Mais que futebol: descubra expoentes contemporâneos da cultura russa
Desde a época dos czares, o maior país do mundo é pioneiro em artes como balé e cinema. Conheça quem faz sucesso por lá atualmente
atualizado
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A Copa do Mundo começa nesta quinta-feira (14/6) e o país, embora não tenha grandes tradições com futebol, tem uma cultura secular, além de ter sido pioneiro em diversas artes. Desde a época dos czares, a nação é expoente no balé e na música. Com a Revolução Russa, apareceram grandes nomes no cinema mundial como Dziga Vertov e Sergei Eisenstein, mestres que deram o tom da montagem de filmes nos séculos seguintes. Na literatura, gênios do porte de Fiódor Dostoiévski e Liev Tolstói.
O país passou por mudanças brutais em um século: do czarismo à república, os russos viveram uma revolução socialista, decidiram duas guerras mundiais e participaram de outras tantas durante todo o período da Guerra Fria. O Metrópoles fez uma pesquisa sobre o status da arte no país, atualmente, passando por balé, música, cinema e literatura.Balé: censurada e com diretor preso, peça sobre Nureyev leva quatro Prêmios Benois
A produção de uma peça sobre a vida do russo Rudolf Nureyev, um dos maiores bailarinos do século 20, não poderia ter se dado sem problemas. Abertamente gay, o dançarino morreu em 1993, vítima da Aids. A companhia de balé Bolshoi preparou-se para lançar o espetáculo com o nome do artista, em dezembro de 2017. De última hora, a direção da empresa suspendeu a estreia, sob suspeitas alegações de que a peça ainda não estava pronta.
A Rússia proibiu, em 2013, “propaganda de relações sexuais não tradicionais”. Ou seja, qualquer demonstração publicitária ou cultural de homoafetividade é proibida. Elenco, coreógrafos e compositores se insurgiram contra a companhia, acusando os chefes de censura. Anteriormente, o diretor do espetáculo, Kirill Serebrennikov, foi preso sob acusações de desvio de dinheiro público e, atualmente, cumpre pena domiciliar.
Mesmo com tantos entraves, a peça foi lançada em maio passado – proibida para menores de 18 anos –, a tempo de ser indicada a vários Prêmios Benois. A estatueta, distribuída em Moscou, é considerada o Oscar do balé. O espetáculo Nureyev levou quatro das principais categorias da noite: Melhor Bailarino para Vladislav Lantratov, Melhor Compositor para Ilya Demutsky, Melhor Coreógrafo para Yuti Possokhov e Melhor Design de Produção para Serebrennikov.
Demutsky recebeu o prêmio no lugar do colega e confessou à Reuters estar igualmente feliz e consternado com o reconhecimento do diretor. “Eu sinto que este é, de certa forma, um triunfo. Mas ao mesmo tempo, deixa um gosto amargo, porque não podemos dividir essa conquista com nosso amigo”, lamentou.
Cinema: a crônica social de Andrey Zvyagintsev
Um dos diretores contemporâneos mais prestigiados em festivais, Zvyagintsev é conhecido por desenvolver crônicas sociais carregadas de simbolismo sobre a atualidade do país.
Seus filmes mais recentes, ambos indicados ao Oscar de melhor longa estrangeiro, carregam visões muito particulares e críticas do atual estado de coisas na sociedade russa. Aridez de sentimentos e desconfiança nas instituições abastecem as tramas. Parte da crítica vê em suas produções doses talvez pesadas demais de fatalismo.
Em Leviatã (2014), o prefeito corrupto de uma discreta cidade costeira tenta desapropriar as terras pertencentes a uma família. Pai, mãe e filho adolescente contam com a ajuda de um advogado. Mas a onda de desgraças parece só aumentar.
No recente Sem Amor (2017), que passou nos cinemas brasileiros em 2018, o divórcio conturbado de um casal ganha contornos mais sérios quando o filho desaparece durante uma discussão.
Mesmo com carreira curta, iniciada em 2000, o cineasta acumula prestígio nos principais festivais europeus. O Retorno (2003), sobre o reencontro de dois irmãos com o pai ausente, venceu o Leão de Ouro – prêmio máximo de Veneza.
Em Cannes, Zvyagintsev concorreu à Palma de Ouro três vezes: Leviatã foi eleito o longa com o Melhor Roteiro, Sem Amor ganhou Prêmio do Júri, enquanto O Desterro (2007), relato de uma viagem reveladora de família, saiu sem troféus. Elena (2011), sobre uma dona de casa prestes a virar viúva, passou na mostra Um Certo Olhar e recebeu honra especial do júri.
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A cantora nasceu em 1987 em Kazan, capital de Tatarstan, a cerca de 800km de Moscou. Sua mãe, uma condutora de coral, percebeu seu talento e amor pelo canto extremamente cedo – a primeira performance foi aos cinco anos em uma competição para crianças transmitida pela TV.
Aos 11 anos, ela foi aceita no Conservatório do Estado de Kazan para treinar canto, e aos 13, se apresentou no Tchaikovsky Great Hall, em Moscou, durante o Festival de Crianças Dotadas de Tatarstan.
Em 2005, recebeu a benção do prefeito de Kazan para estudar no exterior. Em sua biografia do Decca Classics, ela conta não ter sido uma adolescente rebelde: “Sempre fui uma garota trabalhadora e do lar, então quando estudei na Alemanha, aos 17 anos, foi meio amedrontador”.
Sua primeira chance para atingir a fama foi em 2013, quando ganhou primeiro lugar na competição Operalia de Plácido Domingo. Ela foi a Verona e praticou por cinco horas diárias, recebendo elogios de Domingo e outros jurados pela performance. Ao fim, ficou em primeiro lugar.