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Cantora do DF, ex-The Voice é acusada de torturar criança em Goiás

Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), Nãnan Matos teria agredido e humilhado menina de 8 anos

atualizado

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Thiago Sabino/Estúdio Carbono
Nãnan Matos  – Thiago Sabino – Estúdio Carbono (1)
1 de 1 Nãnan Matos – Thiago Sabino – Estúdio Carbono (1) - Foto: Thiago Sabino/Estúdio Carbono

Em meio ao isolamento imposto pela pandemia do novo coronavírus, o afastamento repentino de uma figura conhecida da cena cultural de Brasília passou despercebida. Nãnan Matos, ex-participante do The Voice, ficou cerca de dois meses, no fim de 2020, sem fazer lives, atualizar as redes sociais e encontrar familiares e amigos próximos.

O motivo só veio à tona agora, após a história circular entre conhecidos de Nãnan e do companheiro dela na época, o músico e produtor cultural Henrique Alvim. O então casal foi preso sob a acusação de torturar uma menina de 8 anos, que estava sob guarda dela, quando ambos dividiam moradia em Alexânia (GO). Os artistas negam as acusações.

O episódio que deu origem ao processo teria ocorrido em outubro de 2020. Segundo informações contidas no inquérito policial, ao qual o Metrópoles teve acesso, a vítima era parente de Nãnan e morava com ela e com Henrique para facilitar os estudos. Na madrugada do dia 26, por volta das 3h da manhã, a menina teria sido socorrida por um vizinho, nua e com frio.

Em oitiva à polícia, a criança alegou que estava sendo agredida e que, naquele dia, teria fugido após ser submetida a uma sessão de agressões físicas e humilhações.

De acordo com o depoimento da menor, a cantora a acordou com três baldes de água fria e, em seguida, sob ameaças e agressões, forçou-a a lavar o banheiro. Nãnan ainda teria se irritado com o fato de a menina ter usado uma esponja nova para fazer o serviço. Como punição, teria ordenado que ela colocasse o item, usado, na boca e permanecesse com ele por alguns minutos.

Após a vítima pegar no sono de novo, Nãnan teria voltado a acordá-la e insistido para que ela a acompanhasse até um córrego próximo, para nadar com os patos. Henrique teria assistido a tudo sem se manifestar. A garota, então, fugiu e pediu ajuda em propriedades vizinhas.

Tanto Nanãn quanto Henrique foram presos na ocasião. O produtor cultural teria tido um embate com os policiais, por não concordar em comparecer à delegacia municipal de Alexânia para prestar esclarecimentos.

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Ela participou do The Voice em 2017
Nãnan e Henrique Alvim estão sendo acusados de agredir e humilhar uma criança de 8 anos
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A cantora e percussionista Nãnan Matos é um dos conhecidos nomes da cena cultural de Brasília

GShow/Divulgação
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Ela participou do The Voice em 2017

TV Globo/Reprodução
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Nãnan e Henrique Alvim estão sendo acusados de agredir e humilhar uma criança de 8 anos

Prisão

Os dois passaram cerca de dois meses atrás das grades. Henrique Alvim teve o habeas corpus concedido no dia 15 de dezembro. A decisão atendeu a pedido da defesa do produtor, sob o argumento de que Henrique não praticou o crime de tortura e, sim, de omissão. O delito é tipificado pela legislação penal e passível de pena de detenção de 1 a 4 anos.

Na decisão que deliberou a soltura do brasiliense, o desembargador Itaney Francisco Campos considerou que a vítima, que teria sido capaz de narrar com detalhes os abusos que sofreu, teria afirmado que Henrique não participava das agressões. Ele ainda destacou que a garota encontrava-se em abrigo, em poder do Estado, de forma que a soltura do homem não representaria perigo à menor.

Nãnan teve o alvará de soltura concedido dois dias depois do então companheiro. Antes, ela passou por dias difíceis na prisão. A artista foi vítima de agressões, ameaças e injúria racial.

Em outro processo citando seu nome, a cantora acusa uma detenta de ter proferido ofensas raciais e de tê-la chamado de “torturadora de crianças”, fato confirmado por testemunhas.

A artista brasiliense, contudo, não compareceu à audiência preliminar do caso, em dezembro do ano passado, o que levou à extinção da punibilidade da acusada. O processo de Nanãn contra a mulher foi arquivado em 20 de abril deste ano.

Outro lado

Procurada pelo Metrópoles, Nãnan Matos negou as acusações. Em nota, a defesa dela argumenta “que Nãnan é uma mulher preta que venceu, e vem vencendo, inúmeras barreiras para fazer de sua arte um instrumento de emancipação para tantas outras que nela se espelham”.

