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Brasileiro: Silva explora brasilidade contemporânea em novo disco

No CD, o artista flerta com pop, MPB e bossa nova – sempre numa releitura carregada de identidade

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1 de 1 Silva3 - Foto: Divulgação

Silva faz parte daquele extenso e polissêmico conceito de Nova MPB – uma mistura de experimentalismo com releituras. Na verdade, trata-se de cantores e cantoras jovens em busca de ressignificar o legado deixado por Tom Jobim, João Gilberto, Cartola, Caetano Veloso e tantos outros.

Em Brasileiro, seu novo trabalho, Silva mostra-se mais atento à história do movimento cultural no qual deseja se situar. É uma bossa nova rejuvenescida? Talvez não seja para tanto. Porém, certamente, temos um artista maduro que, além da homenagem à MPB, traz pitadas de sua visão de mundo.

O cantor e compositor abandonou o excesso de sintetizadores. Segue uma linha evolutiva: das regravações de Marisa Monte a um som próprio e com identidade. Silva reflete o momento sociopolítico do país em Nada Será Como Antes. “É melhor me abraçar do que dar tiro/ Minha terra é de paz/ Ninguém pode arrancar esse bem”, provoca o artista.

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Silva traz uma visão nova da brasilidade

 

É a reflexão de um Brasil afundado em violência policial, social e política. “Quando lancei meu primeiro EP [em 2011], eu tinha uma bagagem forte de música gringa. Segui esse caminho, mas aquele universo começou a não dar conta de todos os meus interesses”, aponta Silva.

Em A Cor é Rosa, single mais radiofônico do trabalho, o ouvinte recebe um sambinha moderno, uma história de amor. A faixa é quase como um encontro da MPB tradicional com o movimento romântico que dominou a axé music e o pagode nos anos 1990: um mix de influências tão diverso quanto a identidade do cantor.

 

Linha parecida, com mais notas de pop, aparece em Fica Tudo Bem – uma parceria com Anitta. É interessante notar a estrela do funk se soltar nos ritmos mais tradicionais da indústria fonográfica brasileira, um caminho já trilhado por Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Margareth Menezes.

Um canto de Brasil
Talvez sem o mesmo potencial de “hitar” que as outras faixas, Caju constitui a mais complexa e atraente composição do disco. O artista carrega na ligação com o Brasil, mas com um sentimento de mudança que parece permear boa parte da população jovem. “Eu vou escrever as novas regras, para mudar o rumo desse jogo. Sou nascido e moro nessa terra. Mas, se eu morrer, me deixe morto. Já que sou pedaço desse chão”, canta.

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Brasileiro, de modo geral, reverbera um sentimento nacional: viver a vida cotidiana (marcada por paixões, dores, desejos) em meio a um país em completo turbilhão social e político. Uma nação que massacra negros e LGBTs, mas recusa a pecha de homofóbica e racista. Um Brasil dividido em coxinhas e petralhas e liderado por políticos de talento questionável.

“Tanta implicância
Que só quer se amplificar
Tanta ignorância
Ansiando se mostrar

Nessa concorrência
Eu prefiro me calar
Sei que essa doença
Uma hora sara”

Silva, em Milhões de Vozes

O disco termina com Brasil, Brasil – uma canção quase manifesto de adoração a um país idealizado e desconhecido. “Ouvi dizer que quem mora lá não quer nem viajar”, provoca Silva. Brasileiro é, no meio dessa selva de Nova MPB, um disco agradável, bom de ser apreciado.

Avaliação: Ótimo

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