Mãe de MC Kevin: “Investigação foi prejudicada por preconceito”
Tribunal de Justiça do RJ devolveu inquérito ao Ministério Público após advogadas de Valquiria Nascimento pedirem reconstituição dos fatos
atualizado
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São Paulo – Após a Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro devolver inquérito da morte do MC Kevin ao Ministério Público (MP), a mãe do funkeiro Valquiria Nascimento afirmou em entrevista ao Metrópoles que acredita que a investigação foi “totalmente prejudicada” por preconceito.
“Parece que quem vem da periferia, é funkeiro, tatuado sofre muito preconceito”, disse a mãe do MC Kevin. “As pessoas pensam é funkeiro, é drogado, mas droga tem em todo lugar, em todo ritmo, tem no mundo”, complementou.
Val acredita que a existência de drogas no local não pode justificar que o caso seja encerrado sem uma conclusão. Por isso, recentemente, Valquiria constitui as advogadas Patrícia Feitosa e Flávia Fróes como assistentes de acusação. Antes, a mãe não tinha nenhuma assessoria jurídica.
Reconstituição
Foi o pedido à Justiça para a realização de uma reconstituição do dia da morte de MC Kevin que motivou a devolução do inquérito ao MP.
“A reprodução simulada é importante para bater os depoimentos que são muito conflitantes, principalmente, do Jonathan e do MC VK. Tanto que Jonathan afirma que tinha uma segunda garota de programa no local, a Nicole, e ela nunca esteve nos autos”, disse a advogada Patrícia Feitosa.
A advogada afirma que o depoimento de Nicole é “crucial” para o processo. Valquiria concorda e faz questionamentos.
“Tinha duas mulheres? Pelo menos bater os dois depoimentos. Não estou acusando ninguém do que aconteceu naquele dia, mas pelo menos que quem estava lá fale a verdade”, disse a mãe.
Além do depoimento de Nicole, as advogadas defendem que a polícia ouça como testemunha ocular Fernando Dimmy Júnior, que na época da morte deu entrevistas para a mídia dizendo estar em um hotel próximo e com vista para onde estava MC Kevin.
Sigilo telefônico
As assistentes de acusação também fizeram uma petição em 10/3 para ter acesso ao resultado da perícia nos celulares. “Houve quebra de sigilo das testemunhas, porém esse resultado não consta no processo”, afirmou a advogada criminal Patrícia Feitosa.
“Agora sim vai ser investigado realmente o que aconteceu. É muito ruim viver com um ponto de interrogação. Ele saiu de casa para fazer um show, passar um dia no Rio e voltar para casa. Falei com ele às 17h27 pela última vez e às 18h20 não tinha mais o Kevin. É muito complicado”, comentou Val.
Preconceito em condomínio de luxo
Ao dizer que as investigações da morte de Kevin foram prejudicadas pelo preconceito, Val fez um paralelo contando que ainda é discriminada no condomínio de alto padrão no qual mora.
MC Kevin morava com a mãe em Mogi das Cruzes, a família mudou de casa após a morte, mas continuou no mesmo condomínio.
“Eu sou negra mãe de funkeiro, eu sofro preconceito onde eu moro. As pessoas não aceitam que eu estou lá ainda. As pessoas falam ‘nossa, mas ela está morando aqui ainda’. Como se fosse um nojo ter uma pessoa assim”, relatou Val.
Segundo a mãe, o irmão do MC também é discriminado por ser jovem, tatuado e irmão do funkeiro. “Esses dias falaram no grupo do condomínio que as motos do meu filho são roubadas, sendo que o meu filho paga a moto em prestação”, afirmou.