Como o alistamento militar afeta artistas da indústria do K-pop
Na Coreia do Sul, a lei do alistamento existe desde 1957 e demanda que homens, entre 18 e 28 anos, cumpram a obrigação
atualizado
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Kim Seok-Jin, o integrante mais velho do grupo BTS, tem sido o alvo de uma discussão importante sobre o governo coreano. O cantor, que tem 27 anos de idade, está se aproximando da idade máxima exigida pelo governo do país asiático para que os homens se alistem no exército.
Na Coreia do Sul, a lei do alistamento existe desde 1957 e demanda que homens, entre 18 e 28 anos, cumpram a conscrição e sirvam no exército por dois anos. Como a maioria dos idols (artistas musicais vindos de grandes empresas de entretenimento coreanas) atuam durante esta idade, grande parte deles tem de interromper as carreiras para cumprir a determinação.
A lei está presente na constituição coreana, promulgada em 1948. O Ato de Serviço Militar foi criado em 1949 e implementado oito anos depois. A administração é responsabilidade da Administração de Mão de Obra Militar, na ativa desde 1948. Enquanto o tempo da obrigação varia entre os cargos dentro do exército, o tempo mínimo é de 18 meses. Para uma indústria que se move tão rapidamente, com grupos que lançam entre 2 a 5 álbuns por ano, este período é um tempo que pode prejudicar o trabalho desses artistas.
A profissão inerentemente desafiadora
Henry Mak, um ex-idol, ator e cantor chinês que atuou na Coreia, começou as atividades em 2014 no grupo JJCC criado pelo ator Jackie Chan. Em um vídeo no seu canal do YouTube, o artista afirmou que por conta de sua popularidade, o grupo trabalhava entre 17 e 18 horas por dia. O trabalho incluía não somente as performances, mas também entrevistas, “fan meetings” (um tipo de meet & greet) e treinos para as performances. Ele também relata que, mesmo após quebrar o pé, teve de participar de todos os compromissos do grupo e não conseguia ir ao médico consistentemente, causando outros problemas de saúde.
Ele comenta também que, durante os quatro anos ao longo de sua carreira, não conseguiu visitar sua família em Sydney. Henry, em outro vídeo, também decidiu discutir um pouco mais sobre como as carreiras dos idols são conduzidas. O artista separou os mais de 300 grupos de estrelas da Coreia em três categorias: famosos, meio-famosos e não-famosos.
“Os famosos fazem dinheiro, você não precisa se preocupar com eles pois são conhecidos e ricos. Eles têm influência na companhia deles também”, afirmou o cantor. Quanto aos grupos que não estão no mainstream, Henry retrata uma situação diferente: “Os menos conhecidos têm mais liberdade. A companhia não investirá mais dinheiro neles, o que significa que o contrato deles é anulado – são livres para fazer o que quiserem. Podem estudar, podem trabalhar ou se juntar a outro grupo se quiserem”.
O problema está no último grupo: os meio-famosos. Segundo ele, são o pior tipo de grupo de estar. “Essa é a categoria que passa pelo significado completo de contrato escravo”, afirmou o jovem. “Um acordo [válido] por cerca de 10 a 15 anos em média. Eles têm termos como não namorar, dietas, e alguns ainda têm requerimentos de cirurgia plástica”, explicou Mak.
Alistamento militar e exenções
Em média, os idols começam a atuar com 19 anos, após passar algum tempo treinando para se tornarem estrelas. Se estiverem em um contrato de 10 anos, aos 28, precisarão servir o país. “Você sai [do serviço militar] com trinta e poucos anos e você não tem nada: não tem formação da universidade, dinheiro, uma namorada, a garota que você amava com 19 anos provavelmente já é casada com dois filhos…”, devaneia Henry. Segundo ele, a carreira é uma boa experiência contanto que você tenha consciência dos sacrifícios.
Em 1973, o então-presidente Park Chung-Hee introduziu a isenção para atletas. O primeiro a ser beneficiado foi o lutador Yang Jung-mo, após ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas de 1976. Geralmente, esses profissionais do esporte passam por quatro semanas de treinamento militar básico e podem continuar com suas carreiras durante os 34 meses seguintes. Atletas de e-sports não fazem parte da exceção. Entre 2008 e 2018, 220 isenções foram concedidas.
Quanto a artistas, a isenção é apenas concedida a violinistas, pianistas e bailarinos que ganham uma competição clássica. Enquanto isso, astros de K-pop, atores e diretores continuam sendo requeridos a servir no exército. Fãs têm aclamado pela isenção dos idols, usando o BTS como exemplo, que sozinhos conseguiram arrecadar quase US$ 5 bilhões em 2018 para o país.
O primeiro-ministro, Lee Nak-yeon, sugeriu que as leis possam ser expandidas para cobrir artistas como o séptuplo, pedindo para os militares “conceberem uma medida mais razoável para refletir as crescentes demandas do público”. Um legislador da oposição, no entanto, foi mais direto: “Se você ganhar uma competição de música clássica com violino ou piano, a isenção militar é concedida. No entanto, ganhar uma competição de música pop, como [alcançar o primeiro lugar] na Billboard, não te dá nada”. O público permanece dividido, com 48% sendo a favor de aumentar os incentivos enquanto 42% se posicionaram contra.
O Ministério de Defesa Nacional
O Ministério de Defesa Nacional, que administra as forças militares do país, anunciou que “está considerando abolir a lei, mas nada específico tem sido confirmado sobre uma estimativa de tempo”, de acordo com a publicação Korea Times. Os oficiais planejam reduzir o tamanho da força militar de 618.000 para 500.000 pessoas e ainda encurtar o serviço para no máximo 18 meses.
