Poeta premiada de Moçambique lança seu primeiro livro no Brasil
Hirondina Joshua faz sucesso no mundo literário por levar a visão poética da juventude africana a uma voz universal
atualizado
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Hirondina Joshua chega ao Brasil com seu livro, lançado no país neste mês, “Os Ângulos da Casa” (Ed. Penalux. R$ 34). Nascida em Moçambique, a poeta de 30 anos vem conquistando prêmios literários mundo afora e ganhado reconhecimento internacional.
Com livros publicados em países como Portugal, Angola e Galiza, Hirondina surpreendeu por levar a visão poética da juventude africana a uma voz universal, que atingisse tanto países europeus como americanos. Em 2014, ela ganhou a Menção extraordinária no Premio Mondiale di Poesia Nósside, oferecido pela diretoria internacional de poesia da Unesco.
Metrópoles – De onde encontra a sua inspiração poética?
Hirondina Joshua – O mundo a meu ver não dissocia do interior e vice-versa, são realidades que não podem se apartar embora apareçam de formas diversas. As duas realidades coexistem. A minha inspiração é resultado das vivências e experiências e, claramente, a minha sensibilidade, o meu modo de olhar para as coisas. O mundo não se esgota por ele ser tão grande, creio eu que cada humano usa uma parte dele, o que nós chamamos de “mundos”, então o mundo é um conjunto de mundos onde cada qual tem expressão e impressão das coisas ao seu redor dentro do seu plano e das suas descobertas. Sendo a poesia ou a arte poética, a própria vida.
Metrópoles – O que é ser uma poeta na África nos dias de hoje?
Hirondina – Bem, para mim, a poesia é universal e atemporal, mesmo aquela que toca aspectos íntimos como os ligados a uma comunidade, raça, nível social, etc. Na verdade, não se desliga da realidade humana. O homem de ontem, o homem de hoje, o homem africano, o homem não-africano não mudaram, encontramo-nos dentro de um sistema onde nasce-se e morre-se mas sempre continuamos com os mesmos problemas relativos a valores axiológicos: aceitação do outro, a manipulação, o jogo do poder.
Metrópoles – Seu livro foi publicado em países como Portugal e Angola. Você acredita que há uma circulação melhor entre países que falam português? Há uma parceria entre esses países?
Hirondina – Colaboro em revistas do Brasil, Angola, e Galiza, e antologias nesses países e na Espanha. A tecnologia ajuda muito para que se conheça uma obra. Há parcerias sim. Essas associações surgem a partir dos prêmios da lusofonia, antologias, feiras do livro e revistas eletrônicas.
Metrópoles – É possível falar de arte pela arte ou toda produção artística sempre reflete seu próprio tempo?
Hirondina – Creio eu que haja arte que explana o tempo em que ela foi feita, a partir dela se pode ver o modo como as pessoas viviam, como vestiam, o que comiam, como falavam… Enfim o modo de ser e estar, a sua cultura. Mas também existe a arte pela arte, que para mim transcende o tempo em que ela foi feita, o lugar e todos aqueles aspectos construtores de uma época.
Metrópoles – A poesia dá conta de compreender os paradoxos do mundo moderno – tanto no que se diz respeito ao indivíduo como ao coletivo, ao momento mundial?
Hirondina – Sim, sem dúvida. A poesia gira em volta do homem, este que não se realiza individualmente nem sequer coletivamente, é uma simbiose. Vai se mostrar individualmente, coletivamente, em termos do momento: ele se mostra dono do seu tempo e, ao mesmo tempo, mostra-se fora dele.
Metrópoles – Há uma previsão de visitar ao Brasil?
Hirondina – Espero visitar no próximo ano. Sempre quis conhecer o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro. Achei muito impressionante e o fato de terem dado o nome de “rio” à cidade, nada mais poético. Fiz muitas amizades com brasileiros, alguns amigos conheço pessoalmente e outros ainda não. Parecem-me pessoas quentes e alegres.
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