Promessas da literatura: jovens autoras publicam seus primeiros livros
Inspiradas por escritores de fantasia e de realismo fantástico, essas moças de até 25 anos estão desbravando o mercado editorial brasileiro
atualizado
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Jadna Alana escreveu dois livros, as fantasias A Princesa de Onix e O Retorno do Príncipe, no celular. Esta poderia até ser uma questão geracional, mas a decisão veio da necessidade: a jovem autora não tinha computador à época e, envolta num momento de prolífico fluxo criativo, tratou de escrever os capítulos do jeito que conseguiu. “Colocava tudo no app do bloco de notas. Minhas mãos doíam no fim do dia, mas não desisti porque queria muito escrever esses livros, estava com a inspiração lá em cima”, lembra.
Aos 21 anos, a paraibana de Nova Palmeira é autora publicada. “As pessoas elogiam a pouca idade, mas alguns ainda duvidam da minha capacidade. Eu acho bom, porque se tão jovem consegui fazer tanto, imagina quando chegar à idade de autores que admiro. Espero ser tão boa quanto eles um dia”, comenta a escritora, que também é estudante de letras português na Universidade Federal da Paraíba e se inspira em escritores de fantasia como Cassandra Clare, J.K. Rowling e Sarah J. Maas, além de George R.R. Martin e J.R.R. Tolkien.
O autor das Crônicas de Gelo e Fogo também é objeto de admiração de outra jovem escritora brasileira, Ana Beatriz Brandão o considera um pai literário. A paulistana foi publicada antes mesmo de concluir o ensino médio. “A escrita se tornou parte da minha vida de forma natural. Apesar de eu ter tido que abrir mão de algumas coisas típicas de adolescentes ou perder algumas aulas por causa de viagens a trabalho, consegui levar tudo com tranquilidade”, lembra a moça de 19 anos.
Ana tem cinco romances publicados – O Garoto do Cachecol Vermelho, A Garota das Sapatilhas Brancas, Caçadores de Almas, Sombra de um Anjo e Sob a Luz da Escuridão. Seu primeiro livro está prestes a virar filme e o último terá uma sequência lançada ainda em 2019. O começo da carreira, no entanto, foi um pouco difícil para a autora.
Passei por momentos de extrema alegria com a aceitação de boa parte do público, tristeza pela rejeição da outra parte e dentro do próprio meio. Com o tempo, aprendi a lidar com os dois lados da moeda. Realmente acredito que o respeito que me importa recebo muito dos leitores. Eles têm abraçado minhas histórias com muito carinho, me tratam com respeito em suas resenhas e opiniões. Sei que tenho muito a aprender e melhorar e isso me impulsiona a buscar mais conhecimento
Ana Beatriz Brandão, escritora
Assim como as colegas, Flavia Cotini gosta de narrativas com um toque de magia, mas sua paixão é em outra seara: o realismo fantástico. Fã de Gabriel García Márquez, a venezuelana acredita que o estilo do colombiano é o retrato mais fiel que a vida pode ter.
“Essa ideia de incorporar magia no cotidiano é o jeito mais realista de mostrar o dia a dia das pessoas, a nossa realidade. Sempre existe esse toque mágico, as coisas que não conseguimos explicar completamente”, define.
A estudante publicou, há pouco menos de um ano, Andança, um livro de crônicas escritas entre seus 14 e 15 anos. “Acho que sempre fui uma criança introspectiva, calada. Estava sempre pensando demais nas coisas. A pessoa assim enlouquece um pouco, acho. Eram muitas ideias, e como eu não falava tanto, a escrita foi uma forma que encontrei de organizar isso tudo na minha cabeça”, explica.
Flavia descreve a experiência de ver seu nome nas prateleiras de uma livraria como algo surreal. “Não é uma coisa normal. Mas foi muito legal, também. As pessoas são muito receptivas, acham interessante, querem saber. Publicar foi uma experiência muito positiva”, avalia a autora. Atualmente, a jovem de 19 anos deixou São Paulo, cidade onde morou por boa parte de sua adolescência, para estudar literatura inglesa e língua italiana na Universidade de Oxford, na Inglaterra.
“Por enquanto, meus estudos têm tomado bastante meu tempo. Quero escrever mais contos sobre essa nova fase que estou passando, ver quais reflexões vêm. Com certeza, será uma nova série de pensamentos sobre o momento. O que estou vivendo agora é forte demais, preciso parar um pouquinho para entender tudo que se passa”, comenta Flavia.
Para Jadna, a pergunta sobre o que fazer em seguida é um pouco mais complicada. A paraibana se forma na faculdade em 2019 e não consegue decidir qual carreira seguir. “Acho incrível dar aula, levar minha experiência para os alunos, mostrar para este país – que não é leitor – o benefício da leirura. Mas se realmente for professora, vou me doar muito. A profissão exige muito empenho. Se for para escolher, eu opto pela escrita, meu amor. Mas esse não é um trabalho valorizado”, comenta a estudante.