Jornalista lança livro sobre poder da bancada evangélica no Brasil
Em Nome de Quem? denuncia deputados que usam a religião para conseguir votos e privilégios
atualizado
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Quando a jornalista Andrea Dip publicou a reportagem Os Pastores do Congresso, em outubro de 2015, mal sabia das proporções que a bancada evangélica do Legislativo tomaria. Todas as reviravoltas políticas que se seguiram, do impeachment de Dilma Rousseff (PT-MG) à prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deram suporte para a repórter atualizar o texto e o transformar em livro.
Em Nome de Quem? foi publicado neste ano, depois de extensa atualização e pesquisa. O livro de 144 páginas traça um perfil da bancada evangélica do Congresso Nacional, além de se debruçar sobre os pastores e líderes religiosos que estimulam o voto de fiéis em políticos da religião.
Criada no meio evangélico, Dip escreveu o livro não para atacar essa população, mas com intuito de alertar: talvez esses políticos sejam incapazes de representar a comunidade religiosa.
Você transformou uma reportagem em livro. O que precisou atualizar?
Basicamente tudo! Quando escrevi a matéria, em 2015, o Cunha ainda era presidente da Câmara. Tive de contar um pouco sobre o desempenho dos evangélicos no impeachment, o papel do próprio Cunha – uma peça central – e depois o que aconteceu com ele. Falei ainda do Temer e de como os parlamentares evangélicos se comportaram durante a deposição de Dilma e nesse governo. Refiz todas as pesquisas, usei algumas coisas do original, coloquei alguns trechos de outras conversas.
Entre o tempo da matéria e a publicação do livro, você sentiu alguma mudança significativa no poder da bancada evangélica?
A bancada evangélica votou quase que totalmente a favor do impeachment e quase em unanimidade para não levar adiante os processos contra o Temer. Eles sempre se colocaram contra as investigações sobre o presidente. Na época do impeachment, o próprio Silas Malafaia gravou vídeos ameaçando deputados que se posicionassem contrários à deposição da petista. Isso foi bem forte, essa cobrança dos parlamentares por parte de lideranças de igrejas. O Temer recebeu vários líderes da religião na posse e se aproximou espertamente deles para manter a bancada ao seu lado.
O Cunha foi um expoente?
Ele trouxe muita coragem para a bancada. Quando era presidente da Câmara, se posicionava muito como o deputado evangélico, participava de cultos no Congresso, desenterrou projetos de lei e pautas reacionárias. Trouxe muita visibilidade para a bancada. Com a prisão dele, teve uma mudança de comportamento: os parlamentares passaram de aguerridos e barulhentos para uma posição mais silenciosa. Não perderam força ou pararam de atuar, mas tornaram-se menos midiáticos. Quando fui para a segunda rodada de entrevistas, pensando no livro, ficou muito difícil falar com eles.
Você dedicou o livro aos seus pais. Como foi fazer essa apuração tendo sido criada num contexto evangélico?
Quando comecei a reportagem para a Pública, a ideia de pauta surgiu numa reunião, nem foi sugestão minha. Ter tido um contato com esse meio tornou tudo mais fácil, porque nada ali era muito estranho para mim. Sei como os rituais funcionam, como cada denominação se articula, como se desenvolve o raciocínio da religião. Isso me ajudou muito. Meus pais, como digo no livro, foram para mim um contraponto a tudo que eu via acontecendo na igreja, pois eles eram evangélicos e se moviam a partir de um amor e de uma compaixão muito reais. Isso me deu uma noção: é possível estar dentro dessas instituições e fazer algo diferente dos poderosos.
Como você acha que a população evangélica se beneficia da leitura do seu livro?
Meu livro fala sobre um projeto de poder dos políticos evangélicos. Embora eleita pela população, a bancada não representa a comunidade evangélica em sua totalidade. Existe autonomia de pensamento dentro da religião, inclusive temos uma frente de resistência que tem se levantado contra as diretrizes dos parlamentares. Os fiéis precisam ler o livro e entender se quem está no poder de fato os representa. Eles não são ilibados, a maioria tem processos correndo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Qual a sua expectativa, nesse contexto, para a eleição de 2018?
Eu sinceramente não sei o que esperar dessas eleições. Não consigo prever nada. Acho muito importante conhecer bem os candidatos. No caso dos evangélicos, não se pode aceitar acriticamente as indicações feitas por pastores e superiores. É preciso saber da vida dos candidatos, se são de fato pessoas honestas. Temos que entender a trajetória política de cada um, porque existem muitos interesses em jogo.
Em Nome de Quem? – A Bancada Evangélica e seu Projeto de Poder
De Andrea Dip. Ed. Civilização Brasileira. 144 páginas