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Rap geek brasileiro transforma animes, HQs e games em rimas fortes

Rappers de diversas regiões do país se uniram no clipe de Akatsuki Gang, com superprodução da gravadora GeekMusik

atualizado

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Akatsuki Gang
1 de 1 Akatsuki Gang - Foto: Divulgação

Não é de hoje que o hip-hop, movimento que nasceu para denunciar mazelas sociais, insere novos elementos às suas letras. Depois de o romantismo e a ostentação conquistarem seu espaço no gênero, chegou a vez do universo dos animes, games e filmes invadirem as rimas de rappers de diversas regiões do país. Chamada de rap geek, a novíssima cena ganhou ainda mais destaque em 2020, graças a alta dos serviços de streaming.

Para aproveitar a boa fase, a gravadora GeekMusik reuniu os principais nomes do segmento, de diversas regiões do país, em um único hit: Akatsuki Gang. O clipe, com participação de Tauz, MHrap, VMZ, Felícia Rock, VG Beats, Sidney Scaccio, TK RAPS, Takeru, Marck e Jag, e lançado em dezembro último, ultrapassou a marca de 1 milhão de visualizações em menos de um mês.

De Diadema, São Paulo, Matheus Halequis lembra que foi apresentado ao hip-hop pelo pai, que o ensinou a rimar aos 9 anos. Mesmo sem muita estrutura, o jovem começou a gravar os primeiros beats e publicá-los nas mídias digitais. “Minha persistência foi fazendo as músicas melhorarem até eu conseguir fazer o rap virar profissão”, conta o rapper.

Aos 23 anos, e reconhecido como MHrap, o músico já ultrapassou nomes como Djonga, Tribo da Periferia e Orochi na lista dos canais de rap nacional com mais views no YouTube, de acordo com ranking divulgado em novembro do ano passado pelo site SocialBlade.

Abusando da sonoridade trap, um dos subgêneros mais populares do rap, os maiores hits de MHrap são Narutin e Hashirama, ambas com mais de 20 milhões de visualizações só no YouTube. O sucesso recebe o apoio de artistas veteranos. “Tenho conversado com vários rappers e todos eles curtem a minha vibe, a forma como eu conduzo a música e faço a parada acontecer. Hoje em dia a aceitação é incrível”, explica.

A garra do Wolverine

Leonardo Nascimento, nome de batismo de TK Raps, 25 anos, é de Eunápolis, na Bahia. O artista ingressou no rap geek aos 18 anos, quando viajou para o Rio de Janeiro para fazer um curso de edição de vídeo. No projeto final, o baiano fez um rap inspirado na história do Wolverine, personagem dos quadrinhos de X-Men.

“Quando apresentei o vídeo completo no meu curso, todos me encorajaram a postar no YouTube, e assim eu fiz. A música tomou proporções que eu não imaginava, e tinham diversos comentários me incentivando a continuar. Resolvi persistir e me aprimorar cada vez mais no mundo da música”, explica TK.

Para TK Raps, no rap geek “raiz” o cantor precisa assumir a identidade do personagem e contar a sua história e os seus feitos através da música. Com essa pegada, somou mais de 31 milhões de acessos em apenas dois, dos seus mais de 120 singles lançados: Rap do Flash e Rap do Deadpool.

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Para TK Raps, alguns artistas do rap tradicional ainda têm preconceito com o novo estilo. "Às vezes por não conhecerem, ou por não gostarem de nada ligado ao universo geek", acredita
Rap da Merlin, Senpai, Chuva de kunai e Amor Complicado (ambos parceria com MHrap), Garota Uchiha, Rap do Boku no Hero e Meu Jeito Yandere são alguns dos sucessos com milhões de reproduções de Felícia Rock
Sidney Scaccio já trabalhou com os principais nomes do gênero, como Tauz e 7 Minutoz — precursores do segmento no Brasil
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Até novembro de 2020, MHrap somou 47 milhões de views em seu canal no YouTube

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Para TK Raps, alguns artistas do rap tradicional ainda têm preconceito com o novo estilo. "Às vezes por não conhecerem, ou por não gostarem de nada ligado ao universo geek", acredita

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Rap da Merlin, Senpai, Chuva de kunai e Amor Complicado (ambos parceria com MHrap), Garota Uchiha, Rap do Boku no Hero e Meu Jeito Yandere são alguns dos sucessos com milhões de reproduções de Felícia Rock

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Sidney Scaccio já trabalhou com os principais nomes do gênero, como Tauz e 7 Minutoz — precursores do segmento no Brasil

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Heroína do rap

Yasmin Felícia, de 26 anos, nasceu em Recife (PE), e conta que desde a infância sempre teve um interesse especial por tudo que as pessoas consideram “coisa de nerd”. A decisão de unir as duas paixões, a música e a cultura geek, foi inevitável.

“Em 2015, passei a lançar covers das aberturas de Pokémon, Digimon e Cavaleiros do Zodíaco no YouTube. Eu já conhecia o rap geek do Tauz e do 7 minutos nessa época, mas só em 2017 tomei a iniciativa de criar meus próprios sons”, recorda a artista, que hoje atende por Felícia Rock.

Segundo Felícia Rock, o rap geek também pode abordar temas relevantes como o estilo tradicional. Dentro da ficção tem muitos dilemas que casam com a realidade. Você pode pegar um personagem que sofre algum preconceito, como o Naruto, e transformar essa vivência dele num som que as pessoas se identifique. É muito sobre trazer abstrações dessas obras para a vida real”, considera Felícia Rock.

Atualmente, Felícia Rock tem mais de 100 canções autorais, fora as colaborações com outros artistas, em seu canal no YouTube. O principal hit é o Rap da Psicopatia, inspirado nos personagens Yuno Gasai e Ayanokoji, em parceria com o noivo, o rapper geek Takeru.

Diversidade

Sidney Scaccio, 22 anos, é produtor musical da cena geek desde os 19. Desde então, já trabalhou com os principais nomes do gênero, como Tauz e 7 Minutoz — precursores do segmento no Brasil. “Eles causaram grande impacto e as batalhas de personagens como Duelo de Titãs”, afirma.

De acordo com o produtor musical, a cena geek tem uma grandiosidade de sons e estilos. “Vai do TK Raps com flow mais agressivo e cheio de técnica nos vocais até o VMZ, com uma pegada mais kawai e romântica, que também atrai um público feminino muito grande”, ressalta.

O produtor ressalta que as plataformas de streaming e redes sociais têm sido grandes aliadas desses artistas que, em geral, trabalham de forma independente. “Nossa cultura é muito rica e abrangente, e essas mídias ajudam a propagar a nossa mensagem”, conclui.

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