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Zuenir Ventura: “1968 é um personagem que teima em não sair de cena”

O autor deu entrevista ao Metrópoles para falar do relançamento de sua obra clássica 30 anos após a primeira edição

atualizado

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Zuenir Ventura
1 de 1 Zuenir Ventura - Foto: Divulgação

Não há dúvida de que os anos 1960 foram os mais loucos e fantásticos do século 20 e 1968 honra o título de o mais catártico da década. Um dos primeiros a atinar isso, no Brasil, seria o jornalista e escritor Zuenir Ventura, autor do emblemático livro 1968 – O Ano Que Não Terminou. A obra acaba de ser relançada pela editora Objetiva, 30 anos depois de sua primeira edição.

“Foi um ano emblemático e misterioso, porque aquela rebelião planetária ocorreu sem que houvesse globalização ou internet”, destaca o jornalista de 86 anos, em entrevista ao Metrópoles. “Mais do que um ano, ele parece um personagem que teima em não sair de cena”, observa o autor, membro, desde outubro de 2014, da Academia Brasileira de Letras.

Como escreve Mark Kurlansky em outro livro incisivo sobre o tema (1968 – O Ano Que Abalou o Mundo, lançado no Brasil pela José Olympio), “nunca houve um ano como 1968 e é improvável que volte a haver”. Para essa romântica geração de Aquários, talvez seja verdade mesmo. Tudo explodiu nessa época.

Houve assassinatos de líderes, ameaças de guerra civil, manifestações e violência generalizada nas ruas, uma luta incessante e irracional pelo poder nos quatro cantos do planeta, um tímido aceno para a globalização com a primeira transmissão ao vivo pela TV. De repente, uma comunhão de espíritos rebeldes insurgiria sem que nada fosse planejado ou organizado, por um desses mistérios do sincronismo histórico, tudo espontâneo e natural.

No Brasil, recém-amordaçado por uma ditadura, não seria diferente. Por aqui, o ano de 1968 eclodiria com o assassinato, pelos militares, em março daquele ano, do estudante Edson Luís. Zuenir Ventura, que trabalhava a poucos metros dali, na revista Visão, chegou ao local a tempo de ver o corpo da vítima sendo carregado pelos colegas secundaristas.

Reprodução

 

“Tempos de nó na garganta”
1968 – O Ano Que Não Terminou foi construído a partir de histórias, depoimentos, memórias e experiências de quem, assim como o próprio autor, fez parte de uma geração que, como poucas, “lutou tão radicalmente por um projeto ou utopia experimentando o limite de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais e existenciais”. Muitos deles, inclusive, não estão mais aqui.

“Nós apreendemos com a loucura, a generosidade e o sangue deles”, refletiria em depoimento para o livro, o psicanalista, Hélio Pelegrino (1924-1988), um dos personagens desses “tempos de nó na garganta”, como destacou também um dos protagonistas dessa trama, o diretor de teatro Flávio Rangel (1934-1988).

Com mais de 400 mil exemplares vendidos, a obra é, até hoje, três décadas depois de seu lançamento, referência histórica para estudantes, acadêmicos e, veja só, até novelistas, já que Gilberto Braga usou o livro de cabo a rabo para escrever a minissérie Anos Rebeldes – grande sucesso da televisão brasileira em 1992.

Entrevista com Zuenir Ventura
1968 talvez tenha sido o ano mais emblemático de uma da década especial do século 20. E a impressão que se tem é que – do ponto de vista dos sonhos e ambições almejadas na época –, passados 50 anos, ainda não terminou. Você concorda?
Foi emblemático e misterioso porque aquela rebelião planetária foi feita sem globalização ou internet. Mais do que um ano, ele parece um personagem que teima em não sair de cena.

No que a geração de 1968 errou e no que acertou?
Seu erro foi a onipotência. Achava, como dizia a música do Vandré, que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Acreditava que a revolução dependia apenas da vontade, do ideal e da paixão cívica.

Você diria que em 1968 a pretensão maior era fazer uma revolução política, mas tudo se resumiu a uma mudança cultural/comportamental?
Exatamente. Aqueles jovens acreditavam na revolução política, mas acabaram fazendo uma profunda alteração cultural/comportamental. Mudaram as roupas, os cabelos, a maneira de cantar e o autoritarismo na relação com os pais, professores e poder. Movimentos como o feminista, o negro, o homossexual e o ecológico ganharam força nessa época.

Não bate uma tristeza ao ver figuras daquele ano, como o Zé Dirceu, sendo condenadas por corrupção?
Claro! Mas me dá alegria em ver um exemplo como o do Gabeira. Quer dizer, 1968 teve do bom e do pior.

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1968 – O Ano Que Não Terminou
Zuenir Ventura. Editora: Objetiva. 312 páginas. R$ 57,90

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