A militância cheia de flow de Drik Barbosa, o tsunami do rap nacional
Paulistana agora integra a produtora Laboratório Fantasma, dos irmãos Emicida e Evandro Fioti, pela qual acaba de lançar o EP Espelhos
atualizado
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A beleza das águas calmas e a força de destruição de um tsunami. É assim que os irmãos Emicida e Evandro Fioti – responsáveis pela produtora Laboratório Fantasma – definem a personalidade da rapper Drik Barbosa. A paulistana, integrante do grupo Rimas & Melodias, acaba de lançar pelo selo independente o EP Espelhos, seu trabalho de estreia, disponível em todas as plataformas digitais.
A cantora, de apenas 25 anos, confirma essa percepção durante entrevista ao Metrópoles. O posicionamento imperativo nas apresentações da MC deu lugar à voz doce e tranquila usada no dia a dia. “Eu me transformo quando estou no palco. É importante as pessoas sentirem a realidade das letras e entenderem as minhas mensagens”, explica.A primogênita de Dalvanise Barbosa e Edinildo Batista começou a compor aos 15 anos, inspirada por nomes como a norte-americana Laurin Hill. “Escrever sempre foi a minha maneira de expressar o que estava sentindo. Eu colocava para tocar R&B e compunha em cima das batidas”, relembra. Mas com o tempo, a jovem nascida e criada na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, passou a acrescentar peso nas rimas.
Já na sua primeira aparição nacional, em participação na faixa Mandume (2016), de Emicida, Drik chamava a atenção ao citar a morte de Cláudia Silva Ferreira – moradora do Morro da Congonha, no Rio de Janeiro, que teve o corpo arrastado por uma viatura da Polícia Militar, em 2014. “Sistema faia, gasta, arrasta Cláudia, que não é Raia”, provoca a MC, em clara comparação aos tratamentos dados pelo Estado às mulheres negras e faveladas.
É assim, como uma resposta da natureza ao machismo e racismo do qual tantas mulheres são vítimas, que Drik vem conquistando seu espaço na cena hip-hop do país. “Não é fácil. Há apenas dois anos, larguei um trabalho fixo para me dedicar ao rap”, lembra. Além das dificuldades naturais impostas aos artistas, a cantora também precisou lutar contra o sexismo inerente ao segmento. “São olhares, comentários… Onde tem muito homem, a gente sempre vai sentir medo. Foi preciso coragem”, aponta.
Apesar disso, a rapper faz questão de ressaltar a necessidade de não se poder estereotipar todo o movimento cultural por conta de alguns. “O hip-hop, em si, não é machista. Preconceitos têm em todos os lugares”, considera. De acordo com ela, o ritmo sofre mais críticas por pregar uma ideologia de igualdade seja racial, social ou de gênero. “São pessoas em seus processos de amadurecimento”, completa.
Empoderamento feminino
Segundo Drik, o seu próprio amadurecimento nas questões feministas não aconteceu do dia para a noite. “Eu fazia relaxamento no cabelo, pois usam muito a estética para nos atingir. Demorou para me reconhecer e afirmar minha identidade. Foi um processo ocorrido por volta dos meus 20 anos”, rememora a rapper, que tem na mãe o maior exemplo de empoderamento. “Ela sempre me ensinou a ser guerreira, independente e ir atrás das minhas coisas sem esperar por ninguém. Além disso a filosofia do hip-hop me ajudou muito”, pondera.
Para a paulistana, a maior missão da sua arte é ter a possibilidade de empoderar e inspirar outras mulheres, assim como ela mesma foi influenciada por nomes como a atriz Thais Araújo e a parceira do Rimas & Melodias, Stefanie. “Lembro de assistir novela e de ver a Thais e enfim me reconhecer em alguém na TV. Já a Stefanie foi minha primeira referência como MC. Há 10 anos, ela já era protagonista, batalhando de igual a igual com os homens”, coloca.
Nova fase
O EP Espelhos tem cinco faixas, entre elas, as duas únicas canções que já ganharam videoclipe, Inconsequente e Melanina – em parceria com Rincon Sapiência. O projeto propõe um mergulho na alma da compositora. “Eu queria fazer esse primeiro trabalho bem íntimo, enfrentar a mim e aos meus sentimentos de frente. Me olhar nesse espelho e, de alguma maneira, incentivar mulheres a fazerem o mesmo”, observa.
O futuro da artista também já está bem traçado. Ela acaba de ser aprovada no edital do Natura Musical, pelo qual lançará um disco em janeiro de 2019. Assim como tantos jovens das periferias do Brasil a fora, o sucesso artístico representa uma mudança de vida não só para ela. E os sonhos de Drik vão ainda mais longe. “Eu quero fazer o máximo possível para minha música inspirar ainda mais pessoas”, conclui.