Morre o poeta Ferreira Gullar, aos 86 anos
Escritor, poeta, dramaturgo e crítico, Ferreira Gullar morreu aos 86 anos, no Rio de Janeiro
atualizado
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Ferreira Gullar, reconhecido poeta, crítico de arte e dramaturgo, morreu neste domingo (4/12), aos 86 anos. As causas do falecimento ainda não foram divulgadas. O escritor estava internado no hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Em 2014, o autor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, imortalizado pela cadeira número 37. Ao longo da carreira, acumulou vários prêmios, como Jabuti e Camões.
Um dos fundadores do neoconcretismo, Ferreira Gullar foi um personagem intensamente ativo na cultura brasileira. Nascido em São Luís (Maranhão), José Ribamar Ferreira, nome de registro do escritor, mudou-se para o Rio nos anos 1950 e ajudou a formar os pilares inciais da chamada poesia neoconcreta ao lado dos artistas Lígia Clark e Hélio Oiticica.
Nos anos 1970, teve que se exilar durante a ditadura militar por sua filiação ao Partido Comunista. Ao retornar ao Brasil, em 1977, chegou a ser preso, mas depois conseguiu retomar a carreira. Foi durante o refúgio na Argentina que ele publicou uma de suas obras mais importantes: um poema solitário com o fôlego de um livro inteiro.
“Poema Sujo” (1976) mistura autobiografia com um balanço dos tempos sombrios vividos pelo Brasil e pela América Latina. O livro ganhou reedição caprichada em 2016 pela editora Companhia das Letras, com apresentação do próprio poeta e introdução do crítico Antônio Cícero.
Em 2015, o “Poema Sujo” virou série na TV. Dirigida pelo cineasta Silvio Tendler, “Há Muitas Noites na Noite” (vídeo acima) realiza uma crônica sobre a trajetória de Gullar, desde o início da ditadura militar ao fim do exílio, em 1977.
No início de 2016, Gullar trocou a editora José Olympio (grupo Record), pela qual publicou durante anos, pela Companhia das Letras. A nova casa pretende reeditar todas as 17 obras de poesia assinadas pelo escritor e começou por “Poema Sujo”, nas comemorações de 40 anos do livro.
Jornalismo e novelas
Em suas várias colaborações jornalísticas para a imprensa, participou do prestigiado “O Pasquim”, mesmo vivendo em exílio fora do Brasil. Entre os anos 1980 e 1990, chegou a colaborar para telenovelas a convite de Dias Gomes.
Coescreveu “Araponga” (1990-1991) com Gomes e Lauro César Muniz. Em 1996, dividiu com Gomes o roteiro de “O Fim do Mundo”, que teve formato diferente, com 35 capítulos. Voltou a trabalhar com o dramaturgo em “Irmãos Coragem” (1995) e na minissérie “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1998).
Prêmios
Entre os vários prêmios e láureas obtidos, Ferreira Gullar foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002. Venceu o prêmio Jabuti em três oportunidades: em 2000 por “Muitas Vozes”, 2007 por “Resmungos”, em que reúne crônicas publicadas no jornal “Folha de S. Paulo”, e 2011 por “Em Alguma Parte Alguma”.
Em 2010, ganhou o importante Prêmio Camões, destinado a escritores de língua portuguesa. Gullar também recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio da Faculdade de Letras da instituição.
Também biógrafo e tradutor
Intelectual de diversas inclinações, Ferreira Gullar também gostava de verter textos estrangeiros. Em 2014, renovou a versão brasileira de “O Pequeno Príncipe”, livro clássico de Antoine de Saint-Exupéry. O maranhense também traduziu “As Mil e Uma Noites”, do também francês Antoine Galland, o primeiro europeu a registrar as crônicas árabes.
No único trabalho como biógrafo, “Nise da Silveira – Uma Psiquiatra Rebelde” (1996), Gullar traçou um perfil da médica que revolucionou o tratamento da esquizofrenia.