Viver É Melhor Que Sonhar: livro revela últimos cominhos de Belchior
Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti percorreram mais de 10 mil quilômetros para descobrir motivações do artista para viver em exílio
atualizado
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Era início de 2007 quando Belchior, então com 60 anos, tomou uma das atitudes mais intrigantes da história recente da Música Popular Brasileira. Com uma carreira de sucesso, repertório invejável, padrão de vida elevado, quatro filhos e sempre cercado de amigos e mulheres, o artista deixou tudo para trás para seguir uma jornada incerta e anônima pelo Sul do país ao lado da produtora Edna Assunção.
Mesmo depois de sua morte, em 2017, familiares, amigos e fãs nunca deixaram de questionar as motivações de Belchior para viver em exílio. A questão também levou os jornalistas e doutorandos em literatura Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti a viajarem mais de 10 mil quilômetros e entrevistarem cerca de 150 pessoas que estiveram com ele nesse período. As descobertas estão documentadas no road book Viver é Melhor que Sonhar – Os Últimos Caminhos de Belchior, em pré-venda até o dia 23 de fevereiro.
“A gente não traz uma resposta, mas uma série de hipóteses que formulamos a partir da captura das histórias coletadas pelo caminho. Acho que o leitor pode esperar uma série de debates sobre vida, escolhas, atitudes, mercado de trabalho, showbusiness e o papel da mídia e dos fãs na carreira de um artista”, explica Fuscaldo ao Metrópoles.
O desejo de Chris e Marcelo de conhecerem essa fase da vida do compositor de Como Nossos Pais e Sujeito de Sorte nasceu em 2013, quatro anos antes de sua morte. “Depois de formatar o projeto, começamos a correr atrás de editoras. Em 2016, a Sonora comprou nossa ideia, mas antes que caíssemos na estrada, ele faleceu. A ideia antes era percorrer os caminhos e entrevistar pessoas, mas também chegar nele”, destaca a pesquisadora.
Pesquisa
Sem poder questionar o próprio artista sobre suas escolhas, a dupla encarou uma jornada de dois anos em busca de processos, documentos, anotações pessoais, familiares, amantes, advogados e amigos de infância.
Foram ao Rio Grande do Sul, seguiram para o Uruguai, depois para São Paulo e finalmente para o Ceará, onde Belchior nasceu.
A gente foi atrás da história de um herói que teve a coragem de abandonar uma vida que já não lhe preenchia, mas encontrou um homem que escolheu dar um tempo fora do seu próprio circuito e acabou se enrolando com as consequências de suas escolhas
Chris Fuscaldo, escritora, jornalista e pesquisadora
Apesar da alcunha de herói dada pela jornalista, ela ressalta que a pesquisa foi um “trajeto cheio de percalços, pequenas decepções e grandes alegrias, com muitas versões de uma mesma história”.
“Eu, em especial, fiquei decepcionada com o fato de Belchior ter passado esse tempo todo sem dar notícias aos filhos. Mas ele é um ser humano e os seres humanos são complexos. Atitudes de alguns seres humanos que o hospedaram também nos decepcionaram um pouco. Muitas das relações não eram com o homem, mas com o artista. Como concluiu uma de nossas fontes, todo mundo queria Belchior por um tempo, mas depois que ele virava um hóspede comum, um ser humano, muitas dessas pessoas cansavam”, aponta a escritora.
Projeto de financiamento coletivo
Viver É Melhor Que Sonhar — Os Últimos Caminhos de Belchior será lançado com recursos de um financiamento coletivo exitoso, de iniciativa da Editora Sonora e dos escritores. A primeira meta, de arrecadar R$ 56 mil, foi batida em apenas nove dias. A terceira meta, de R$ 96 mil, que viabilizará a tradução de entrevistas em espanhol, também já foi ultrapassada.