Choro de Brasília entra na rota do turismo cultural do DF
Além de estar sediando seminário internacional de choro, a capital vai ganhar rota com locais que marcaram o surgimento do gênero no Brasil
atualizado
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Antes mesmo de se tornar a capital do rock, Brasília já construía sua identidade como metrópole do choro. O ritmo, que nasceu no Rio de Janeiro, embalou a mudança para nova capital, onde criou raízes. Mais de seis décadas de construção da cidade — e um ano e meio desde o início da pandemia que castigou os movimentos culturais —, ele segue sendo símbolo de resistência para a cena local e virou até case turístico.
O gênero musical que imortalizou nomes como Valdir Azevedo vai ganhar rota específica na capital. O anúncio foi feito na semana passada, no palco do Projeto Vibrar, pelo maestro e presidente do Clube do Choro, Henrique Filho, o Reco do Bandolim, ao lado da secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, que referendou a parceria na presença de Toquinho.
“A Rota do Choro de Brasília, a exemplo do que acabamos de fazer com o rock, vai proporcionar ao público um acesso fácil aos principais locais dedicados à essa música no DF”, afirmou Mendonça. “Brasília também será a Capital do Choro. Porque aqui na nossa cidade estiveram e estão os maiores nomes desta música brasileira reconhecida mundialmente”, completou.
Ao Metrópoles, Henrique Neto, filho de Reco e diretor artístico da casa, adiantou alguns dos locais que estarão na rota.“O primeiro chorão veio com o Juscelino Kubitschek pro Catetinho, que é um dos locais. Ele trouxe o Dilermando Reis antes da inauguração da capital. O presidente gostava muito de seresta, choro, e o Dilermando era um dos maiores expoentes da época”, explicou o músico.
A rota também inclui os apartamentos da professora Odette Ernest Dias, anfitriã de reuniões inesquecíveis com o núcleo de músicos que assinaria a lista de fundadores do Clube do Choro; a casa de Waldir Azevedo, compositor de Brasileirinho, no Lago Sul; o trecho do Eixinho, que fica na altura 311 Norte, palco do Choro no Eixo, onde um grupo de músicos se reúne para tocar ao ar livre; além, claro, do Clube do Choro e da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabelo. “Busquei elencar pontos da cidade que foram marcantes para o choro desde a chegada do choro”, conta Henrique Neto.
Vive le chorinho!
A Rota do Choro ainda não virou realidade, com a assinatura de um decreto, a exemplo do que aconteceu com a rota do Rock, mas Brasília já tem hóspedes interessados em saber mais sobre a cena local. A Escola Raphael Rabelo está recebendo 10 músicos e estudantes franceses, ligados ao Clube de Paris. Eles cruzaram o Atlântico para ver e ouvir os artistas da cidade, no âmbito do Seminário Euro-Brasileiro de Choro.
Até o final do mês de agosto, o grupo realiza oficinas, rodas de choro e conferências. A ideia, segundo a musicista Maria Inês Guimarães, presidente do clube parisiense, é que eles saiam daqui inspirados pela nova geração de artistas locais. “A gente queria mergulhar na cultura brasileira, dentro do templo que é o Clube do Choro e da Raphael Rabello, que é a mais antiga escola do gênero no mundo”, contou.
Ela afirma que a cidade tem alguns dos artistas mais admirados do circuito do choro. “Nossa intenção é levar pra Europa um repertório novo, com Hamilton de Holanda, Henrique Neto e muitos outros”, completa.
Entusiasmado com a importância do legado que ajudou a construir, o presidente do Clube do Choro, Reco do Bandolim, defende que não há um momento melhor para o choro mostrar seu potencial do que em meio ao atual contexto.
“Fiz uma palestra para os alunos franceses e chegamos a uma reflexão muito interessante. O choro, apesar de ser uma uma criação nacional, começa como uma maneira de tocar o que vinha de fora. Surgiu a partir da construção de várias culturas, e da consolidação brilhante feita por nomes como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Então é uma linguagem de aproximação, entendimento, do não à raiva, à discórdia e à ofensa. Um movimento que a gente está precisando muito enquanto sociedade”
Henrique Filho, o Reco do Bandolim
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Programação
O final de semana tem algumas opções para quem quer curtir o chorinho brasiliense. No domingo (21/8), das 12h às 15h, ocorre o Choro no Eixo, um dos eventos que compõe a Rota do Choro, mencionada na matéria. A atividade, gratuita, ocorre no Eixinho Norte, na altura da 311, convidando o público para estender suas cangas na área verde e curtir o som com distanciamento e segurança.
Na terça-feira (24/8), os músicos do Clube do Choro se unem à delegação de estudantes de Paris para uma roda, a partir das 17h, na área externa da casa.
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