“Infelizmente, dentre as muitas batalhas que já travou, e trava, está a de enfrentar um processo judicial sem justa causa, no qual está envolvida uma criança, que toda a família, com amor, cuidado e dedicação, sempre buscou proteger. Longe, muito longe, de qualquer sombra de crime, o que está nos autos do processo, no qual será provada a inocência de Nãnan, é o retrato de como as estruturas racistas brasileiras conseguem transformar uma mulher preta e pobre em um bode expiatório a ser exibido em um espetáculo público midiático”, diz o texto assinado pelas advogadas Soraia Mendes e Ana Maria Martinez.

A defesa de Henrique também nega os fatos imputados a ele. “Cabe-nos destacar que Henrique Alvim jamais cometeu – ou sequer cometeria, dada sua índole mansa e espiritualista – qualquer ato violento que justifique a ação penal”. “Isso está muito claro na descrição dos fatos feita pelo próprio Ministério Público de Goiás nos autos do processo. É, inclusive, fundado nas mesmas palavras do órgão acusatório que pleiteamos, em sede de habeas corpus, que a denúncia não se sustenta”, escreveu o advogado Oberdan Ferreira da Costa.

Leia, abaixo, a íntegra da nota enviada pelas advogadas de Nanãn: 

Recebemos com surpresa, por meio de repórter do portal de notícias Metrópoles, interpelação para que nos manifestássemos sobre processo judicial SIGILOSO que, supostamente, envolveria a reconhecida artista Nãnan Matos.

Esperamos que a presente nota, em nome da verdade, seja reproduzida na íntegra e com igual destaque.

Nãnan Matos é a terceira de três irmãs, todas criadas com carinho, afeto e cuidados no seio de uma família negra, trabalhadora, reconhecida na cena política de Brasília por seu ativismo na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação. Filha de pai músico e mãe jornalista, Nãnan é uma MULHER PRETA que venceu, e vem vencendo, inúmeras barreiras para fazer de sua arte um instrumento de emancipação para tantas outras que nela se espelham.

Infelizmente, dentre as muitas batalhas que já travou, e trava, está a de enfrentar um processo judicial SEM JUSTA CAUSA, no qual está envolvida uma criança que toda a família com amor, cuidado e dedicação sempre buscou proteger.

Longe, muito longe de qualquer sombra de crime, o que está nos autos do processo, no qual será provada a inocência de Nãnan, é o retrato de como as estruturas racistas brasileiras conseguem transformar uma mulher preta e pobre em um bode expiatório a ser exibido em um espetáculo público midiático.

Lamentamos profundamente que a imagem de uma artista negra como é Nãnan tenha assanhado, em parte da mídia, o desejo de expor uma história que, espalhada aos quatro ventos, somente trará dor e sofrimento a ela, a seu pai e à sua mãe idosos, à família e, principalmente, à CRIANÇA envolvida.

Destacamos, por fim, que toda e qualquer forma de exploração jornalística, baseada em conclusões obtidas em fragmentos do processo, visto que este corre em SIGILO, não será expressão da verdade dos fatos, mas uma colcha de retalhos.

Soraia Mendes e Ana Maria Martinez, advogadas

Nota enviada pela defesa de Henrique Alvim: 

Em atendimento à demanda do site Metrópoles, esclarecemos que corre ação penal na Justiça estadual de Goiás contra nosso cliente, sobre fatos que teriam acontecido nos idos de 2020. O processo tramita em segredo de Justiça e, em respeito à Administração da Justiça, não é lícito entrar em detalhes.

Cabe-nos, porém, destacar que Henrique Alvim jamais cometeu – ou sequer cometeria, dada sua índole mansa e espiritualista – qualquer ato violento que justifique a ação penal. Isso está muito claro na descrição dos fatos feita pelo próprio Ministério Público de Goiás nos autos do processo.

É, inclusive, fundado nas mesmas palavras do órgão acusatório que pleiteamos, em sede de habeas corpus, que a denúncia não se sustenta. Os excessos, policial e acusatório, feriram e encarceraram injustamente o jovem, que somente foi solto dois meses depois, por ordem de habeas corpus do Tribunal de Justiça de Goiás.

Desde sempre, nosso cliente lamenta profundamente toda a situação e mantém sua vida artística com empenho, profissionalismo e seriedade, características atestadas por amigos, familiares e admiradores de sua arte.

Oberdan Costa, advogado de Henrique

Colaborou Mirelle Pinheiro

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