um homem que migra de Belém do Pará para o Rio] que tinha exatamente uma passagem sobre o retirante que chegava aqui no Rio de Janeiro e se encantava pelo vermelho e branco do Salgueiro desfilando na avenida. E o refrão encaixava.
Mas colocar ele na música foi a maior briga minha com esse parceiro meu, o Celso. Ele não queria que eu colocasse o refrão de jeito nenhum porque ele dizia que era muito ruim.
Eu falava: Cara, é bom.
Ele: É ruim
Eu: É bom
Ele: É ruim.
Nessa de é bom, é ruim, é bom, é ruim, faltavam uns dois dias para entregar o samba e eu falei: “Irmão, vamos fazer o seguinte, faz um refrão e coloca aí”.
Ele não fez, manteve “explode coração” e a música é o que é hoje.

Explode Coração é o samba-enredo mais tocado do Brasil. Deve render uma grana bem boa em direitos autorais, né?
Qual tua ligação com o Imposto de Renda? Não posso comentar isso, não (risos). Olha, é um fenômeno de execução mesmo. Até porque criou-se aquele lance de que qualquer evento que se queira fechar com chave de ouro no Brasil, você toca Explode Coração. Toca em batizado, casamento, funeral, tudo. Eu recebo direitos autorais de Ivete Sangalo, rapaziada da Bahia, roqueiro. Eu posso dizer assim que eu ganho um samba-enredo todo ano sem precisar disputar samba-enredo [A estimativa é que o samba-enredo do ano renda aos compositores em torno de R$ 300 mil, entre direitos autorais, venda de CDs e participação em eventos da escola]

Por que é tão difícil repetir o sucesso?
O samba – enredo virou descartável. Hoje o integrante da escola aprende a cantar o samba até o dia do desfile. Ele sai da avenida e, uma semana depois, o samba cai no esquecimento. Não existe mais mídia para samba-enredo hoje, o glamour é bem menor. Repare que em qualquer evento que você faz, se cultivam as memórias dos sambas antigos. O samba novo praticamente ninguém sabe cantar.

Quer ler o texto completo? Acesse Projeto Lupa e confira na íntegra a história de Arisson Tavares.

O Projeto Lupa reúne depoimentos e fotos de profissionais ligados à arte de contar histórias. O site apresenta escritores, jornalistas, roteiristas, contadores de histórias, dramaturgos, redatores publicitários, letristas musicais, que têm algo em comum: a paixão pelas palavras.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?