Artistas deixam discos de lado e apostam em singles para atender aos fãs
O imediatismo dos consumidores é um dos motivos mais apontados para o sucesso do novo formato de lançar músicas
atualizado
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Anitta, Péricles, Gusttavo Lima e Vitão estão entre os cantores que lançaram singles recentemente. Os grandes nomes da música pop nacional adotam uma tendência que ganhou força com artistas independentes e em começo de carreira. Ao invés de apostar as fichas em um disco completo, com várias faixas, os músicos têm optado por lançar músicas individuais. Mas, o que está por trás desse movimento? O Metrópoles conversou com alguns nomes do mercado para entender a tendência que conquistou a nova geração da MPB.
O setor artístico cultural foi um dos primeiros a ser atingido pela pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. As apresentações e eventos de grande porte ainda estão suspensos no país, e isso afetou a relação dos artistas com o público. O single foi uma maneira vista pela dupla Júlia & Rafaela, de Mato Grosso, para manter se manter conectada com os fãs mesmo durante este turbulento período.
“Como não sabemos como e quando a pandemia irá acabar, resolvemos lançar três músicas. A primeira saiu agora. A ideia é fazer um ‘esquenta’ até o ano que vem, quando pretendemos fazer um DVD com a presença do público”, contou. As duas, que tem mais de 50 milhões de visualizações no canal que mantem no YouTube, são as vozes do sucesso sertanejo Paredes Pintadas, e lançaram há poucos dias o single Cangote, que já está com mais de 280 mil views no YouTube.
Para Carol Marcilio, do duo Carol & Vitória, a tática faz parte do processo de conquista e pode garantir o sucesso do álbum. “Trabalhando uma música por vez, conseguimos mostrar com mais detalhes nossa personalidade artística e ir conquistando aos poucos o consumidor, é quase como um flerte (risos). Acreditamos que os singles vieram para ficar, eles criam um caminho sólido até a chegada do álbum em si”, conta. O novo lançamento da dupla é Pode Parar, já disponível nas plataformas digitais.
O imediatismo dos consumidores, a sede pelo novo e a facilidade de acesso ao conteúdo são fatores que podem ter fomentado ainda mais o sucesso do single. Diante do bombardeio de novidades todos os dias, um álbum poderia não ter a atenção devida e, como acredita o cantor Gabriel Elias, acabar caindo no esquecimento mais rápido que o artista gostaria.
Com mais de 200 milhões de visualizações no Youtube, 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify e mais de 350 milhões de streamings nos apps de música, Gabriel Elias defende que a aposta do single é uma tentativa de valorizar cada canção. “Hoje em dia, a tendência é que as coisas cheguem muito rápido, mas elas também se vão na mesma velocidade. Às vezes, a galera recebe uma canção que tem apenas uma semana e parece que já é antiga poucos dias depois. Talvez pela facilidade de se ouvir várias vezes no repeat”, opina o artista, que lançou, recentemente, Somos Instantes, em parceria com Vitor Kley.
Público ansioso
Dona do timbre marcante da música Pouca Pausa, que tem mais de 93 milhões de views no Youtube, a cantora Clau (foto em destaque) reforça que o single aumenta o reconhecimento ao trabalho do artista. “Normalmente, é trabalhado com clipe, apresentações, divulgação, então tem mais força se comparado com um álbum ou um projeto maior , no qual muitas das músicas acabam ficando de lado. Hoje, o disco é lançado e logo os fãs e o mercado mesmo já estão pedindo novos trabalhos”, explica. O mais recente lançamento da artista é Tudo Que Que Posso Ser.
A ansiedade pelo novo pode ter explicação. Em abril deste ano, o Spotify alcançou a marca de 286 milhões de usuários no Brasil. Destes, 130 milhões usufruem de uma conta premium, como é chamada a modalidade paga da plataforma de streaming de músicas. O serviço
oferece acesso a mais de 30 milhões de músicas. Em meio a tanta variedade disponível, a concorrência ficou maior e a missão de lançar algo que seja marcante também.
“Com a internet, em qualquer lugar a pessoa acessa o YouTube, escuta a música e em 3 minutos acabou. É muito difícil, hoje em dia, eternizar uma canção”, reconheceu a cantora Carol Biazin, que soltou há pouco mais de um mês o single Sempre Que Der, ao lado de Vitão, e já superou a marca de 1,7 milhão de reproduções só no YouTube. Ela também é coautora de Complicado, de Vitão e Anitta.
Assim como os outros artistas, Bia ressaltou a urgência dos consumidores por novas faixas. “Essa tendência de lançamento rápido é muito pela cobrança do público. Ela se intensificou porque os maiores artistas, que usamos de referência, estão lançados singles, então todo o resto vai atrás”, aponta.
Fato é que os artistas que tiveram sucesso com a aposta no single não têm previsão de abandonar a estratégia. Seja para dar um gostinho de quero mais ou satisfazer a necessidade de novidade dos fãs, de acordo com os artistas entrevistados, o single tem sido muito bem aceito.
“Nosso público ama quando lançamos singles. Ainda mais com essa nossa geração fast food, as novidades deixam de ser novidade num espaço de tempo muito menor, então logo eles aparecem com a pergunta ‘amamos! mas quando sai o próximo?’”, brinca Carol Marcilio.