Carne Doce detalha amadurecimento no novo disco, Tônus
Álbum da banda goiana narra intimidades em crônicas sobre término, sexo, conforto e insegurança na vida a dois
atualizado
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Uma das bandas mais comentadas do rock independente brasileiro nos últimos anos, a goiana Carne Doce reúne uma coleção de intimidades em seu novo disco, Tônus. Agora, a sonoridade é mais discreta do que de costume, enquanto a potente voz de Salma Jô pontua as distintas fases da vida a dois: carinho, sexo, término, conforto, insegurança.
O casal Salma e Macloys Aquino (guitarrista) forma o quinteto com João Victor Santana (guitarra e sintetizadores), também produtor, Ricardo Machado (bateria) e Aderson Maia (baixo). Mac, como gosta de ser chamado, acredita que esse disco é “mais silencioso, lento e maduro”. Ainda no começo da nova turnê, ele avisa: o grupo está tentando programar show em Brasília no mês de setembro.
“A experiência de estrada naturalmente nos torna mais hábeis para compor e tocar juntos. Aprendemos, com o tempo, a nos ouvir melhor, a entrar melhor nas músicas, respeitando os espaços de cada um. Significa um som mais apurado e cuidadoso, que acho ser o caso do Tônus”, diz o músico, em entrevista ao Metrópoles.
O sucessor do álbum homônimo de 2014 e de Princesa (2016), trabalho de impactantes letras sobre o universo feminino, consegue equilibrar sonoridade delicada e narrativas francas, pontiagudas. “Hoje eu só quero dar / E não fazer amor”, canta Salma em Amor Distrai (Durin). Na faixa de abertura, Comida Amarga, vem outro verso desnudo: “Já não sou mais gostosa / Você goza triste em mim”.
Salma escreveu todas, exceto Brincadeira. Ela gosta de explorar essa coisa humana da dualidade, potência versus impotência. Ela escreve sobre isso desde nosso primeiro disco, sobre como o poder também pode ser exercido em situações de fragilidade. É nesse sentido que, na intimidade, a Salma não tem amarras para falar tanto de sentimentos nobres quanto de emoções menores
Macloys Aquino, guitarrista da Carne Doce
Se Princesa rendeu pelo menos três hits, Artemísia, Falo e Eu Te Odeio, Tônus, apesar de “mais subjetivo”, segundo Mac, também reúne sua cota de potenciais sucessos. A já citada Amor Distrai (Durin) é um deles. “Tem essa capacidade de fisgar, porque fala de sexo de uma maneira baixa, ao mesmo tempo que os arranjos e intenção da Salma na voz suavizam todos os efeitos dessa vulgaridade”, explica.
O CD também traz à tona uma nova dinâmica de composição para a banda. Em geral, as canções nascem com Salma e Mac. Desta vez, “houve músicas que surgiram em jams, com a participação de todos, o que é um processo mágico”. Fernando Almeida, o Dinho, da banda conterrânea Boogarins, voltou a trabalhar com os amigos em Tônus.
Perguntado sobre a cena goiana, Mac diz, na verdade, sentir falta de uma. “Músicos produzindo em conjunto. Isso não acontece em Goiânia. Mas acontece que o Dinho, quem participou dos nossos três discos, é um compositor inveterado e está a todo instante, onde quer que esteja, compondo, buscando alguém para fazer algo. Essa parceria tem muito mais a ver com a iniciativa dele do que com reflexos de uma cena”, avalia o guitarrista.