Metrópoles em Cannes: Confira nossas críticas de 36 filmes do Festival
O sol está sempre brilhando na praia mais famosa do circuito cinematográfico, só que desta vez pegamos alguns dias de chuva…
atualizado
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O Festival de Cannes se deu bem em 2023, podendo aproveitar as estrelas e os diretores antes da expectativa que todos temos de uma greve na indústria. Aproveitamos para dar a partida no circuito de prestígio à sétima arte com 36 filmes. Vários estarão com troféus nas festas de fim de ano, e eis o nosso ranking: classificamos 9 como ótimos, 10 como bons, 13 como regulares e 4 como ruins.
Confira abaixo a lista completa:
Ótimo – 4 Estrelas
Jeunesse (Le Printemps), de Wang Bing
Num mundo globalizado, após o surgimento do ´fast-fashion´, desejamos pagar cada vez menos por roupas bonitas. Existe um preço para isso, e o objetivo do diretor chinês Wang Bing em seu documentário, traduzido como Primavera (Juventude), é expô-lo. Para isso, montou um épico claustrofóbico, que se passa inteiramente numa fábrica de tecidos, com mais de três horas de duração. É exaustivo e maçante, mas este é o propósito.
The Zone of Interest, de Jonathan Glazer
Rudolf (Christian Friedel) e Hedwig Höss (Sandra Hüller) são pai e mãe de uma família tradicional alemã logo no meio do século XX. Se isto já dá ao espectador uma ideia do que ronda o novo filme do diretor inglês Jonathan Glazer, saiba-se que está certo. Um dos eventos históricos mais cruéis, e, talvez por isso, mais retratados, da história do cinema cai aqui sobre o olhar de dois artistas ingleses: o diretor, Glazer, e um dos maiores autores do país, Martin Amis, que escreveu o livro no qual este roteiro se baseia. Amis e Glazer são conhecidos por explorarem histórias de maneira incomum, introduzindo temas de mecanização e alienação.
Les Filles d’Olfa, de Kaouther Ben Hania
Documentários não seriam tão raros na seleção de filmes do Festival de Cannes se toda a indústria cinematográfica admitisse que tudo apresentado numa tela de cinema é ficção. Ou pelo menos, na tentativa de se aproximar arte de realidade, que tudo não passa de ´versões´. No centro de “Four Daughters” estão cinco mulheres: todas baseadas em pessoas reais, mas duas são interpretadas por atrizes, duas são interpretadas pelas mulheres em que se baseiam, e uma é interpretada, ora por atriz, ora pela mulher real em quem ela é baseada. Confuso? O filme vai revelando tudo aos poucos, mesclando toda essa confusão sobre o que é real e o que não é.
Banel e Adama, de Ramata-Toulaye Sy
A possibilidade de entrar na competição pela Palma de Ouro com seu primeiro filme é algo infrequente, mas no caso deste filme africano, bem compatível. A história repete temas até estereotípicos do continente: o confronto entre uma tradição patriarcal, supersticiosa e tribalista com personagens de interesses mais modernos. Os protagonistas são Banel e Adama, dois jovens apaixonados no Senegal que começam a história respeitando tradição, mas depois são levados a um confronto em que sacrifícios prévios não adiantaram.
La Passion de Dodin Bouffant, de Tran Anh Hung
Benoît Magimel e Juliette Binoche interpretam um casal, Dodin e Eugénie, na cama e na cozinha, preparando e servindo refeições somente para clientes que sabem dar o devido valor às suas criações. Os primeiros quarenta minutos do filme são todos entregues à preparação da cozinha. De fato, é aqui que a maior parte do filme se dá. Raramente saímos do casarão onde estes artesãos vivem–volta e meia estamos na sala de jantar, ou no quarto, ou no jardim… O mundo do casal gira em torno da cozinha e da mesa de jantar, e lá estão, felizes.
