Projeto de fomento à leitura infantil capacita professores e pais
O Marandubinha nas Escolas pretende reacender a importância do livro na formação da criança cidadã e na compreensão da coletividade
atualizado
Compartilhar notícia
Com acesso fácil a tablets, computadores, celulares e smartphones, os livros vêm se tornando cada vez menos presentes na vida das crianças. Afinal de contas, um videogame cheio de imagens lindas e coloridas chama mais atenção, e um vídeo da Galinha Pintadinha ou da Dora Aventureira resolve qualquer momento de tédio de maneira quase instantânea.
Para tentar reverter esse cenário e convencer as crianças a dar mais atenção às histórias impressas – que são fontes de autoconhecimento e ensinam sobre diferentes realidades –, as educadoras e pesquisadoras Adriana Bertolucci e Dayla Duarte criaram o Marandubinha nas Escolas.
A ideia começou com um blog que ensinava a fazer mediação de leitura e indicava alguns livros interessantes. Hoje, evoluiu para um projeto amparado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF) e pelo Grupo Mulheres do Brasil, responsáveis por levar o Marandubinha do virtual para a vida real.
“Minha pesquisa é em literatura infantil e fui coordenadora de uma biblioteca para crianças. A ideia surgiu da demanda de amigos e colegas educadores que pediam indicações e novidades. Eu criei o blog, mas o objetivo era trabalhar com capacitação profissional nas escolas públicas”, explica Adriana.
O Marandubinha visita as escolas e trabalha com livros disponíveis em todos os centros educacionais do país pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). O carro-chefe, conta a educadora, é o curso de formação de mediadores de leitura, feito em dois módulos com os professores dos ensinos fundamental e infantil.
As educadoras também entram em sala de aula para encontrar com os alunos e Adriana está desenvolvendo duas cartilhas para professores e pais sobre a importância da formação de leitores.
“Acredito que a formação leitora é um trabalho coletivo da sociedade, então pais e professores são importantes nesse processo. Não adianta nada a criança ler na escola e não ter o complemento em casa, e vice-versa. A literatura como arte conscientiza e aumenta o conhecimento de si mesmo e do mundo”, afirma a educadora. Por enquanto, seis escolas fazem parte do projeito, em Ceilândia, São Sebastião, Paranoá e Asa Sul.
Segundo Adriana, a ideia inicial era chamar os pais para fazer um curso nas escolas, mas algumas são rurais e o acesso é complicado – por isso, está desenvolvendo a cartilha –, mas muitos têm interesse em conhecer o acervo dos locais.A reação dos professores vem sendo melhor do que a educadora esperava. Os profissionais têm sido calorosos, dado feedback positivo e percebido retorno na implementação das novas ações. E, apesar do senso comum afirmar que as crianças têm preguiça de ler, Adriana afirma: “Elas se interessam, querem mexer nos livros, escolhem alguns favoritos”.
Desafio
Mesmo com o sucesso da iniciativa, ainda há uma série de problemas que poderiam ser contornados para facilitar o acesso à literatura, afirma a educadora. Um deles é a inexistência de bibliotecários nas escolas (o governo não abre esse tipo de concurso com frequência), então são poucos os centros com uma biblioteca funcional. “Normalmente, só se tem uma sala de leitura, cuidada por um coordenador. A falta de profissionais especializados, com conhecimento da organização do acervo, faz toda a diferença”, afirma Adriana.