Cadê os grandes shows internacionais em Brasília? Crise é a explicação
A capital não recebeu e, ao que parece, nem receberá nenhuma atração estrangeira de peso em 2017. Economia, dólar e risco afetam mercado
atualizado
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Rihanna (2011), Beyoncé (2013), Linkin Park (2014), Paul McCartney (2014), The Smashing Pumpkins (2015) e Pearl Jam (2015) são alguns dos grandes artistas estrangeiros que visitaram Brasília de uns tempos para cá. O ano de 2017 já passa da segunda metade e, ao que tudo indica, nenhuma atração desse porte passará pela capital até dezembro. Cadê os shows internacionais em Brasília?
Uma boa medida desse mercado árido para fãs e produtores é a agenda diminuta do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Procurado pelo Metrópoles, o secretário-adjunto de Esporte, Turismo e Lazer, Jaime Recena, líder da pasta que administra o espaço, não quis comentar o assunto.O faraônico espaço não acolhe shows gringos em seu gramado desde a vinda do Guns N’ Roses reformado (com Axl Rose, Slash e Duff McKagan) em novembro de 2016. Ali do lado, em março do mesmo ano, o Ginásio Nilson Nelson abrigou a terceira performance do Iron Maiden na capital.
Produtores opinam: dólar alto, mercado fraco e falta de apoio
Falando no eixo Rio-São Paulo, 2017 tem sido ótimo: Coldplay e U2 abriram até shows extras e nomes como Paul McCartney, Green Day, Arcade Fire, Jack Johnson e The Who excursionarão pelo país. Isso sem falar nas estrelas incorporadas pelos megafestivais Lollapalooza e Rock in Rio.
Quatro produtores musicais da cidade conversaram com o Metrópoles e concordaram que a crise afetou profundamente o mercado de shows na capital entre 2016 e 2017. “Infelizmente, a culpa é do momento econômico. As pessoas estão sem dinheiro”, diz Marcelo Ulpiano, que cuida do Green Move Festival e outras atrações.
O alto risco de bancar atrações no Mané Garrincha, o fluxo turístico inferior ao de outras capitais, o desinteresse de patrocinadores e a falta de apoio (público e privado) também contribuem para a seca de apresentações parrudas. “E o dólar alto. A gente tem insegurança de ele disparar”, diz Carlos Constantino, da Funn Entretenimento.
Nem a sedução de públicos na casa das dezenas de milhares tem servido para equilibrar as apostas. “Não podemos depender somente de bilheteria para viabilizar show de grande porte em um mercado como o nosso, mais retraído que os de São Paulo, Rio ou Porto Alegre”, explica João Felipe Maione (Oh! Artes), responsável pela primeira vez do Pearl Jam na capital, em 2015.
Na falta de estrangeiros, nacionais movimentam Brasília
Em um cenário de negócios internacionais “inviáveis” – a palavra foi citada pelos quatro produtores que falaram com a reportagem –, o jeito é diversificar a agenda com artistas brasileiros. Anitta, Elza Soares e Alok tocaram na cidade duas ou mais vezes.
Arnaldo Antunes, Bibi Ferreira, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Lenine, Ira!, Gal Costa e Nando Reis representam alguns dos astros nacionais que também se apresentaram em Brasília. O inédito Festival CoMA, com Scalene e Emicida na programação, e os já conhecidos Villa Mix e Na Praia ajudaram a arejar esse cenário de pessimismo.
Uma boa estratégia é “flexibilizar os espaços”. “Em vez de uma operação internacional muito cara, conseguimos fazer várias com artistas nacionais”, diz Ulpiano, responsável por shows de Ana Carolina, Nando Reis e Legião Urbana em 2017.
Projeção para o futuro é otimista
Enquanto o Mané Garrincha se ressente das turnês do momento, outras casas movimentam uma espécie de lado B internacional. Em 2017, performances de Evanescence, The Cult, Nile Rodgers, Roger Hodgson, Il Divo, Pet Shop Boys e Zaz mostram que eventos de médio porte atraem o público por fatores como nostalgia, curiosidade e fidelidade a nomes consagrados (ainda que longe da melhor fase).
Para o ano que vem, os produtores projetam a reação do mercado. “A tendência é que tenhamos mais shows internacionais em 2018”, diz Rafael Godoy, da Net Live Brasília, casa que abriga todos os artistas citados acima exceto Il Divo (Centro de Convenções Ulysses Guimarães). “As empresas olham a capital como alternativa até pela renda per capita equiparável a Rio e São Paulo. Por isso, algumas operações se tornam viáveis”.
Nos últimos 15 anos, Brasília passou a entrar com mais frequência na rota dos grandes shows. Recebemos pela primeira (e última vez) Beyoncé, Bob Dylan, Paul McCartney, Rihanna, Linkin Park, Franz Ferdinand, Muse, Pearl Jam, Jack Johnson, Shakira e Black Eyed Peas. O futuro, espera-se, poderá significar uma retomada desses bons tempos.
“Acredito que Brasília capacidade para receber grandes apresentações internacionais. Infelizmente, o momento político e econômico atrapalha. Público, a gente tem”, acredita Maione.