Perfect Days, de Wim Wenders
Foi durante a copa de 2018 que os torcedores japoneses viralizaram por limpar o estádio após uma partida? É um desta filosofia que impregna um dos melhores filmes deste Festival até agora, sobre um homem japonês de meia-idade que vive sozinho e trabalha como faxineiro nos banheiros públicos da cidade de Tokyo. Hirayama, (Koji Yakusho) é um tanto zen, dirigindo sua van de um ponto ao outro enquanto escuta rock pacato (e ocidental) no som do carro, veste seu uniforme e executa suas tarefas com carinho e atenção. É isto.
Strange Way of Life, de Pedro Almodóvar
Pedro Pascal é um forasteiro chamado Silva, que chega à cidadezinha americana de Bitter Creek para re-encontrar alguém que não via em mais de 25 anos: o agora xerife Jake (Ethan Hawke). A cunhada de Jake fora morta, e o suspeito principal é o filho de Silva, suposto amante da vítima. Só que após um jantar regado a vinho, os dois pulam para a cama, e vemos que o encontro é sobre muito mais do que o presente.
Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho
É sempre arriscado para um cineasta fazer um documentário que incorpora a própria vida, pois convida assim interpretações do estilo ´psicologia-pop´ por parte de seus fãs e de seus detratores. O novo filme de Kleber Mendonça Filho, o diretor brasileiro mais celebrado internacionalmente da atualidade, é descrito como um documentário sobre os cinemas de rua da cidade de Recife.
Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese
No começo do século 20, em algo que mais parece uma ironia do destino, a tribo Osage foi “relocada” pelo governo dos Estados Unidos a uma terra infértil e pouco produtiva no interior do estado de Oklahoma. Com suas terras originárias já tomadas por colonizadores, era uma esmola oficial para que sumissem e vivessem isolados. Só que poucos anos depois, descobriram petróleo naquela terra infértil e, como donos delas, os Osage passaram a ser a população mais rica, per capita, do país.
Bom – 3 Estrelas
Monster, de Hirokazu Kore-Eda
Certo dia, na escola primária, uma briga em sala de aula entre Minato (Soya Kurokawa) e Yori (Hinata Hiragi) desencadeia uma série de acontecimentos que mudará a vida de todos que se enrolarem neles. Não são apenas os personagens dentro do filme que estão tentando descobrir o que está acontecendo, mas também o espectador. Estamos livres a imaginar, após tantas tramas entre crianças, pais, professores e pares, com nuances de bullying e as dificuldades enfrentadas por mães solteiras–o pior ou o melhor do que pode ser a verdade. Com o título “Monster”, até a possibilidade de algo sobrenatural pode virar real.
Le Retour, de Catherine Corsini
Khédidja (Aïssatou Diallo Sagna) começa o filme com uma fuga da ilha de Córsica, aos prantos, com duas filhas. Minutos depois, com o benefício de montagem cinematográfica, 15 anos se passaram e ela está retornando, as crianças agora adolescentes. O porquê da fuga, e uma exploração de suas consequencias, é o que guia esta obra. Khédidja e suas filhas, Jessica (Suzy Bemba) e Farah (Esther Gohourou), pertencem a gerações diferentes (obviamente), mas neste cenário isto não quer dizer apenas uma diferença etária. A diferença é temporal, cultural e existencial.
Firebrand, de Karim Aïnouz
Se Karim Aïnouz tem concentrado sua cinegrafia em histórias cheias de brasilidade, ele mira o topo da tradição bretã em sua estreia na língua inglesa, retratando episódio na vida de Henrique VIII, um dos mais famosos e cultuados dos antigos reis. Ousadia maior ainda: deixa o rei, interpretado por Jude Law, de lado e conta a história de sua última esposa, Catherine Parr (Alicia Vikander). Uma das razões pela qual este Henrique, o oitavo, tem sua história contada tantas vezes é sua proclividade em assassinar as mulheres que não conseguiam lhe fornecer um herdeiro masculino. O destino de Catherine é a provocação que encerra a trama de Karim Aïnouz.
