2015 em 10 CDs: os melhores lançamentos do ano, segundo o “Metrópoles”
Em ano marcado por boas novidades de rap, listamos outras audições interessantes que embalaram a temporada musical
atualizado
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Não é nenhuma surpresa que o principal trabalho musical lançado no Brasil em 2015 tenha sido o novo disco do rapper Emicida. Já há algum tempo, o mainstream é recheado mais por rimas e MCs do que por riffs e roqueiros – tanto em número de álbuns vendidos quanto em qualidade artística. Abaixo, listamos também boas novidades que circulam por outros gêneros, como MPB e folk.
Confira nossa seleção musical dos melhores discos de 2015:
“Sound & Color”, de Alabama Shakes
Uma das revelações de 2012, a banda intensifica as colagens de rock, soul e folk em seu segundo álbum de estúdio. O caótico passeio muda de ares a cada faixa, num tempero que transcende o mero ecletismo. Para se ter uma ideia: a blueseira “Don’t Wanna Fight” é seguida por “Dunes”, uma gema com boas sacadas sessentistas. É uma playlist de gêneros variados – mas baseada num só disco.
“Estado de Poesia”, de Chico César
De acordo com o paraibano Chico, o disco lançado em meados de 2015 é um “reencontro com o estado geográfico e com estado de paixões”. Não poderia ter definição melhor para um trabalho essencialmente autoral e com vários conterrâneos com participações especiais. Uma das melhores faixas é “Reis do Agronegócio”, com letra de Carlos Rennó e música de Chico.
“A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares
Produzido por Guilherme Kastrup, o CD tem por trás músicos da chamada vanguarda paulistana, como Romulo Fróes, e um mix de referências, como samba, rock, rap e eletrônico, em arranjos sobrepostos por distorções e dissonâncias. Destaque para “Maria da Vila Matilde”, que tem como tema a violência doméstica e mostra uma Elza ainda mais forte e vigorosa.
“Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, de Emicida
A cada ano, o rapper paulista se confirma como um dos principais nomes da música brasileira. Na medida certa, Emicida une o rap ao samba e às batidas eletrônicas. Apesar de ter sido gerado após uma viagem à África, o álbum não tem tantas referências sonoras daquele continente. A influência acabou ficando nas letras das músicas, como em “Mufete” e na ótima “Madagascar”.
“Estratosférica”, de Gal Costa
Ao contrário de muitos artistas que, em um determinado ponto, passam a gravar mais do mesmo, Gal vem renovada no CD produzido por Moreno Veloso e Kassin. Além de inéditas, o projeto registra um amplo leque de compositores. Há desde os consagrados Milton Nascimento e Caetano Veloso até os “novatos” Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. Por sinal, é de Mallu uma das melhores faixas do disco, “Quando Você Olha para Ela”.
“Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”, de Johnny Hooker
Versos passionais constroem as faixas deste que é um dos lançamentos mais viscerais do ano. Comparado a Ney Matogrosso, o pernambucano soube fincar sua própria marca em letras movidas por amores rasgados, intensos e carnais, como pode ser visto em “Alma Sebosa”. Um dos maiores êxitos deste trabalho é a capacidade que Hooker demonstra de aplicar a mesma atmosfera do álbum em cena. Durante o show do músico no Festival Satélite 061, o cantor provocou uma comoção no público brasiliense que, excitado, vibrou com cada palavra e gesto de um dos nomes mais interessantes dessa nova geração.
“To Pimp a Butterfly”, de Kendrick Lamar
Num álbum intensamente conectado aos tempos atuais, o rapper mais inventivo da atualidade dispensa o gangsta, a farra e a crônica pessoal do disco anterior (“good kid, m.A.A.d city”) para abrir o verbo sobre desigualdade racial e violência contra jovens negros. Poético, febril e franco, Lamar desbrava o funk em “King Kunta” e celebra a identidade de matriz africana na belíssima “The Blacker the Berry”. Forma um belo par com o igualmente pontiagudo “Yeezus” (2013), de Kanye West.
“Carrie & Lowell”, de Sufjan Stevens
Inspirado pela morte da mãe, Carrie, e por memórias da infância em Oregon, no estado de Ohio, Stevens retorna ao formato voz e violão em seu sétimo disco. Neste álbum de família emotivo e onírico, o trovador elabora uma poética delicada a partir de acústicos simples (“All of Me Wants All of You”) e cortantes canções de ninar (“Blue Bucket of Gold”).
“Dancê”, de Tulipa Ruiz
A cantora e compositora paulista sempre traz boas novas no mundo da música. Em 2015, não foi diferente. No novo álbum, Tulipa continua investindo no pop e no rock, porém, desta vez, com sopros e metais em evidência. A formação deixa o disco mais dançante e envolvente, e tem como destaque “Tafetá”, com a luxuosa participação especial de João Donato.
“Summertime ’06”, de Vince Staples
Envolvido por beats eletrônicos e lírica memorial, Vince Staples deu sequência ao EP “Hell Can Wait” (2014) com um potente disco de estreia: vinte faixas divididas em dois CDs, com letras que revisitam medos da infância e amigos que ficaram pelo caminho. Mesmo por vezes sombrio e pensativo, Staples relê o g-funk da costa oeste nas grudentas “Norf Norf” e “Señorita”.