O Outro Lado da Bola: HQ ataca a homofobia no mundo do futebol
Com texto de Alê Braga e Alvaro Campos e desenho de Jean Diaz, a obra mostra um craque saindo do armário e enfrentando o ódio
atualizado
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Recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi multada, pela 5ª vez, por conta de gritos homofóbicos nos estádios. Não há dúvida: o mais adorado esporte bretão exclui LGBTs de suas arquibancadas. Assim, o livro O Outro Lado da Bola, com texto de Alê Braga e Alvaro Campos e desenho de Jean Diaz, é um golaço contra o preconceito.
A obra retrata um tema que parece improvável. O craque do alvinegro paulista (uma referência clara ao popular Corinthians), em rede nacional, assume-se gay. Cris, camisa 10 do time, passa de ídolo à escória, de líder a estorvo.
Os autores não se furtam a constranger esse moralismo em um esporte que vê dirigentes envolvidos em constantes escândalos de corrupção. Até mesmo o craque Neymar tem contas a acertar com a Receita Federal.
“Pedofilia, corrupção, violência… tudo isso está no meio do futebol. Nossa história mostra a hipocrisia. Quando Cris se assume, ele destampa uma rede de problemas gravíssimos ligadas ao esporte”, conta Alê Braga.
A partir do futebol, O Outro Lado da Bola constata uma realidade: o Brasil é um país homofóbico. Somente neste ano, 100 pessoas LGBTs foram mortas, segundo o Grupo Gay da Bahia.
O futebol é uma escola de homofobia. Desde criança, o torcedor aprende a ofender utilizando a sexualidade. Existe homofobia em muitos lugares, mas, especialmente nos campos, estamos décadas atrasados
Alê Braga
De fato, no país, não há nenhum caso como o de Cris – que assume a sexualidade durante entrevista em rede nacional, após o ex-namorado (e amor de uma vida) ser brutalmente assassinado. O caso mais próximo é o do atleta Richarlyson. Por conta do jeito afeminado, o jogador que sempre se assumiu heterossexual sofreu preconceitos.
Com passagens pela Seleção, título mundial, Libertadores, campeonato brasileiro e atuando em grandes clubes, o atleta sempre conviveu com os pejorativos gritos de “bicha”. Outro exemplo citado por Alê é o atacante corintiano Sheik: “Quando o Emerson apareceu dando um selinho em um amigo, a torcida quebrou o centro de treinamento do clube”.
Trama
Na graphic novel, o personagem Cris usa a influência para tentar cria um clima de maior tolerância. Enfrenta o moralismo religioso, o preconceito social e, à base do talento, tenta sobreviver ao ódio.
Se na ficção o tema começa a ser debatido, na vida real está muito distante. “O livro mostra o preço de ‘sair do armário’ nesse esporte, por isso ainda não ocorreu. Eles [os jogadores] têm muito a perder”, lamenta Alê.
O Outro Lado da Bola
Texto de Alê Braga e Alvaro Campos e desenho de Jean Diaz. Editora Record. 216 páginas. Preço: R$ 43,90