Adiamento do curso de verão polariza opiniões entre direção da Escola de Música e Secretaria de Educação
Diretor da EMB, Ayrton Pisco, acredita que seria possível, sim, realizar o evento em janeiro. O secretário Júlio Gregório defende que o adiamento favorecerá a essência pedagógica do curso
atualizado
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Há 37 anos, a cada mês de janeiro, a vida cultural de Brasília é movimentada pela realização do Curso de Verão da Escola de Música de Brasília. O evento consiste em um conjunto de oficinas e workshops, ministrados por músicos e professores convidados ou da própria EMB, e abertos a alunos da instituição ou não. De quebra, o público em geral é contemplado com uma série de bons shows e concertos, gratuitos e protagonizados por instrumentistas de primeira linha.
Este ano, porém, o janeiro da Escola de Música não está igual àqueles que passaram. Devido à greve dos professores da rede pública de ensino, que atrasou o calendário letivo, a Secretaria de Educação, Esporte e Lazer tomou a decisão de adiar o evento para agosto.
Nem todo mundo, porém, recebeu de bom grado essa quebra na tradição da agenda. A começar pelo diretor da EMB, Ayrton Pisco. “(Em agosto) perde toda a dinâmica do curso”, diz ele. “É um evento pedagógico. Não dá para ser no meio do ano. Não é um festival de jazz, cinema ou colônia de férias. Faz parte do nosso calendário”, critica Pisco.
Segundo o diretor da instituição, seria perfeitamente possível realizar o curso entre os meses de janeiro e fevereiro. “Daria, claro. Ao menos no que diz respeito à escola”, afirma.
Essência pedagógica
“Daria, sim, mas apenas com o diretor e os professores que são mais próximos a ele. Diminuiria o evento, como ocorreu no ano passado, o que foi motivo de críticas do corpo docente da escola”, retruca o secretário de Educação, Júlio Gregório. Para ele, a realização em agosto permitirá manter a verdadeira essência do curso de verão.
Para Gregório, a tradição de ocorrer sempre em janeiro, evidentemente, é um elemento considerado, mas o importante é manter as características pedagógicas das aulas. Ele defende que a oferta tem que ser construída em conjunto por todos os professores e a direção. “Não adianta fazer só por fazer, como em outros anos, que o curso não deixou nem um parafuso torto para a escola”, critica.
Outro detalhe que, para Pisco, desfavorece a escolha do mês de agosto é a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro (5 a 21/8). Já o secretário de Educação pensa o contrário. Júlio Gregório lembra que Brasília sediará partidas de futebol olímpico. O fluxo de visitantes na cidade permitirá que os artistas façam concertos e shows integrados a um evento de proporções globais, “onde possam mostrar sua excelência”.
Cada um com seu problema
A diferença de opiniões entre o diretor da EMB e a Secretaria de Educação, porém, não chega a ser novidade. As más condições estruturais da escola são motivo de frequentes queixas de Ayrton Pisco, que lida com problemas como falta de manutenção nos instrumentos, iluminação ruim, entulho e móveis em péssimas condições de uso. Em relação ao orçamento para 2016, o diretor diz que “está esperando, aguardando e rezando”.
“Ano passado, recebi R$ 25 mil. Desse total, usamos R$ 5 mil para pagar o contador. O resto do dinheiro era para comprar lâmpadas, fechaduras, papel, aparador, pincel, tudo isso. Não dá nem R$ 2 mil por mês”, diz.
“Se você visitar a EMB e o Elefante Branco vai concluir que é melhor deixar a EMB funcionando e fechar o Elefante Branco”, compara Júlio Gregório. O secretário afirma que por causa da visibilidade da Escola de Música as suas dificuldades aparecem mais. “Só que ela não é a única. Há um elevado número de escolas públicas na mesma situação. No momento, não há disponibilidade financeira para sanar todos os problemas”, resume.
O dinheiro para o 38º Curso de Verão, porém, está garantido, ainda que minguado em relação a edições passadas. Em 2015, o curso começou em 14 de janeiro e tinha orçamento de R$ 2,7 milhões, enquanto em 2014 a verba foi de R$ 12 milhões. Para este ano, a secretaria terá R$ 1,6 milhão. Desse total, R$ 900 mil serão destinados a aquisições de instrumentos para o patrimônio da escola e R$ 700 mil, para bancar os professores convidados.