Álibi, de Maria Bethânia: há 40 anos, disco deu vigor feminino à MPB
Álbum clássico da diva rompeu barreira de 1 milhão de cópias vendidas, dando nova identidade à nossa música
atualizado
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Na próxima quarta-feira (30/5), a diva maior da MPB, Maria Bethânia, desembarca em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, para apresentar junto com Zeca Pagodinho o show De Santo Amaro a Xérem. Trata-se de encontro inédito no qual essas duas estrelas da nossa música dividem o palco para revisitar trabalhos marcantes da carreira, assim como clássicos do nosso cancioneiro. Um deles, a antológica Ronda.
Escrita em 1951 pelo compositor Paulo Vanzolini – um dos ícones do samba paulista –, a canção é um dos pontos altos do inesquecível disco de 1978 da artista, Álibi. Então um nome já consagrado na MPB, Maria Bethânia se tornaria, com o álbum, a segunda cantora nacional a ultrapassar a barreira de 1 milhão de cópias vendidas. Um feito que só o rei Roberto Carlos conseguia, ano a ano, com uma das mãos nas costas.
Até então, só a radiante Clara Nunes havia conseguido tal feito. Foi em 1975, com o álbum Claridade, ultrapassando a marca de 1,1 milhão de discos vendidos, um recorde que ela mesma quebraria no ano seguinte, ao vender mais de 1,2 milhão de bolachões de Canto das Três Raças. Com Álibi, Maria Bethânia deu personalidade feminina à música brasileira da época, derrubando o estigma de cantora elitista da MPB, com todas as faixas estourando nas rádios.
Outro sucesso do disco Álibi que será destaque na apresentação da cantora em Brasília é Sonho Meu. A composição da grande dama do samba, Dona Ivone Lara, falecida no mês passado, fez o cantor britânico David Byrne cair de amores pelo Brasil durante sua passagem pelo país, nos anos 1980. Escrita em parceria com Délcio Carvalho, a faixa ganhou versão hipnótica no dueto de Maria Bethânia e Gal Costa.
Sintonia com a abertura
Com título roubado de canção homônima de Djavan, o disco Álibi não poderia ter estreia mais impactante. Foi em novembro de 1978, no programa dominical Fantástico, da TV Globo, cantando Cálice depois de cinco anos da proibição pelo regime militar. Escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil, a música teve interpretação na voz personalíssima da cantora. O momento surgiu em sintonia com a abertura política após o fim do AI-5.
De Chico Buarque Bethânia gravaria ainda De Todas As Maneiras e O Meu Amor, canção pinçada do musical A Ópera do Malandro (1977) e registrada em parceria com a eterna marrom, Alcione.
Disputado quase que a tapa pelas grandes vozes femininas da época, de Gal Costa a Simone, o compositor Gonzaguinha ganharia projeção nacional com a interpretação de Bethânia para a sua demolidora Explode Coração. É um dos grandes sucessos da cantora. Arrebata o público em suas apresentações. Escalada na trilha da novela Pai Herói (1979), de Janete Clair, como tema da personagem Carina (Elizabeth Savalla), a música alavancou as vendas do disco.
“Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder / O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar / Já que o brilho desse olhar foi traidor / E entregou o que você tentou conter / O que você não quis desabafar”, escreveu Gonzaguinha, dissecando o universo feminino em sua narrativa densa e marcada por rupturas.
Como não poderia deixar de ser, Maria Bethânia volta e meia encaixa uma ou outra canção do irmão Caetano Veloso em seus trabalhos. Além da dobradinha com o poeta anárquico Waly Salomão em A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa, Caê brinda a irmã com a faixa de abertura, Diamante Verdadeiro, que já fazia parte do repertório da conterrânea Gal Costa. Embalada pelo violão intimista de Rosinha de Valença, a diva soa dramática e moderna neste registro.
Com produção do baiano Perinho Albuquerque – um dos guitarristas de Raulzito e os Panteras, a primeira banda de Raul Seixas – e Bethânia, Álibi destoa na carreira da artista não por ser uma obra revolucionária no aspecto técnico ou conceitual. Mas teve importância simbólica na trajetória da artista a reboque de belas canções que até hoje mexem com o público.