UnB Anos 70: obra resgata memórias do movimento estudantil na ditadura
O livro é organizado por Maria do Rosário Caetano com contribuição de ex-estudantes que passaram pela universidade na década de 1970
atualizado
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A ditadura militar marcou gerações que viveram no Brasil entre 1964 e 1985, principalmente as que faziam parte dos movimentos de resistência. Entre líderes estudantis e seguidores do movimento, alunos da Universidade de Brasília (UnB) na época tiveram papel importante nos anos de luta. E um grupo desses ex-ealunos decidiu reunir as memórias do que viveram no livro UnB Anos 70 Memória Do Movimento Estudantil.
Na obra, os leitores vão encontrar “memórias de uns coroas, sexagenários e septuagenários, que recordam os tempos na UnB da década de 1970, quando lutaram contra o autoritarismo do reitor e capitão-de-mar-e-guerra José Carlos Azevedo”, conta a organizadora do livro, a jornalista Maria do Rosário Caetano. Ela adianta que as quase 500 páginas reúnem a história do começo da luta dos alunos do curso de medicina até a eleição da primeira diretoria do DCE Livre.
“Azevedo comandava a universidade com mão de ferro. Muitos de nós encontraram na Universidade de Brasília pós AI-5 um clima apavorante. Houve greve geral, prisões e expulsão de 30 estudantes e igual número de suspensões. Mas a luta prosseguiu”, lembra Maria do Rosário.
A organizadora das memórias pontua que o livro conta com perfis de 14 lideranças estudantis que morreram nas últimas décadas:”Destaco os nomes de João Simplício, expulso da Medicina pelo decreto-lei 477 e, depois, pelo Regimento Interno da UnB, e que, no Uruguai, se aproximou dos Tupamaros; e de Jorge Gushiken, que morreu num acidente de carro, aos 24 anos, quando voltava de um Encontro de Estudantes de Geologia e hoje dá nome ao Centro Acadêmico da Geologia.”
Trabalho conjunto
Embora tenha sido organizado por Maria do Rosário Caetano, o livro conta com diversos colaboradores. Na lista estão Carlos Megale, José Umberto de Almeida, Flávio Alberto Botelho, William Devoti, Luiz Antônio Nigro Falcoski, Walter Peninha e Marco Antônio Ribeiro Vieira Lima.
Quem também colabora com o UnB Anos 70 é o jornalista Davi Emerich, que entrou na universidade em 1973 e foi expulso em 1976. Em entrevista ao Metrópoles, ele explicou que produziu um depoimento contando como foi a mudança dele de Martinópolis, município de São Paulo, para Brasília, além dos primeiros contatos com a política e participação no movimento estudantil. “Todos nós trabalhamos pelo amor à causa, a tal da mais valia da paixão, termo cunhado pela nossa querida coordenadora, Maria do Rosário Caetano”, enfatiza.
A história da perseguição da ditadura à UnB foi contada por Tereza Cruvinel. Ela relata as invasões à universidade entre os anos de 1964 e 1977 e como foi o movimento estudantil na década de 1970. A jornalista acredita que o livro vai resgatar um pedaço da história da resistência à ditadura, que ainda é pouco conhecido.
“Mesmo não tendo pretensão pedagógica, o livro deve reforçar o apreço pela democracia e mostrar que nenhum regime autoritário, mesmo quando baseado na força das armas e na truculência, sobrevive para sempre quando há vontade de enfrentá-lo”, pontua Tereza.
Lançamentos
A coletânea de memórias terá três lançamentos com programações pensadas especialmente para cada um deles. O primeiro lançamento será durante a realização da 74ª reunião da UnB-SBPC, em 26 de julho, a partir das 18h, no Anfiteatro 9 do Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília. A noite contará com dois debates, sendo o primeiro com ex-estudantes da chamada Geração 70 que se dedicaram às atividades parlamentares e o segundo com o Conselho Editorial do livro.
No dia 27, o Cine Brasília (106 Sul) recebe o segundo lançamento do UnB Anos 70 Memória do Movimento Estudantil. A partir das 18h, o espaço terá uma programação que inclui exposição, mostra de filmes e um debate sobre A UnB No Cinema. Para a conversa, o espaço vai receber Lino Meireles, Vladimir Carvalho, Fernando Duarte, Maria Coeli Vasconcelos, Dácia Ibiapina, Maria Maia, Jimi Figueiredo, Marcos Mendes, Hélio Doyle, Antônio de Pádua Rangel, Caetano Cúri e Rafael Vilas Boas.
Para encerrar a semana de lançamentos, o livro será divulgado também no Beirute da Asa Sul (109 Sul). Em 28 de julho, a partir das 18h, amigos que costumam se encontrar e outros que não se veem há algumas décadas vão se reunir para celebrar a obra em um dos bares mais tradicionais da cidade.