Rapito, de Marco Bellocchio
A família Mortara é simples e respeitada em sua vizinhança. Judaica e praticante, são surpreendidos por emissários do Papa Pio IX (Paolo Pierobon), que chegam para extrair da residência uma das oito crianças, o pequeno Edgardo (Leonardo Maltese). O que antecede o rapto é, digamos, inusitado: enquanto o menino lutava contra uma febre poderosa, sua babá, temendo pela vida do pequeno, faz nele um batismo emergencial, para que a morte não o castigue num eterno purgatório, visto que é judeu. Estando portanto, este recentemente-batizado cristão numa família de judeus, a Igreja vai lá e pega.
Indiana Jones and the Dial of Destiny, de James Mangold
Em um castelo europeu, restos do exército nazista prepara uma evacuação, no meio de um bombardeio aéreo. De uniforme, infiltrado, está nosso velho amigo, Indiana Jones, junto com Basil Shaw (Toby Jones). Ambos estão à procura de um artefato ao qual Shaw dedicou sua vida, a relíquia de Arquimedes do título. Agindo contra eles está Dr. Voller (Mads Mikkelsen), que também estima o poder da estátua grega. A sequencia é tudo o que desejamos de um filme destes. Aventurosa, cheia de humor e vertigem. Apesar dos mocinhos vencerem, os nazistas tinham apenas metade da estátua.
Occupied City, de Steve McQueen
O filme mistura imagens de endereços atuais da cidade com a uma narração feminina (Melanie Hyams) sobre algo que teria acontecido naquele local ou com quem habitava aquele local. Nada que não seja trágico, porém. Uma criança morta a tiros numa ruela, por estar fora de casa dois minutos após o toque de recolher… Blecautes que causaram acidentes e afogamentos nos canais aquáticos… Soldados nazistas derretendo bicicletas e sinos de igreja. Com 4 horas e meia de duração, o terror parece sem fim. Trata-se de um contraste, um terror apenas narrado, de maneira seca, com imagens atuais da vivência durante a pandemia.
How to Have Sex, de Molly Manning Walker
Existem piores candidatos a lidar com sexo do que adolescentes? Se nem adultos conseguem viver em paz com seus desejos e seus dramas, qual esperança tem um grupo de pessoas com um mundo inteiro a descobrir enquanto seus corpos vivem uma montanha russa hormonal? “How to Have Sex”, filme sobre um grupo de jovens passando férias de arrebentar numa ilha grega compartilha muito do DNA da comédia adolescente, especialmente no caso de protagonista: alguém querendo perder a virgindade. Só que enquanto as comédias preferem protagonistas masculinos, este filme lança outra proposta com Tara (Mia McKenna-Bruce), uma protagonista feminina.
Elemental, de Peter Sohn
O novo filme da Pixar começa com um barco aportando em uma grande metrópole. Dentro dele, um casal de imigrantes, a mulher grávida. A vida que eles construirão, e as escolhas que a pequena filha fará no começo da vida adulta formam a base da história, e é difícil imaginar que esse tipo de história tenha um apelo para o público infantil. Talvez seja por isso que o estúdio Pixar tenha transformado todos os personagens desta história em um dos quatro elementos da natureza: fogo, água, terra e ar.
Cerrar Los Ojos, de Victor Erice
Sem realizar um longa desde 1992, Victor Erice coloca um diretor aposentado como o protagonista de sua nova trama. Miguel Garay (Manolo Solo) era um diretor bem-sucedido até que, um dia, no meio de uma filmagem, seu amigo e ator principal, Julio Arenas (Jose Coronado) desaparece sem deixar qualquer vestígio. Décadas mais tarde, um canal de televisão pede a participação de Miguel em um episódio sobre o caso. Miguel nunca mais filmou, e vive recluso, indicando que o sumiço lhe deixou uma marca profunda.
