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Ruy Castro discute amor, saudades e prazeres em A Arte de Querer Bem

O autor conversou com o Metrópoles sobre seu novo livro de crônicas

atualizado

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Ruy Castro
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Ruy Castro chega aos 70 anos cheio de vida e muito bom humor. E não poderia ser diferente. Depois de enfrentar com estoicismo um infarto, câncer na garganta, infecção viral das brabas, desmaio que lhe comprometeu o ombro e até mesmo o alcoolismo, um dos autores mais lidos e apreciados do país segue em frente, esbanjando vigor. Prova disso é o livro de crônicas que acaba de lançar pela Sextante.

Ao todo, A Arte de Querer Bem reúne 101 textos selecionados, publicados em sua coluna na Folha de S.Paulo entre 2008 e 2017. Não é a primeira vez que o jornalista e escritor lança suas análises cotidianas em livros. Entre os títulos do gênero, destacam-se Amestrando Orgasmos (2004), Morrer de Prazer – Crônicas da Vida por Um Fio (2013) e Trêfego e Peralta (2017).

O lançamento tem como tema o amor em todas as suas dimensões e grandezas. Ou seja, nada de amargura ou decepções. Divididas em blocos, as crônicas versam sobre o delirante ofício de escrever, o prazer da amizade, os ídolos “monstros” cultivados ao longo do tempo, a saudade das ausências súbitas, a paixão pelo futebol e o amor ao Rio de Janeiro – cidade abraçada por esse mineiro.

“Na verdade, tenho ligação afetiva é com Minas Gerais. Já o Rio está dentro de mim, faz parte de mim”, confessa Castro, em entrevista ao Metrópoles.

Diluída quase sempre em cinco concisos e deliciosos parágrafos, sua prosa elegante e cativante aqui passa a sensação de um bate-papo gostoso à beira-mar, ao lado de uma geladinha formidável. Em o Sebo e o Céu, Castro, biógrafo de mão cheia – autor das histórias de Garrincha e Nelson Rodrigues –, manifesta, ao falar do saudoso amigo Manel, dono de uma livraria no centro do Rio, seu desejo de morrer e ir para um sebo.

Em Um Santo da Especialidade, fala do altruísmo desmedido de seu dentista, Americo, que tem uma relação além dos boticões e anestesias com seus clientes – a ponto de aceitar ser padrinho de um lulu-da-pomerânia de uma de suas pacientes. Já em Estripulias de Francis, narra as peraltices de seu amigo Paulo Francis, capaz de chegar atrasado a dois empregos só para ver os filmes de Errol Flynn num festival que rolava na Cinelândia.

“Muito melhor do que 2001!”, exclamava o jornalista com seu famigerado ar esnobe.

Sempre bem-humorado, irônico e direto, Ruy Castro, flamenguista doente, fala sobre o pouco entusiasmo que nutre pela atual Seleção Brasileira, os 70 anos de vida e a crença, apesar de tudo, no país. “Por que não? Até os ricos e corruptos começaram a ir para a cadeia…”, troça.

Metrópoles – O livro reúne 101 crônicas selecionadas por você. Qual foi o critério de escolha?
Ruy Castro – O critério foi o de crônicas “benignas”, que passassem uma sensação boa para o leitor. Nada de amarguras, críticas ou denúncias. Daí o título, A Arte de Querer Bem.

Metrópoles – Como é completar 70 anos? Você já pensou em escrever sua autobiografia?
RC – Nada diferente de ter feito 69. Estou me sentindo muito bem, apenas um pouco menos elástico do que aos 20 anos. E não, não acredito em autobiografias – nem mesmo minhas.

Metrópoles – Heloísa Seixas, sua esposa, diz que a persona particular do Ruy Castro não tem nada a ver com a que as pessoas conhecem. Como é o seu outro eu?
RC – Ela me acha um sujeito delicado, terno, preocupado com os outros e com os animais. Talvez porque eu esconda dela o meu lado bravio, selvagem, quase bárbaro.

Metrópoles – O amor e a esperança estão entre os temas desse livro de crônicas, lançado em tempos de pessimismo e desilusão. Qual o antídoto para combater tempos tão sombrios?
RC – Saber que, no fim, vai dar certo. Se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim.

Metrópoles – Como você descreveria sua paixão pelas palavras e pela música?
RC – Já nasci com ela, não me lembro de um minuto de minha vida em que não houvesse um livro, uma frase ou uma canção.

Metrópoles – Você talvez seja o mineiro mais carioca de que se tem notícia desde Drummond, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Sua ligação afetiva com o Rio tem a ver com sua paixão pela música, bossa nova, samba, futebol?
RC – Meus pais moravam no Rio, no bairro da Lapa, e foram trabalhar em Minas Gerais, onde nasci. Deixei de nascer na Lapa por uma questão de seis meses, mas depois, em criança, tive uma vivência espetacular nela. Lá moravam uma tia e vários primos, lá votei pela primeira vez e lá foi meu primeiro emprego, no Correio da Manhã. Na verdade, tenho ligação afetiva é com Minas Gerais. Já o Rio está dentro de mim, faz parte de mim.

Metrópoles – O futebol, uma de suas paixões, está presente nesse livro. Como está encarando a Copa 2018?
RC – Sou torcedor, em primeiro lugar, do Flamengo. A Seleção só me empolga se estiver jogando bem. O que não aconteceu.

Metrópoles – Apesar de ser um homem ligado à cultura, suas crônicas refletem, com muito bom humor, sobre a política brasileira e seus personagens crassos. Apostando na esperança e amor trazidos pelo livro, acredita que o Brasil tem jeito?
RC – Por que não? Até os ricos e corruptos começaram a ir para a cadeia…

Divulgação

 

A Arte de Querer Bem
Ruy Castro. Editora Sextante. R$ 29,90, 256 páginas

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