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Desde o final de 1950, a Música Popular Brasileira (MPB) tem se reconfigurado a partir do surgimento de novos artistas que apresentam um outro olhar para esse gênero musical. Principalmente a partir do trabalho de cantores e cantoras negras, como Mc Tha, Liniker e Luedji Luna.
E, para além disso, grandes nomes da MPB, como Jorge Ben Jor, Gilberto Gil e Wilson Simonal, foram os responsáveis por incorporar outras sonoridades às suas produções, como o rock, o soul, o jazz, o afoxé, trazendo ainda timbragens percussivas e formas de cantar conectadas com tradições afrobrasileiras e diaspóricas – reativando memórias e estéticas ancestrais negras em suas composições.
Luciana Xavier de Oliveira, professora e pesquisadora de relações étnico-raciais da Universidade do ABC, explica que sem a produção de artistas pretos, não haveria MPB. “A população negra desenvolveu diferentes maneiras de resistir e sobreviver, inclusive por meio da música e da própria renovação e atualização de seus repertórios culturais”, disse.
Kelly Qurino, professora da Faculdade de Comunicação da UnB, concorda com Luciana a respeito da contribuição do povo negro na MPB: “ Não existe música brasileira sem esse DNA preto”.
Com a maior difusão dos polos emissores de cultura, que vão além do Sudeste, mas que também saem dos grandes centros, tem permitido que novos corpos negros façam parte desse gênero. Quirino conta que uma das principais características dos novos artistas negros da MPB é a questão identidaria. “Hoje, os trabalhos são focados em contar narrativas de exaltação da cultura, denunciando o racismo”, aponta.
Conheça o trabalho de 5 artistas pretos que estão mudando este cenário:
Mc Tha
“Abram os caminhos”. É dessa forma que a paulistana Thais Dayane da Silva, popularmente conhecida como Mc Tha, começa os trabalhos do seu primeiro álbum Rito de Passá. Lançado em 2019, o disco é uma junção de todas as principais referências musicais da cantora. O funk misturado com tecnobrega; umas pitadas de pop; pagode e música de terreiro são as características que fazem de Tha, algo único.
Cria do bairro de Tiradentes, zona leste de São Paulo, Mc Tha é uma artista independente. Ela produziu o álbum sem nenhum apoio de gravadora e patrocínio. As letras de Rito de Passá refletem temas do cotidiano de uma maneira bastante confessional e libertadora.
Há espaço para ela culpar a astrologia pelo relacionamento que não rolou; não esquecer de onde veio; cantar sobre uns dias com um boy e como foi gostoso; além de questionar a solidão vivida por mulheres negras. Tudo isso embalado pelo ritmo dos tambores da umbanda, fé praticada por Thais em todo seu trabalho.
Luedji Luna
“Eu vou andando pelo mundo como posso e me refaço em cada passo dado”, canta Luedji Luna em Acalanto, música presente em seu primeiro álbum de estúdio, Um Corpo no Mundo. A baiana é reconhecida como uma das principais artistas que descrevem como é ser uma pessoa preta atualmente, principalmente as mulheres.
A cantora se desvinculou do que era esperado musicalmente para quem é da Bahia e se apoiou em sons como jazz e ritmos de origem africanas. No primeiro disco, lançado em 2017, Luedji reflete sobre como é ser um corpo negro que deseja encarar o mundo. Ela compartilha a sua vivência para demonstrar os percursos e sentimentos que a população preta lida todos os dias.
Agora em Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água a proposta é discutir o amor na perspectiva das mulheres pretas. Em entrevista à CNN, Luedji explica como o afeto é negado a este grupo. “O racismo destituiu a nossa humanidade nesse sentido também. Se você tem um corpo demonizado, coisificado e animalizado, esse corpo não é digno de amor”. E acrescentou: “a proposta é reconstituir esse sentimento, trazê-lo para perto, contar as nossas histórias a partir do nosso olhar”.
Para agregar nessa narrativa de acolhimento às mulheres pretas, Luedji convidou as escritoras Conceição Evaristo e Tatiana Nascimento. O álbum foi reconhecido na edição do Grammy Latino deste ano, na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
Liniker
Em 2015, quando lançou o EP Cru, com a banda os Caramelows, o público brasileiro pôde conhecer o talento de Liniker. O primeiro single, Zero, foi um desses fenômenos que não surgem a toda hora. Com o grupo, lançou os álbuns Remonta e Goela Abaixo, respectivamente em 2016 e 2019.
Com músicas que falam sobre amor e relacionamentos, Liniker e os Caramelows trouxeram o som característico da MPB com elementos do jazz e soul. No entanto, em 2020, a cantora decidiu seguir carreira solo. E, neste ano, ela lançou o primeiro álbum sem o grupo, Indigno Borboleta Anil, que conta com participações de Tássia Reis e Milton Nascimento.
Além de cantora e compositora, Liniker é atriz. Ela estreou como protagonista na série Manhãs de Setembro do Prime Video, que teve a segunda temporada garantida.
Agnes Nunes
Referenciada pela vencedora do BBB 21, Juliete Freire, como uma de suas inspirações, Agnes Nunes chegou para ficar. A jovem é natural de Feira de Santana, na Bahia, mas se mudou para a Paraíba quando ainda era um bebê.
A voz doce de Agnes conquistou nomes importantes da cultura brasileira, como Chico César, Pabllo Vittar, Caetano Veloso, Johnny Hooker, Regina Casé e Lázaro Ramos. Desde 2017, ela grava vídeos para o seu canal do YouTube para compartilhar os seus covers. Agnes tem parcerias com o rapper Xamã, Vê Se Não Demora, e Tiago Iorc, Pode Se Achegar.
Os Gilsons
“Filho de peixe, peixinho é”. Essa expressão pode ser aplicada aos Gilsons. A banda é formada pelo filho e netos do cantor Gilberto Gil. José, Francisco e João se uniram em 2018 e desde então têm conquistado o público.
Em entrevista à Piauí, os meninos revelaram que o nome foi dado pela mãe de Francisco, Preta Gil. “Eles precisavam anunciá-la com algum nome. Eu pensei: vocês três são Gils. O que acham de misturar isso com a palavra ‘som’? Eles odiaram no começo, mas depois o nome pegou. O público gostou e permanece até hoje.”
O maior sucesso do trio é a regravação da música Várias Queixas, do grupo Olodum, que dá o nome do primeiro EP, com cinco músicas.
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