Poesia política de Ferreira Gullar nasceu após passagem por Brasília
O poeta assumiu a Secretaria de Cultura do DF em 1961 e ajudou na liberação de verbas para filmes do Cinema Novo
atualizado
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O poeta Ferreira Gullar, morto nesse domingo (5/12), morou em Brasília por alguns meses. Em 1961, quando a capital tinha apenas um ano, o então presidente Jânio Quadros convidou o artista para assumir o cargo de chefia na Secretaria de Cultura do DF — à época Fundação Cultural de Brasília. A passagem pela cidade fomentou a visão política do artista.
Nesta época, o político paulista Paulo de Tarso Santos era o prefeito de Brasília, que aceitou a indicação de Jânio. Porém, com a renúncia do presidente em agosto do mesmo ano, Paulo de Tarso também se afastou do cargo, o que levou à saída de Gullar.A rápida passagem de Ferreira Gullar pelo Planalto Central deixou profundas marcas em sua obra literária. Além de se admirar com os monumentos criados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, chegando a afirmar que ele “criou a poética do concreto armado”, o escritor admitiu, em sua “Autobiografia poética”, que a experiência em Brasília o levou à poesia política.
Brasília misturava o que havia de mais moderno no país, a arquitetura de Niemeyer, com o mais arcaico, o trabalho braçal dos peões que estavam construindo a cidade. Esses dois Brasis começaram a fermentar na minha cabeça e isso me levou à poesia política.
Em 1962, já de volta ao Rio de Janeiro, Gullar aderiu ao Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE e publicou poemas e cordéis sobre temas como a reforma agrária. Seu ativismo culminaria na sua filiação ao Partido Comunista e ao exílio em 1970 por conta do endurecimento da ditadura militar. Ele retornaria ao país sete anos depois e chegou a ser preso, mas nunca abandonou a poesia carregada de reflexões sociais e políticas.
Sua presença na capital do país também foi notada por outros artistas. O cineasta Cacá Diegues apontou, em sua autobiografia “Vida de Cinema – Antes, Durante e Depois do Cinema”, que a presença do poeta na Fundação foi essencial para que o filme “Cinco Vezes Favela”, um dos marcos do Cinema Novo, saísse do papel.