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Mário Magalhães escreve biografia indignada sobre o ano de 2018

Para o autor, as consequências da eleição do projeto bolsonarista seguirão por muito tempo nas vidas política e social do país

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Felipe Cardoso/Metrópoles
Brasília(DF), 19/12/2018, Manifestantes pró e contra a possív
1 de 1 Brasília(DF), 19/12/2018, Manifestantes pró e contra a possív - Foto: Felipe Cardoso/Metrópoles

Em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no Rio de Janeiro. No dia 7 de abril, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso, após condenação em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 28 de outubro é a data que confirma a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República. Esses três momentos, na visão do jornalista e escritor Mário Magalhães, são decisivos para compor o último ano. Em um desafio intelectual, ele decidiu biografar o período, resultando no livro Sobre Lutas e Lágrimas: Uma Biografia de 2018.

“Encarei o ano de 2018 como uma vida”, assim define o escritor em entrevista ao Metrópoles. Para Mario Magalhães, os três momentos chaves do período geraram consequências que seguirão por muito tempo na política e na vida dos brasileiros. “Eu decidi fazer o livro quando a Marielle e o Anderson foram assassinados. Já tinha acontecidos casos emblemáticos e alucinantes, mas, ali, vi que 2018 teria muitas consequências e não terminaria em dezembro”, explica.

No prólogo, intitulado O Ano Que Tão Cedo Não Vai Terminar, o autor amarra os 43 capítulos – baseados em textos escritos no portal The Intercept Brasil. Assim como Zuenir Ventura fez em 1968: O Ano Que Não Terminou, Magalhães começa sua narrativa por um réveillon. Se no livro do século 20, Ventura narrava os acontecimentos na casa de Heloísa Buarque de Hollanda, Magalhães opta por contar a virada de ano de Marielle e sua esposa Mônica. “2018 foi um ano muito barra pesada e queria abrir contando uma história de amor entre essas duas mulheres”, justifica.

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Sobre Lutas e Lágrimas: Uma Biografia de 2018

Ao longo das 322 páginas, Magalhães não fica em cima do muro. A obra tem lado e aponta a eleição do projeto de poder bolsonarista como um fato que trará consequências negativas para o país. Mesmo assim, o autor rejeita a pecha de ter produzido a “biografia dos derrotados”. “É sobre a trajetória das pessoas que lutaram contra esse obscurantismo que empurrou o Bolsonaro para a vitória. Tem humor, não é triste. Daqui a 50 anos, vão ler e entender o papel exercido no combate desse discurso”, comenta.

Lula, Lava Jato e Moro

Se Marielle serviu como ponto de partida, a prisão de Lula é o momento central da obra. De acordo com o autor, o desemprego, a corrupção, o caos da segurança pública e a pauta dos costumes foram determinantes para explicar a vitória de Bolsonaro. “Mesmo assim, o [mais] decisivo foi o afastamento do ex-presidente, proibido de concorrer por conta de condenações judiciais contestáveis”, define.

Record/Divulgação
Mário Magalhães define o livro como a narrativa dos que lutaram obscurantismo

Apesar de estar fora do livro, por uma questão cronológica, Mario Magalhães não se furtou a falar das conversas de Sergio Moro com integrantes da Força Tarefa da Lava Jato. “As revelações do The Intercept são contribuições importantes para os cidadãos conhecerem como funciona a Justiça brasileira. Já estava claro, em 2018, o evidente partidarismo no inquérito contra o presidente Lula”, opina. Na obra, em texto datado de 31 de janeiro, o autor pede que Moro abandone a magistratura e invista em uma candidatura política. “Os milhões que dele divergem ou desconfiam não poderiam mais se queixar de que o juiz faz política na tribuna errada”, escreveu.

Magalhães também integra o time de analistas que enxergam na nomeação de Sergio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública prova do partidarismo do magistrado. “A controvérsia acerca dos procedimentos de Sergio Moro na condução do processo que retirou Lula do pleito teve epílogo esclarecedor: o juiz largou a magistratura para ser ministro da Justiça do capitão que se elegeu graças à ausência do favorito”, pontua no prólogo do livro.

Igo Estrela/Metrópoles
Bolsonaro é, para o autor, o símbolo de um discurso obscurantista
Esperança

Apesar do tom indignado da obra, o autor conserva certa esperança no que está por vir. “Sobre Lutas e Lágrimas, mistura o épico com o lírico. O que resume bem o ano de 2018”.

Magalhães diz que, mesmo contrário às propostas de Bolsonaro, acredita em uma reação da sociedade. Ele enumera os protestos de 15 de maio, contra o contingenciamento nos investimentos em educação, como uma reação dos outros indignados com o os rumos do país.

“Minha maior esperança no futuro no Brasil são aqueles que, em 2018, foram a luta contra o obscurantismo. Algumas pessoas me perguntam porque o subtítulo não é o apocalipse, não estamos no fim. Não é o fim de tudo. As manifestações de 15 e 30 de maio deste ano provaram isso”, conclui.

Sobre Lutas e Lágrimas: Uma Biografia de 2018
De Mário Magalhães. Editora Record, 322 páginas

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