The Idol, de Sam Levinson
Jocelyn está em sua mansão, participando de um ensaio fotográfico para a campanha de seu novo álbum. Uma dúvida se instaura: ela pode ou não mostrar seus mamilos no ensaio? Pelo contrato, toda parte do seio está ok, menos os mamilos. Para aumentar o potencial viralizante, porém, porque não? Jocelyn quer se mostrar, e não é ela a dona de seu corpo? A mansão tem uma só moradora, mas é ocupada por mais de vinte pessoas durante o dia: empresários, agentes, dançarinos, equipe de filmagem (também estão treinando a coreografia, quase explícita, de um novo video-clipe). Todos estão discutindo Jocelyn, planejando Jocelyn, debatendo Jocelyn.
Regular – 2 Estrelas
Black Flies, de Jean-Stéphane Sauvaire
Poucas profissões servem tão bem à dramaturgia quanto a medicina. Decisões de vida ou morte tem de ser tomadas em pouco tempo e o trauma segue não somente os pacientes, mas também os próprios médicos, sempre pré-dispostos a passarem noites em claro, suas cabeças ocupadas por visões de dor e sofrimento. Pelo menos quem trabalha de dia consegue passar a noite na cama, pois na escala de Gene “Rut” Rutkokvsky (Sean Penn) e Ollie Cross (Tye Sheridan), as madrugadas se passam quase que literalmente numa descida ao inferno, a bordo de uma ambulância nas ruas de Nova York.
Kuru Otlar Ustune, de Nuri Bilge Ceylan
O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan tem um certo tipo de público. São filmes de longa duração, passando de três horas, com pouca ação e muita conversa. Conversas não sobre ações, mas sobre conceitos. São perenes nos festivais, mas duram pouco na sala do multiplex. Isso parece não perturbar o diretor, que continua no mesmo trajeto, sem muita variação. O próprio título do filme, que se traduz como “Sobre Gramas Secas” parece indicar a completa drenagem de aceleração da trama: propõe algo como uma decomposição inerte, um estanque temporal.
May December, de Todd Haynes
Natalie Portman vive Elizabeth Berry (Natalie Portman), para passar um tempo com o casal Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton). Só que ela não é amiga do casal, e sim uma respeitada atriz de Hollywood que veio “estudar” Gracie, seu próximo papel em uma adaptação da história real do casal para o cinema. Existe algo curioso nesta relação, afinal Joe é muito mais novo que sua esposa. O diretor prefere alimentar a curiosidade do espectador aos poucos, embora as primeira críticas e o próprio marketing deve entregar o twist.
Anatomie d´une Chute, de Justine Triet
A vida da escritora Sandra (Sandra Hüller) teve guinadas inesperadas ao mudar de seu país original, Alemanha, para fazer a vida como marido na França. Ela é bem-sucedida com romances de mistério e criminalidade. Samuel (Samuel Theis), o marido, também escritor, está com a carreira estagnada e o filho pré-adolescente do casal ficou cego após um acidente. É o jovem, com seu cão-guia, que encontra o corpo do pai estirado na neve, abaixo de uma janela aberta do segundo andar de sua casa. Assim como todos na trama, estamos cegos ao que acontecer: teria Samuel pulado? Caído sem querer? Ou será que foi jogado?
Kuolleet Lehdet, de Aki Kaurismäki
Ansa (Alma Pöysti) trabalha num supermercado e Holappa (Jussi Vatanen) num canteiro de obras. Qualquer sociedade, especialmente a moderna, tem a capacidade de vitimá-los. Ansa, por exemplo, se revolta contra o desperdício de comida praticado por seu local de trabalho e é demitida ao tentar levar consigo um sanduíche com a validade já expirada, algo que iria pro lixo. Holappa, por sua vez é propenso a se comportar de maneira terrível quando bebe, algo que acontece com frequencia.
