Jornalista brasiliense lança O Abrigo de Kulê, livro sobre a escravidão
A escritora Juliana Valentim aborda temas como amor, liberdade e solidariedade feminina em um cenário de crise humanitária
atualizado
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“Sentiam vontade de viver demasiadamente, até o talo da vida. As peles queimavam feito uma febre faminta de tudo. Sentiam vontade de engolir o mundo”, diz um trecho do livro O Abrigo de Kulê, escrito pela jornalista brasiliense Juliana Valentim. A obra, que tem como cenário principal o trabalho escravo nas fazendas brasileiras na década de 1940, fala sobre sororidade, liberdade e a vontade de viver.
O livro, que pode ser adquirido clicando aqui, narra a história de Gabriel, um caixeiro viajante contador de histórias, e Maria, uma jovem que ama os livros e sonha em conhecer o mundo. Juntos, eles traçam um caminho em busca da liberdade. Em um cenário escravocrata, os personagens tentam se desvencilhar de suas correntes para conquistar o mais básico dos direitos: viver.
“Apesar de passar lá atrás, temos a temática do racismo e a questão feminina, de personagens muito fortes e de falar muito sobre sororidade, sobre essa solidariedade entre mulheres que nasce em momentos difíceis. Existe uma história de amor entre a Maria e o Gabriel, mas ela contorna toda a narrativa”, contou Juliana Valentim, em entrevista ao Metrópoles.
A jornalista ainda garantiu que o movimento antirracismo Black Lives Matter, que tomou o mundo após a morte do ex-segurança George Floyd, não foi o motivo para que ela estreasse a obra neste momento, mas tornou-se uma coincidência interessante. A estreia, originalmente, ocorreria na Bienal do Livro de São Paulo, suspensa por conta da pandemia de Covid-19.
Primeiro contato
O primeiro contato do leitor com a trama ocorre na capa. O desenho apresenta uma menina negra acorrentada pelos pés e com asas muito coloridas.
“Eu queria que tivesse [na capa] a Kulê, que se encontra em uma realidade de escravidão nos anos 1940. E, mesmo que ela conheça apenas essa realidade, ela tem um mundo de sonhos, ela tem uma grande vontade de voar. Então, a ilustração traz as correntes, mas as asas que significam a liberdade desejada”, explica a jornalista.
O desenho foi feito pela artista Elaine Lyra, com ilustração digital de Flávia Hashimoto. “É uma imagem que diz muito”, completou Juliana.
Juliana Valentim, que é dona do perfil literário Palavras que Dançam, contou ao Metrópoles que já trabalha em uma continuação para O Abrigo de Kulê. “Eu me apaixonei pelos personagens, então eu gostaria muito que eles continuassem vivos aí”, finaliza.