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30 anos de “The Joshua Tree”: o disco que mudou a carreira do U2

A produção é tema da turnê atual da banda que passará por São Paulo

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U2 Performs At BC Place
1 de 1 U2 Performs At BC Place - Foto: Andrew Chin/Getty Images

Em outubro deste ano, os irlandeses do U2 desembarcam no Brasil após hiato de seis anos. Trazem na bagagem, a celebração em torno do disco mais importante e marcante da banda, “The Joshua Tree” (1987), que no último mês de março completou 30 anos de estrada. Trata-se da turnê comemorativa em torno do álbum, iniciada em Vancouver (Canadá) no dia 12 de maio.

Icônico, o álbum produzido pela dupla Daniel Lanois e Brian Eno é o que o clichê permite chamar de divisor de águas na trajetória do grupo. Foi mesmo, o transformaram em reis do rock. Mas essa escalada rumo ao topo do estrelato e do sucesso não foi fácil. Como lembra o discreto baterista Larry Mullen Jr.

“Éramos terríveis, a pior banda que você pode imaginar”, reavalia o artista, responsável por formar o grupo em 1976, em Mount Temple, escola secundária da capital Dublin. “No começo, aprecíamos uma gangue e sabíamos como ela trabalharia”, lembra.

Quando entraram no estúdio para as primeiras gravações dessa pérola do rock, os meninos de Dublin ainda surfavam nas ondas do sucesso do trabalho anterior: “The Unforgettable Fire” (1984), aquele do mega hit, “Pride (In The Name Of Love)”, homenagem ao líder ativista negro Martin Luther King. Contudo, buscavam novos e amplos horizontes sonoros. A fonte de inspiração esbarrava em vários encontros e coincidências referenciais relevantes.

Entre elas, certa obsessão da banda, na época, pela América — flerte nascido, durante périplo de vários meses pelos EUA em turnê no início dos anos 1980. Tinha também, claro, o interesse do grupo em atingir o tão rentável e sonhado mercado fonográfico norte-americano. Um hit de sucesso ali seria comparado à chegada do homem à Lua. O que eles conseguiram com o 2º single do álbum, a bíblica “I Still Haven´t Found What I’m Looking For”.

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Eles estão em São Paulo para o encerramento da turnê Joshua Tree 2017
Ao redor do mundo, 2,4 milhões de pessoas já presenciaram o espetáculo visual e sonoro da banda
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Foi isso que um grupo seleto de fãs pôde ver na última sexta-feira (1º/12)

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Eles estão em São Paulo para o encerramento da turnê Joshua Tree 2017

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Ao redor do mundo, 2,4 milhões de pessoas já presenciaram o espetáculo visual e sonoro da banda

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O músico não tolera o discurso de ódio neo-fascista

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Bono Vox sempre usou sua popularidade para tratar de temas políticos

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De Bob Dylan a Norman Mailer
“The Joshua Tree” surge como essa fábula sobre quatro imigrantes irlandeses desbravando as estranhezas de um “novo mundo” do outro lado do Atlântico. Essa relação de repulsa e amor da banda pela terra do cinema e das oportunidades seria construída por meio de impressões boas ou não, como a política, a economia opressiva, a violência racial, os ideias de liberdade, a rica cultura. Tanto que o álbum quase se chamou: “The Two Americas”.

Muitas leituras e mergulho visceral na música de raiz norte-americana contribuíram para a realizaçãode um dos mais influentes discos dos anos 1980. Entre os autores de cabeceira de Bono Vox, estava o marrento baixinho Norman Mailer (1923–2007), jornalista e escritor norte-americano tido como uma das incômodas consciências críticas de seu país. Os heróis da contracultura, os beatnik, também.

O blues de Robert Johnson e Cia. seria assimilado com mais paixão pela banda após Bono sentir-se envergonhado diante de Mick Jagger e Keith Richards, num encontro em 1985, ao demonstrar pouca intimidade com o gênero. Com os bardos, Bob Dylan e o conterrâneo Van Morrison, o U2 daria um mergulho nas raízes sonoras da América e da Irlanda. O que correspondia a muita música folk e celta.