Asteroid City, de Wes Anderson
Asteroid City é um lugarejo no deserto americano–localizado no meio da Guerra Fria e até próximo do laboratório de testes onde se desenvolveu a bomba atômica. Lá se encontram viajantes variáveis, a maioria em torno de uma competição estudantil de ciências. Jonas Hall (Schwartzman), está com seus quatro filhos e a má notícia que a mãe das crianças faleceu. June (Maya Hawke) tem um ônibus inteiro de crianças metidas a cientista. E Midge Campbell (Johansson), é uma atriz de Hollywood ensaiando um novo papel. Entre encontros no pequeno hotel de beira-de-estrada, a lanchonete e a oficina mecânica que beiram uma enorme cratera, resultado do impacto de um asteróide, alguma profundidade será encontrada.
L´Été Dernier, de Catherine Breillat
Anne (Léa Drucker) é uma advogada bem sucedida, defensora de menores que sofrem violência sexual. Casada com Pierre (Olivier Rabourdin), ambos gozam de uma vida abastada e idílica, em uma casa um pouco afastada da cidade, cercada por natureza. Contra a vontade de todos, num verão qualquer, eles recebem em casa o filho adolescente de Pierre, Théo (Samuel Kircher), que esgotou a paciência de todos, causando trabalho demais para sua mãe e para sua escola. Por razão nenhuma, ele e Anne um dia começam um tórrido affair.
La Chimera, de Alice Rohrwacher
Arthur (Josh O’Connor) está um tanto deslocado, em seu terno enrugado. Ele é um inglês na região italiana da Toscana, com um pedaço de pau na mão, procurando algo sob a terra e o barro de áreas meio abandonadas da cidade. Com o tempo veremos que ele é um ex-acadêmico, expert na arqueologia da região, que agora ganha dinheiro procurando antigos vasos etruscos e vendendo-os clandestinamente junto com uma gangue de rufiões. Com o tempo vemos que a queda de Arthur se deu por uma perda muito significativa, um grande amor cuja mãe, Flora (Isabella Rossellini) ainda vive numa grande mansão cuja decrepitude parece ser uma metáfora para o filme como um todo.
The Old Oak, de Ken Loach
O gancho do filme é a chegada de vários refugiados sírios à uma pequena cidade inglesa, chuvosa e desesperançosa. ´Esquecidos´ pelo capitalismo, os habitantes ingleses ofendem e intimidam os novos vizinhos. Parece paradoxal, claro, já que a cidadezinha claramente precisa de um pouco de sangue novo, mas o sangue ofertado é muçulmano. O centro moral do filme é TJ Ballantyne (Dave Turner) dono do pub que dá nome ao filme. Assim como os outros habitantes da cidade, TJ está meramente sobrevivendo. Com um negócio que é o centro social local, aonde todos vem para beber e desabafar, ele tenha algum treinamento menos formal para a compaixão. Desde o começo, vê os refugiados como pessoas a serem defendidas, e isso o coloca em uma rota de colisão com seus clientes.
Jeanne du Barry, de Maïwenn
A própria Croisette, calçadão famoso que leva, olha só, ao “Palácio Lumière”, aonde acontecem as sessões do Festival, não ficou tão distante dos corredores de Versalhes, tomado por cochichos e expectativas em torno do lançamento do filme. Nele, acompanhamos Jeanne desde sua infância. Vinda de uma família pobre, é vista como um instrumento de ascensão social pelos pais ao ser casado com o Conde du Barry (Melvil Poupaud). Este, seguindo o mesmo interesse, a leva para eventos da Corte, aonde sua beldade e ar um tanto rebelde e livre chama a atenção do rei viúvo.
Project Silence, de Kim Tae Gon
Em uma noite coberta de neblina, um acidente entre carros, causado por uma distração derivada do TikTok, bloqueia a passagem de dezenas de pessoas. Só que no meio desta armadilha está também um caminhão que transportava uma experiência secreta do governo: cães assassinos.
