Autistas protagonizam o musical “Uma Sinfonia Diferente”
No palco estarão 50 autistas, entre adultos e crianças. A apresentação acontece nesta sexta (30/9), às 19h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães
atualizado
Compartilhar notícia
No palco, 50 pessoas, entre adultos e crianças de 2 a 30 anos de idade. Unidos por meio da música, os protagonistas compartilham seus universos singulares, onde eles se vinculam por uma característica em comum: o autismo. “Uma Sinfonia Diferente” é um projeto audacioso que visa ultrapassar as barreiras do estereótipo do autista insociável. Nesta sexta (30/9), às 19h, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães vai hospedar o espetáculo que promete emocionar o público.
Encabeçado pela jovem musicoterapeuta Ana Carolina Steinkopf, o projeto é o primeiro musical do Brasil composto apenas por autistas. Produzido de maneira totalmente independente, o espetáculo surgiu em 2015 quando os sete meses de atividades culminou em uma apresentação protagonizada por 20 autistas, entre 2 e 25 anos, que lotou o auditório da Escola Classe 308. “O local possui 450 lugares, nós vendemos 670 ingressos. Foi muito impressionante”, lembra Ana Carolina.Muitos desafios foram superados para que nesta sexta (30/9), o Centro de Convenções receba o “Uma Sinfonia Diferente”. Além das 20 vagas abertas no ano passado, no início do ano foram disponibilizadas mais 30 vagas. A procura foi tanta que o projeto recebeu 270 inscrições no total. “Foram escolhidas as 30 primeiras, porque não dá pra julgar talentos nesta situação”, explica a idealizadora.
Este ano a segunda edição reúne 50 autistas, entre crianças e adultos. Com o tema “O Meu Olhar”, o espetáculo trabalha a empatia do público e dos protagonistas. Fazem parte do repertório as músicas “Brilha Brilha Estrelinha”, “Gotinha”, do Palavra Cantada, “Se Você Está Feliz”, “Alecrim”, “Amigo Estou Aqui”, “We Will Rock You”, do Queen e “Estrada”, do Cidade Negra. As canções serão cantadas e interpretadas por todos os participantes. “Em algumas músicas todos estarão no palco, outras só um grupo. Na música do Queen são os mais velhos que participam e a maioria não fala, então eles vão utilizar a expressão corporal”, adianta Ana.
Para fugir do estereótipo do autista que não se comunica socialmente, a apresentação expressa o afeto, a capacidade de relacionamento, o desenvolvimento e a interação com a música. Os pais e familiares também estarão em cena. A música “Gotinha” será cantada pela Marina, de 4 anos, e pelo seu irmão autista Caio, de 7 anos. “O ápice será na música ‘Estrada’, quando os pais de todos eles também vão cantar juntos. Vai ser muito emocionante”, promete Ana.
Esforço do bem
O projeto só é possível graças ao trabalho de uma equipe formada por 60 voluntários, entre profissionais e estudantes de psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, medicina e nutrição. “A equipe é fantástica, muito dedicada e preparada. Na faculdade geralmente a gente não tem muito conhecimento prático, então o trabalho voluntário ajuda bastante”, ressalta Ana.
Até chegar à apresentação final foram necessários sete meses de trabalho. Durante cinco meses, as atividades aconteceram em grupos de cinco pessoas, em uma sala de 30m², no Edifício Júlio Adnet (Asa Sul). Nos dois últimos meses, os ensaios foram para o Centro de Convenções. “Tudo é muito difícil quando se trabalha com autistas. Eles têm um tempo diferente, precisamos nos adaptar a eles e o mesmo acontece com eles, que precisam se adaptar ao ambiente e aos companheiros”, explica a musicoterapeuta.
Formada em violino pela Escola de Música de Brasília, Ana Carolina cursou musicoterapia, uma área específica da saúde que utiliza a música e seus elementos no tratamento das pessoas alinhado à psicoterapia. “A gente precisa estudar o histórico sonoro de cada paciente. Todo mundo tem suas preferências musicais e é importante lembrar que a música também pode fazer mal. Alguns ritmos podem dar convulsão, trazer lembranças ruins”, pontua Ana Carolina.
Trabalhar com autistas se tornou, com o tempo, parte fundamental da vida da jovem. “Na minha primeira consulta com uma criança autista depois de formada eu toquei um acorde e o menino virou de costas para mim”, lembra Ana ao falar da frustração inicial. Hoje, aos 25 anos, ela funda o Instituto Steinkopf buscando ser um Centro de Referência em Autismo que promoverá pesquisa, educação e saúde. A ideia do projeto “Uma Sinfonia Diferente” já foi levado à Fortaleza (CE) e a Timóteo (MG) por meio de workshop ministrado por Ana Carolina à instituições especializadas.
Uma Sinfonia Diferente
Nesta sexta (30/9), às 19h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos variam de R$ 20 a R$ 60 à venda na Bilheteria Digital do Pátio Brasil, Liberty Mall e Alameda Shopping e pelo site. Classificação indicativa livre.