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Ainda Estou Vivo: Phil Collins escancara mágoas em autobiografia

Em livro venenoso e sincero, o eterno baterista do Genesis faz mea culpa por ser infiel e conta histórias do mundo da música

atualizado

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Gustavo Caballero/Getty Images
The Little Dreams Foundation Benefit Gala: Dreaming on the Beach
1 de 1 The Little Dreams Foundation Benefit Gala: Dreaming on the Beach - Foto: Gustavo Caballero/Getty Images

Em 1977, o Genesis lotou o Maracanãzinho com 150 mil pessoas em sua primeira excursão pela América do Sul. Para que ninguém fosse sequestrado por guerrilheiros ou bandidos, cada um dos integrantes da banda andava, para cima e para baixo, com um guarda-costas particular armado até os dentes. Mas nada de grave aconteceu além de quase serem esmagados por um caminhão numa via expressa do Rio e tocarem com músicos locais pelos bares da cidade.

“Desfrutamos de extravagâncias da gravadora perto de favelas dominadas pela pobreza. Enfim, flertamos com o vodu. Toda a viagem é interessante e assustadora”, conta Phil Collins na autobiografia Ainda Estou Vivo, que acaba de sair no Brasil pelo selo Best Seller, um dos braços da editora Record. Na época, quando voltou para casa, o artista levou debaixo dos braços instrumentos de percussão tradicionais do Brasil, como um surdo e… uma piranha empalhada.

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Genesis durante a passagem pelo Brasil
Led Zeppelin com Phil Collins na bateria em show no Live Aid
Lendário cantor e baterirista, Phil Collins se despediu dos palcos
Phil Collins e Paul McCartney
Capa de Ainda Estou Vivo
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Formação clássica da banda Genesis

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Genesis durante a passagem pelo Brasil

Estadão/Solano José de Souza e Antonio Lucio
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Led Zeppelin com Phil Collins na bateria em show no Live Aid

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Lendário cantor e baterirista, Phil Collins se despediu dos palcos

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Phil Collins e Paul McCartney

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Capa de Ainda Estou Vivo

Best Seller/Divulgação

 

É assim, irreverente e sem papa na língua, que Collins revisita num texto impecável momentos hilários e tensos vividos ao longo de quase 40 anos de carreira. Mas entre o bom humor e a ironia, há espaço para acertos de contas e bastante mágoa. Ele foi atração pelo país no último mês de fevereiro quando se apresentou pela primeira vez em turnê solo, mas não sentado atrás da bateria, instrumento que o consagrou como artista, mas numa simples cadeira.

“Este livro é a minha verdade sobre tudo. As coisas que aconteceram, as coisas que não aconteceram. Não há um placar fechado, mas alguns erros que serão corrigidos”, garante o músico britânico no prefácio da obra, disposto até dar a cara à tapa.

A amargura é fruto de um ego mastodôntico carente de atenção. Falta da atenção do pai que renegou sua carreira de músico, enquanto ele tinha tudo para brilhar como ator. Frustração por ter sido cortado na edição final de A Hard Day’s Night, dos Beatles, quando era ator-mirim. Revolta pelo “descaso” de George Harrison, que nem deu pelota direito para o “carinha” que tocava congas em Art Of Dying, faixa do clássico All Things Must Pass (1970).

“Fantástico! Um Beatle arruinou minha vida e nem mesmo se lembra do que sucedeu. Se eu já estava me sentindo mal, imagine…”, escreve, ele, um beatlemaníaco rancoroso em capítulo inteiro dedicado ao assunto, ao perguntar a Harrison, anos mais tarde, se recordava dele durante as gravações. “Não me lembro disso, mas aparentemente Phil Collins, ainda jovem, participou…”, escreveu o ex-Beatles no encarte da edição comemorativa do álbum, em 2001.

Do rock progressivo ao pop
Não há dúvida de que a melhor parte de Ainda Estou Vivo é a relacionado à banda de rock progressivo fundada no final dos anos 60 por Peter Gabriel e mais dois amigos de escola, o tecladista Tony Banks e o guitarrista Mike Rutherford. Collins – que, para sobreviver, por um tempo trocou as baquetas por pincel de pintar parede e quase fez parte do Yes –, entrou para o Genesis durante os shows de divulgação do segundo álbum do grupo, Trespass (1970).