Kubi, de Takeshi Kitano
Oda Nobunaga (Ryo Kase) seria o líder de um Japão unificado, se não fossem as pequenas rebeliões e a tentativa de assassinato que ele acaba de sobreviver. Indignado, e propenso a toques de sadismo, ele demanda uma repressão violenta. Só que parece que um de seus escudeiros, Akechi Mitsuhide (Hidetoshi Nishijima), está por trás da tentativa, apoiando um outro general, Araki Murashige (Kenichi Endo), que já tentara uma rebelião. Kitano, ousado, propõe que ambos já foram amantes. De qualquer maneira, o filme começa com uma cabeça decapitada.
Nelson Pereira dos Santos, de Aida Marques e Ivelise Ferreira
A história do cinema brasileiro passa pelo Festival de Cannes, afinal, foi aqui que ele se revelou ao mundo de maneira incontestável. Após a Palma de Ouro em 1962, o movimento Cinema Novo se estabelece em 1964 com dois filmes: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, e “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos. Glauber apresentava seu segundo filme, mas Nelson já era um dos mais importantes artistas do Brasil. Numa fase pós-chanchada, embalado pela estética neorrealista, ele erguera o cinema independente brasileiro nos ombros, providenciando, além disso, uma escola de cinema para vários outros que mais tarde se tornariam diretores.
Ruim – 1 Estrela
Club Zero, de Jessica Hausner
Há sempre de se elogiar a audácia no cinema. Só que não é qualquer ideia que pode usar a desculpa de tentar ser algo audaz para se defender de críticas. “Club Zero”, novo filme da diretora austríaca Jessica Hausner, veterana do Festival, se propõe a ser uma sátira, ambientada numa escola de segundo grau para a elite europeia, mas não consegue passar do óbvio numa trama que busca comentar a sociedade de consumo, os influenciadores transcendentais e os gêneros de filme sobre rebeldia adolescente e também professores carismáticos.
Il Sol Dell´Avvenire, de Nanni Moretti
Apesar de beirar uma crise existencial em referência ao futuro de seu meio artístico, o diretor Giovanni (Nanni Moretti) está rodando um longa-metragem sobre o Partido Comunista Italiano e seu alinhamento com a União Soviética, mesmo após a invasão da Hungria pelos Soviéticos. Para o contexto deste filme, a posição do partido foi claramente um erro, e a perda de oportunidade para se alinharem a uma melhor possibilidade de um futuro desligado de ditaduras. Parece rebuscado mas o filme fora do filme é uma comédia.
Hypnotic, de Robert Rodriguez
Em, algum lugar do planeta, Christopher Nolan está trocando as senhas de seus computadores na dúvida de Robert Rodriguez ter aprontado alguma em sua caixinha de ideias. Danny Rourke (Ben Affleck) é um detetive deprimido pela ausência de sua filha, misteriosamente desaparecida. Um dia, respondendo a um assalto a banco, Danny descobre uma nova pista. O roubo está sendo executado por pessoas que não se conhecem, obedecendo ordens de uma fonte misteriosa. Dentro do banco, Rourke encontra uma foto de sua filha, e eventualmente encontra o misterioso Dellrayne (William Fichtner), que parece estar envolvido.
Le Livre des Solutions, de Michel Gondry
Filmes com diretores de cinema como protagonistas convidam muita comparação, especialmente de críticos, com o próprio diretor do filme. Se o novo filme de Michel Gondry for autobiográfico de qualquer maneira… coitados de seus colaboradores. O filme começa com Marc (Pierre Niney), que não está conseguindo terminar de montar o filme que já rodou, com seus produtores e financistas. Estes acham o que foi apresentado até agora horrível, e querem tirar a pós-produção de suas mãos. Desesperado, Marc sai da reunião e rouba todos os HDs com seu filme, fugindo até poder terminá-lo à seu modo.