Cadernos inéditos de Renato Russo mostram intimidade do cantor
Metrópoles teve acesso a material que mostra rascunhos de clássicos como Eduardo e Mônica e o início da carreira do líder da Legião Urbana
atualizado
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São Paulo (SP) – Em 1977, ainda estudante do Colégio Marista de Brasília, Renato Manfredini Júnior parecia imaginar a trajetória de sucesso que o levaria a ser conhecido como Renato Russo. O então aspirante a compositor escreveu a história de uma banda imaginária, a 42th St. Band. Que, com algumas mudanças pontuais, lembra a carreira da própria Legião Urbana.
Depois de um ápice, a 42th band começa um caminho rumo ao fim com a saída de um dos principais integrantes – algo que pode ser visto, hoje, como um paralelo à morte de Renato. Todo esse rico material está em cadernos e outros objetos do acervo do líder da Legião Urbana, que passam por processo de recuperação no Museu da Imagem e do Som (MIS), de São Paulo.
À convite de Giuliano Manfredini, o Metrópoles teve acesso ao acervo. Além das aventuras da banda imaginária, nos cadernos estão rascunhos de sucessos reais, como Eduardo e Mônica, Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você), Química e Tempo Perdido. Os registros abarcam o período de 1977 a 1986, passando pelo fim do outrora 2º grau e chegado aos anos da faculdade jornalismo, cursada no UniCEUB.
“O mais importante [desse processo] foi a recuperação deste tesouro que é o acervo do meu pai, que por quase duas décadas, à minha revelia, ficou no fundo de um baú em um pequeno apartamento no Rio de Janeiro em processo de deterioração. [Trata-se], sem exagero, do maior resgate de acervo intelectual e material de um artista da música brasileira”, explica Giuliano.
Folhear os cadernos é, de fato, um passeio pela história da música brasiliense e do rock nacional. Estão lá, os esboços do Aborto Elétrico e a construção do nome Legião Urbana – “We are a legion”, costumava dizer Renato. Em uma das páginas, Renato Russo elabora a seleção de músicas a compor um dos álbuns duplos de sua iniciante banda. O poeta não se poupa de críticas em seus comentários. “Horrible track-list (lista horrível, em português)”, sacramenta.
“O próprio acervo é o ponto de partida para lançamentos de mais livros, gravações de letras inéditas musicadas por artistas da nova geração do rock brasileiro”, antecipa Giuliano, que, atualmente, comanda a Legião Urbana Produções.
Intimidade
O material, que não participou da mostra Renato Russo (2017-2018), tem o poder de revelar detalhes da personalidade do compositor e cantor. O artista, por exemplo, gostava bastante de astrologia e pontuava qual signo do zodíaco tinha regido a composição. Eduardo e Mônica começou a ser produzida sob a influência de Gêmeos.
Em outro olhar, os escritos também refletem as amizades do artista com os colegas da Turma da Colina. Em um dos cadernos, Renato deixou o seguinte lembrete: “Emprestar o baixo pro Dinho, assim que estiver legal”. Detalhe, esse trecho foi feito sob a influência do signo de Peixes.
Outra peculiaridade é que, com exceção das letras de música, Renato Russo escrevia quase sempre em inglês. As entrevistas imaginárias, as críticas e as memórias aparecem sempre em língua estrangeira, assim como comentários mais ácidos sobre professores e colegas.
O cantor e compositor também tinha, por hábito, criar a agendas com seus planos para semana. Em um domingo, por exemplo, o artista programou um domingo com uma ida ao rancho, à igreja e sair para jantar. Além disso, cobrava de si mesmo estudar mais e fumar menos.
Homenagem aos fãs
Para Giuliano, esses verdadeiros achados são formas de devolver aos fãs os anos de admiração com o líder da Legião. “O maior fim é a acessibilidade dos milhões de admiradores, que poderão mergulhar no universo do Renato Russo através de exposições”, conta.
O plano da Legião Urbana Produções é, inclusive, levar as exposições sobre Renato para diversas cidades do país. A exibida no MIS, entre 2017 e 2018, recebeu prêmios da crítica especializada e foi sucesso de público. “Assim que for totalmente concluído [o restauro], os curadores poderão formatar como seriam as próximas mostras e, principalmente, onde elas seriam. A partir daí, teremos a ideia do que venha a ser a itinerância”, explica Giuliano.
Antes da exposição viajar o Brasil, porém, outra parte do legado de Renato Russo chegará ao grande público. Em setembro, está prevista a estreia do filme Eduardo e Mônica, feito pelo cineasta brasiliense René Sampaio.