“Finalmente estamos prontos para gravar meu primeiro álbum com a banda, o que significa que é hora desse ‘novo garoto’ se tornar um membro puro-sangue do Genesis”, narra Collins, lembrando seu debute no disco Nursery Cryme, de 1971. E, já na sua estreia com os novos amigos, assume os vocais no pop pastoral For Absent Friends. A dose seria repetida em More For Me, do elogiado Selling England By the Pound (1973).

Contudo, mesmo pegando o bonde andando, o baterista, que não tinha nada a ver com o estilo esnobe do trio, se impôs pelo talento e carisma natural, conquistando, mesmo a contragosto, a liderança do grupo que foi do rock progressivo ao pop. Isso aconteceu em 1975, com a saída de Peter Gabriel após as desgastantes gravações do clássico The Lamb Lies Down on Broadway (1974). A ideia de assumir o microfone foi sugestão da primeira mulher.

“Me recuso a ir lá para a frente balançar a bunda. Tem um manto protetor entre mim e a plateia: minha bateria. E é assim que eu quero ficar”, foi a resposta de Phil à esposa. “Esse momento foi um divisor de águas para mim. Lembrando: eu ainda não queria assumir a frente do grupo e cantar. Ainda assim…”, tira sarro.

Outro momento mágico do livro são as peripécias profissionais narradas por Collins, um workaholic de primeira ordem, no auge de sua carreira, nos anos 80, quando estava no topo do mundo e era solicitado por todos para qualquer coisa. Desde uma palhinha nas baquetas em qualquer show da hora, passando pelas produções de disco de estrelas como Eric Clapton, atuações em filmes, a apresentações em megaeventos como o Live Aid, realizado em 1985.

“Eu preciso de um baterista famoso. Você foi o único em quem conseguir pensar”, convidou um desesperado Bob Geldof, idealizador do projeto, revelando o tamanho do prestígio do artista na época. “Se você se lembra dos anos 1980, peço desculpas por mim e pelo Live Aid”, diz, Collins, se referindo ao surto de “exibicionismo” que o fez participar da festa dos dois lados do Atlântico, se encrencando com a turma do Led Zeppelin e pagando mico com Sting.

Aliás, o ponto de partida desta fase seria o lançamento, em 1979, de seu primeiro disco solo, Face Value, obra que influenciaria de forma visceral a guinada do Genesis rumo a estilo mais comercial iniciado em 1980, com o ótimo trabalho Duke (1980). O auge desta nova etapa seria o álbum Invisible Touch (1986), com mais de 15 milhões de cópias vendidas.

Amparado por sinceridade venenosa e falsa modéstia, Collins, numa narrativa divertida, contagiante e espirituosa que o alçaria, tranquilo, à condição de ótimo roteirista de comédia, vai colocando, entre um capítulo e outro, os pingos nos is de uma vida marcada por erros e acertos. Impressionante e até cínico, por exemplo, a crueza com que expõe sua condição de marido infiel e pai egoísta.

“O que eu fiz? Traí minha esposa e minha filha. Novamente. Minha vida amorosa é um caldeirão de contradições da qual não sou nada orgulhoso”, arrepende-se.

No mínimo corajoso ou suicida. Enfim, um kamikaze de si mesmo e, mesmo assim, Phil Collins ainda está vivo.

Phil Collins – Ainda Estou Vivo. Editora Best Seller, 410 páginas, R$ 54,90

Alfinetadas espirituosas e ferinas de Phil Collins

A soberba beatle de Paul McCartney
“Gosto de McCartney – ele foi um herói da minha adolescência –, mas tem uns probleminhas excêntricos. Quando você está falando com ele, ele deixa claro que você está falando com um Beatle, e que deve ser muito difícil falar com um Beatle.”

Em maus lençóis com o Led Zeppelin no Live Aid
“Hunter (Alan, da MTV) começa a fazer as perguntas, e logo fica evidente que ninguém o está levando muito a sério. Robert e Jimmy não facilitam nada, dando respostas vagas e arrogantes a perguntas objetivas; John Paul Jones ainda está tão silencioso quanto um rato de igreja.”

Recebendo troco errado de Keith Moon
“Quando não está nas baquetas do Who, Moonie parece gostar de brincar de barman no La Chasse. Pago uma rodada para todo mundo com ele numa noite, e ele me devolve mais dinheiro do que eu tinha entregado. Outra razão para amá-lo.”

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