Biografia de Silvio Santos desmistifica trajetória do patrão do SBT
Assinada pelo crítico de televisão Mauricio Stycer, obra traça perfil do empresário a partir de artigos e entrevistas publicados na imprensa
atualizado
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Silvio Santos já foi tema de seis biografias. Dezenas de outros livros reúnem anedotas sobre a carreira do patrão do SBT. Mas sua trajetória costuma ser narrada com doses equivalentes de mito e realidade. Em Topa Tudo por Dinheiro: As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos (editora Todavia), o jornalista e crítico de televisão Mauricio Stycer escreve um perfil aprofundado de um dos maiores comunicadores do Brasil.
Para tal, o autor pesquisou declarações feitas pelo homem de negócios ao longo de mais de meio século, a partir de 1952, além de artigos, reportagens e outras obras de referência. Solicitou uma conversa com o “patrão”, mas teve o pedido negado, como tem sido de praxe nos últimos anos. “Ele permanece com a mesma atitude de não dar entrevista e depoimentos para livros, filmes e outros”, explicou a assessoria.
“Lendo sobre Silvio Santos há muito tempo, fui me interessando por alguns aspectos da trajetória dele que sempre me pareceram mal relatados pelas biografias oficiais existentes”, diz o carioca sobre a motivação para escrever Topa Tudo por Dinheiro.
Os seis capítulos da publicação debruçam-se sobre aspectos distintos da vida de Silvio: as primeiras experiências na TV, os mitos biográficos, o período em que se aventurou na política, a amizade com Roberto Marinho e Edir Macedo, suas mudanças e ações imprevisíveis na programação do SBT e a maneira como conduziu a área de jornalismo na emissora.
O maior desafio imposto pelo projeto, segundo Stycer, deu-se na elucidação da juventude do empresário no Rio de Janeiro.
“Como ele não era conhecido, quase não há registros públicos das muitas histórias que são contadas desses anos iniciais. A maior parte dos relatos (a infância, a relação com os pais, o camelô, o animador na barca Rio-Niterói, o serviço militar, o início como locutor comercial) é baseada nos depoimentos do próprio Silvio. Os jornalistas que começaram a se interessar por ele, no início dos anos 1960, não quiseram ou não conseguiram ampliar estes relatos com outras fontes”, analisa.
Uma das histórias mais curiosas aconteceu em 2003. A revista Contigo! anunciava na capa uma entrevista exclusiva com o dono do SBT, então supostamente morando na Flórida. “Estou doente e tenho mais seis anos de vida. Vendi o SBT para a Televisa e o Boni”, falou. Cada comprador pagaria cerca de R$ 1 bilhão. Mas tudo não passou de uma estripulia do patrão.
“É fácil se concluir que nela (a entrevista) prevaleceu o tom de humor, ironia, com doses de fantasia. A própria matéria da Contigo! aponta em vários trechos o ar de brincadeira das declarações de Silvio Santos”, informou o SBT à época, em nota.
“Essas anedotas me interessaram porque ajudam a revelar uma faceta intrigante do Silvio – um certo desleixo pelo que falam dele. Acho que este Silvio, construtor do próprio mito, com a conivência dos biógrafos, um dos aspectos mais fascinantes de sua trajetória”, reflete Stycer, dono de um influente blog sobre TV no UOL.
Mesmo não colaborando diretamente para a obra, o empresário parece ter apreciado a seriedade do livro. O autor se surpreendeu ao ver uma publicidade de 15 segundos promovendo Topa Tudo por Dinheiro durante a programação do SBT.
Em tempos de internet, redes sociais e do fenômeno da “segunda tela” – de celular ou tablet do espectador –, Stycer faz ponderações sobre o atual estado da TV aberta nacional. “Em muitos aspectos, ainda não chegou ao século 21”, aponta.
Algumas empresas, entre as quais o SBT, pontificam e apostam no atraso do país para se manter fazendo um tipo de televisão antiga, com programação baseada em programas de auditório populares, novelas mexicanas, folhetins para crianças e jornalismo sensacionalista. Neste contexto, Silvio é rei. Insubstituível e inimitável
Mauricio Stycer, jornalista e crítico de TV