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Livro apresenta a “biografia” do clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço

O pesquisador Michael Benson explora os bastidores da produção do longa

atualizado

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1 de 1 2001-a-space-odyssey - Foto: reprodução

Era um dia de inverno em Nova York quando Stanley Kubrick – então surfando no sucesso de crítica dos filmes Lolita (1962) e Dr. Fantástico (1964) – pegou um gorro matusquela feito de nylon barato, que sua mulher odiava, e partiu para uma caminhada com o diretor inglês Bryan Forbes. Visita constante naquele início dos anos 1960, o amigo britânico não vacila e, em dado momento, pergunta qual seria o próximo projeto do novo enfant terrible de Hollywood.

“Ah, Stanley, pelo amor de Deus!”, irrita-se quando o cineasta nova-iorquino lhe diz que pensava explorar uma aventura espacial. “Ficção científica? Você deve estar brincando”, continuou. Sem se abalar com os resmungos pernósticos de Forbes, Kubrick arrematou: “Eu quero fazer o primeiro filme de ficção científica que não seja considerado um lixo”.

E conseguiu. Esse filme seria o impactante 2001: Uma Odisseia no Espaço, que este ano comemora 50 anos. Para celebrar a data, está disponível nas livrarias, pela editora Todavia, o belíssimo 2001: Uma Odisseia no Espaço – Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de uma Obra-Prima. A “biografia” desse marco do cinema foi escrita pelo pesquisador Michael Benson, fã do longa desde os 6 anos de idade.

 

“Minha mãe, uma legítima admiradora de Clarke, me levou a uma matinê algumas semanas depois da estreia do filme”, lembra o autor, na apresentação do livro. “Apesar de empolgado com a aventura espacial do programa Apollo (lançamentos de foguetes americanos não tripulados), eu não estava preparado para uma primeira exposição a uma obra poderosa, ambígua e visualmente brilhante como aquela”, recorda.

2001 – filho da Odisseia, de Homero
Com edição caprichada repleta de fotos de bastidores e riqueza de informações, o livro é um registro poderoso sobre essa impactante obra. Traz os primeiros contatos entre Kubrick e Arthur C. Clarke, a angústia do autor de, até ali, nunca ter uma de suas obras adaptadas para o cinema, o complicado trabalho de produção do filme, o desafio que foi escrever roteiro tão complexo, os problemas técnicos enfrentados, o estilo meticuloso do diretor trabalhar.

“A aliança entre estes dois homens talentosos e idiossincráticos exigiu paciência e sensibilidade de ambas as partes. Foi a colaboração mais importante da vida deles”, observa Michael Benson, que compara essa saga épica com o ousado texto de James Joyce, Ulisses. “O século 20 produziu duas grandes versões modernas da Odisseia, de Homero”, reflete.

Lançado em abril de 1968, em formato panorâmico com projeção em telas curvas, próprias para filmes rodados em 65 milímetros, 2001 abarca 4 milhões de anos de evolução, dos trogloditas ao homem do futuro que, numa reflexão metafísica existencial, termina como um feto estelar. A trama arrastada causou perplexidade, euforia e hostilidade, como vaias e pessoas deixando as salas de exibição.

Nome expressivo do cinema russo na época, Andrei Tarkovsky considerou o ambicioso projeto repulsivo e “falso em muitos pontos”. Amigo de Arthur C. Clarke e também escritor de ficção científica – como Crônicas Marcianas –, Ray Bradbury defendeu em resenha massacrante que o filme deveria ser “impiedosamente passado por um moedor”.

Embora um trabalho difícil de se assimilar numa primeira “viagem”, tanto pela sua originalidade autoral quanto visual, não há como deixar de perceber o legado desse longa, que dividiu o gênero em antes e depois de seu surgimento. Basta conferir obras como Gravidade (2013) e Interestelar (2014), para ficar em dois exemplos recentes. Importância reconhecida com esplendor nesse livro de peso, que não pode faltar na estante de nenhum cinéfilo.

Reprodução

2001: Uma Odisseia no Espaço – Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de uma Obra-Prima
De Michael Benson. Editora: Todavia. 496 páginas. R$ 84,90

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