A ressonância dessa experiência sui generis resultaria num som mais pulsante, tocante, talvez até transcendente, embelezado por imagens espirituais e políticas das letras de Bono. “Where The Street Have No Name”, “With Or Without You” e a épica, “I Still…” são exemplos bem emblemáticos… “É um grande disco, tenho muito orgulho dele”, admitiria, anos depois, o guitarrista “The Edge”.

The Desert Songs…
Outro nome cogitado para “The Joshua Tree”, a partir desta aventura “mítica e real” pela América de Bono e Cia, era The Desert Songs. Isso porque a paisagem árida americana seria incorporada ao universo do álbum. A ideia motivou o fotógrafo Anton Corbijn (diretor de clipes e de filmes como “Control”, sobre o líder do Joy Division, Ian Curtis) e o designer Steve Averill a procurar cenários nos EUA para desenvolver e criar o conceito estético e visual do álbum.

A história todo mundo conhece. No Parque Nacional de Joshua Tree, Califórnia, a banda bateu o martelo quanto ao nome do disco depois que Bono, um homem de fé, gostou do clique feito por Corbijn de uma das famosas “árvores de Josué”. A inesquecível imagem da capa foi registrada no famoso Parque Nacional do Vale da Morte, localizado também na Flórida, onde o mestre Michelangelo Antonioni gravaria algumas das cenas do clássico, “Zabriskie Point”.

Enfim, lançado, “The Joshua Tree” foi um estrondoso sucesso de público e crítica, vendendo mais de 25 milhões de cópias. Vencedor de dois prêmios Grammy em 1988, entre eles o de Álbum do Ano, rendeu à banda uma inédita capa na prestigiada revista “Time” com a flamejante manchete: “Rocks Hottest Ticket”. O baixista Adam Clayton comentou, com certa ironia blasé, o êxtase desta conquista. “É bom sair na capa da ‘Time’ aos 25 anos”, disse.

Passados 30 nos de seu lançamento, “The Joshua Tree” acirrou, na essência, alguns dos ingredientes que marcariam o estilo e o discurso contundente da banda até os dias de hoje, que é o equilíbrio entre religião, política e, claro, rock ‘n’ roll. Muito do que foi dito, pensado e sentido na realização do álbum, ainda soa, para o bem ou para mal, atual. Foi o que o líder da banda, Bono Vox, deixou escapar, ao falar, recentemente, dos 30 anos do trabalho.

Um monte de emoções com sentimentos estranhamente atuais, amor, perda, sonhos despedaçados, busca do esquecimento, polarização, todas essas coisas

Bono Vox

Vamos ver? A gospel “I Still Haven´t Found What I’m Looking For” parece um lamento de dúvida de Bono quanto sua busca espiritual num deserto de incertezas. “Eu falei com a língua dos anjos/Eu segurei a mão do diabo/Estava quente à noite/Eu estava frio como uma pedra/Ainda não encontrei o que estou procurando”, reflete o vocalista.

Da Nova Zelândia a América Central
A tensa “Bullet The Blue Sky” assim como “In God’s Country”, são críticas sobre o peso da mão dos EUA na América Latina, após visita do vocalista e sua esposa a Nicarágua e El Salvador. Na primeira, o líder do U2 evoca imagens bíblicas como metáfora da opressão política na região por meio de ditaduras insanas.

“The Joshua Tree” também abre espaço para sentimentalismo cristão. Em “One Tree Hill”, Bono Vox presta uma homenagem sensível ao roadie da banda Greg Carroll, morto, precocemente, aos 26 anos, num trágico acidente de moto, um ano antes da gravação do álbum. O incidente ganha peso quando se sabe que o neozelandês, boa praça, querido por todos, executava um favor para Bono.

Daí tem a baladona “With Or Without You” talvez o maior sucesso da carreira do U2, que perfaz jornada romântica em torno de um casal em crise no relacionamento. O que poucos sabem, talvez, é que a faixa foi escrita por Bono durante a realização do disco, quando não conseguia conciliar a vida de casado com o trabalho.

Em suma, “The Joshua Tree” é um atestado de maturidade de jovens movidos pela ambição. Uma ambição que permitiria que eles pudessem alçar voos cada vez mais altos, como mostraria os trabalhos seguintes: “Rattle And Hum” (1988), “Achtung Baby” (1991) e “Zooropa” (1993). Mas essa é uma outra história…

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