Livro conta a história real de um brasileiro que lutou por Hitler
Um diário escrito durante a Segunda Guerra Mundial mostra detalhes da participação do curitibano Horst Brenke no exército nazista
atualizado
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O curitibano Horst Brenke tinha 12 anos quando a família alemã decidiu se mudar para o país de origem. Era 1939, Hitler estava no poder e, embora a Segunda Guerra Mundial estivesse começando, havia uma grande onda de ânimo na Alemanha – com abertura de postos de trabalho e melhoria na qualidade de vida.
Porém, algo deu (muito) errado. A guerra provocou o colapso econômico do país e o tornou um lugar terrivelmente perigoso. Em 1943, Horst saiu pelas ruas de uma Berlim minada por bombardeios aéreos para comprar pão e não voltou para casa.
Um soldado alemão o abordou na rua e o obrigou a entrar num camburão com outros jovens para servir ao exército nazista. Dois anos depois, com 18 anos, Horst tornou-se prisioneiro em Vladimir, na Rússia. Somente em 1946 ele foi libertado, chegando até a Itália e, de lá, partindo para o Brasil a bordo em um navio.
Anotações meticulosas
A história quase inacreditável de Horst é revelada pelo jornalista mineiro Tarcísio Badaró, no livro “Era Um Garoto — O Soldado Brasileiro de Hitler”. A obra é baseada nos textos do diário do rapaz, aos quais o autor teve acesso.
“O diário é interessante desde as primeiras linhas. Horst era cuidadoso e meticuloso em suas anotações. Do ponto de vista humano, o embate entre o medo da morte e a vontade de sobreviver foi o que mais chamou minha atenção”, explica o jornalista.
Segredo em família
Nunca traduzido, o diário de Horst se encontrava guardado pelos familiares dele. “Sempre achei muito curioso como os filhos sabiam pouco sobre a história do Horst. Deve ser estranho perceber que se viveu tanto tempo perto de uma pessoa sem a conhecer”, diz Badaró.
O contato do autor com as anotações aconteceu foi por intermédio de sua namorada, que era enteada de um dos filhos de Horst. Revelada, a trajetória do homem causou comoção na família. “Desde o primeiro momento se emocionaram ao descobrir a história. Flagrei mais de uma vez o Ricardo, um dos filhos, se perguntando por que não conversou com o pai sobre tal coisa, por que não fez certas perguntas”, conta.
Viagem
Tarcísio viajou pela Europa para seguir os passos de Horst Brenke. Ao todo, foram 6 mil quilômetros rodados atrás de arquivos alemães e russos, de historiadores, de veteranos de guerra, de testemunhas e de locais visitados pelo curitibano.
“Conhecer as pessoas mexeu comigo. Cada uma tinha sua história, uma trajetória e um sentimento diferente, mas havia em todos algo comum, algo que eu também sentia na história de Horst”, afirma.
Com a pesquisa, Tarcísio também pode dar uma resposta à pergunta temida por muitos: Horst Brenke era nazista? Para o jornalista, não. Por ser de família pobre, seus familiares tinham pouca informação e conhecimento político ou ideológico. Sua ida à Alemanha com os pais foi puramente por motivos financeiros. O retorno ao Brasil só não ocorreu porque os portos haviam sido fechados.
Horst foi apenas um garoto que teve o azar de estar na Alemanha durante a guerra, ser homem e ter idade suficiente para ser mandado para o front.
Tarcísio Badaró
O jornalista pretende, em 2017, reeditar um livro-reportagem que realizou sobre a prostituição em Belo Horizonte (MG). “Frequentei durante dois anos, quase que diariamente, uma zona de baixo meretrício em Belo Horizonte, para contar sobre o cotidiano do lugar”, antecipa. A região é a mesma que abrigou Hilda Furacão, personagem famosa pelo livro de Roberto Drummond.