“Torcida anda gelada como a cerveja”, diz Xico Sá sobre Copa do Mundo
Escritor e jornalista cearense também fala sobre o processo criativo por trás de Sertão Japão, recente livro que marca seu retorno à poesia
atualizado
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O inquieto escritor e jornalista Xico Sá tem vivido um 2018 movimentado. Acaba de publicar um livro de poesia, algo que não fazia há anos: Sertão Japão, pela editora Casa de Irene, selo independente criado por ele em parceria com a mulher, a produtora cultural Larissa Zylbersztajn, e que carrega o nome da filha do casal.
Aos 55 anos e recém-saído do SporTV, o cearense também participa da cobertura da Copa do Mundo de 2018 pelos canais ESPN, dando seus pitacos espirituosos. Entre uma coisa e outra, divulga os haikais de Sertão Japão por aí, enquanto finaliza novo romance e planeja o próximo lançamento da Casa de Irene, um livro infantil.
Em descontraída entrevista ao Metrópoles, Xico detalha o processo criativo de Sertão Japão e a ideia curiosa de misturar cultura nordestina e oriental por meio da poesia.
Sobre a Copa da Rússia, ele espera ver o Brasil sair do torneio com o hexa. Se pintar mais uma decepção, torce pelo Uruguai e por zebras, como a Islândia. “O time é bom, o técnico, Tite, é excelente, mas a torcida anda gelada como a cerveja dos patrocinadores. Muita gente ainda vive o luto da tragicomédia da Copa de 2014”, reflete.
Xico, como foi essa experiência de mergulhar novamente na poesia? Nos últimos anos, você vinha escrevendo sem publicar ou ela voltou de uma vez?
Nos últimos anos, fui diluindo a poesia nas crônicas e no uísque, nas mesas de bares e no modo de vida, mas nunca a abandonei, seria muita ingratidão da minha parte. Estou em um eterno retorno à poesia, mas agora, claro, a volta é mais consistente, com direito a livro editado de forma independente, como fazia no Recife nos anos 1980, com a geração mimeógrafo.
Ao longo do livro, é divertido acompanhar as conexões poéticas que você constrói entre a Região Nordeste e o Japão. O que te chama mais atenção na cultura e no jeito de ser japoneses?
Há um jeitão contemplativo do matuto brasileiro, dos sertões em geral, que parece muito com o povo do Oriente. Aquela forma como se acocora na frente de casa para contemplar a natureza e o horizonte – vai chover ou não vai chover? Isso é o espírito do haikai.
No livro, você também passeia por referências culturais dos dois lugares. De que maneira a cultura pop colabora para essa ponte poética entre Japão e Região Nordeste?
O universo pop japonês foi fundamental no livro, principalmente na ligação romântica que estabeleço entre o Godzilla e os dinossauros que habitaram o sertão do Nordeste, seja em Sousa, na Paraíba, ou no Cariri cearense. Também exploro uma certa “modernagem” do sertanejo que agora tange o rebanho na roça montado em motocicletas japonesas, em vez do cavalo ou do jegue.
A sua volta à poesia rendeu também a criação da editora Casa de Irene. Fazer livros de forma artesanal e pessoal é mais prazeroso do que o modelo convencional?
É um tesão especial, volto ao artesanato da geração mimeógrafo ou da poesia marginal dos anos 1970/1980. Foi tudo feito em casa, com minha mulher Larissa, que produziu tudo, e com a Irene, que dá nome à editora.
Já tem previsão dos próximos livros que serão publicados pelo selo?
O próximo deve ser um livro infantil, mas é segredo [risos], depois te conto. Seguirei publicando as minhas crônicas e um novo romance – em fase de conclusão – pelas grandes editoras, reservando à Casa de Irene as danações mais poéticas e experimentais.
Xico, para finalizar: você vai comentar a Copa do Mundo na ESPN. O que espera da Seleção Brasileira no Mundial da Rússia? Como está sendo a sintonia com os novos colegas de mesa-redonda?
O time é bom, o técnico, Tite, é excelente, mas a torcida anda gelada como a cerveja dos patrocinadores. Muita gente ainda vive o luto da tragicomédia da Copa de 2014. Se não der Brasil, tomara que fique com o Uruguai ou uma zebra linda, como a Islândia, para a felicidade do povo da Björk. Na ESPN está lindo, sou um perna de pau diante dos craques de lá, mas dou as minhas pernadas de beque da roça.