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Homenagem a Elizabeth Bishop na Flip revolta escritores

Escritora americana manifestou apoio ao golpe militar de 1964 enquanto morava no Brasil

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Elizabeth Bishop
1 de 1 Elizabeth Bishop - Foto: Getty Images/Divulgação

A escolha de Elizabeth Bishop como autora homenageada da 18.ª Festa Literária Internacional de Paraty gerou revolta nas redes sociais, com escritores, leitores e críticos definindo a decisão como “insultuosa”, “politicamente melancólica” e “lamentável”. Houve também manifestações a favor do nome da escritora americana.

O principal motivo das críticas foi o apoio, mesmo que lateral, de Bishop ao golpe militar de 1964, em abril daquele ano. Em cartas ao colega Robert Lowell, Bishop — que vivia no Brasil há cerca de 10 anos na ocasião — disse que o evento “foi uma revolução rápida e bonita” e que “a suspensão dos direitos, a cassação de boa parte do Congresso etc., isso tinha de ser feito por mais sinistro que pareça”.

Embora a política tenha pouco peso na produção estética de Bishop, que poderia ser o tema principal das discussões na Flip, as críticas nas redes sociais questionam o momento em que a organização da Festa escolheu para homenagear uma autora alinhada ao golpe militar no Brasil.

No Facebook, a escritora e acadêmica Luciana Hidalgo classificou a escolha de Bishop como “provinciana”. “Dizem por aí que não se deve misturar a obra de um autor com a sua vida – et pour cause. Escritores têm mesmo todo direito de expressar livremente o que pensam. No entanto, por que um festival literário da importância da Flip no Brasil prestaria tributo a uma autora estrangeira capaz de dizer tantas bobagens elitistas, reacionárias e preconceituosas sobre nós, deixando assim de homenagear autores brasileiros de enorme relevância?”, escreveu, em um longo texto onde dá exemplos retirados das cartas da poeta americana.

O olhar de Bishop sobre o Brasil, ressaltado pela organização da Flip como um dos motivos para a decisão, também foi criticado por quem não gostou da escolha.

O escritor Joca Reiners Terron sugeriu que a Festa poderia ter homenageado tanto Bishop quanto seu tradutor no Brasil, o poeta e professor Paulo Henriques Britto. “Quanto ao timing da escolha da direitosa, borracha e sapatona poeta, concordo com a grita: não poderia ser pior. Só que a esquerda também precisa se ligar que nem todo culturette pende pro mesmo lado: também tem artista de direita, assim como curador, diretor de festival etc”, disse Terron no Twitter.

A jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho também criticou a Flip. “Não ponho em questão Bishop como poeta, nem ela pode deixar de ser lida por isso, era o que faltava — que isso fique muito claro. Mas escolhê-la como figura da maior festa literária do país justamente quando o Brasil mais precisa de afirmar a potência, a beleza, a liberdade dos seus criadores, logo quando os nostálgicos da ditadura, agora no poder, ameaçam a criação diariamente, parece-me o maior tiro no pé. Insultuoso mesmo”, disse no Facebook.

Por outro lado, como vozes dissonantes no debate das redes sociais, apareceram a poeta Angélica Freitas e o cronista Antonio Prata.

“Amo a Bishop em toda a sua complexidade”, escreveu Angélica Freitas. “Uma mulher desenraizada, lésbica, alcoólatra. Teve uma vida trágica. Apaixonou-se por uma brasileira e morou aqui (numa bolha de gente rica, que hoje apoiaria borsalino). Uma das maiores poetas do século XX. Uma das minhas poetas favoritas.”

Prata contemporizou e disse que é preciso aceitar outras visões políticas. “Sim, E. Bishop elogiou o golpe de 64. E Nelson Rodrigues tb. E Jorge Amado elogiava a União Soviética (como boa parte de nossos intelectuais). E Vinicius tem uma letra pedófila. Exijam alinhamento político e ideológico e pureza moral de artista e a arte acaba”, escreveu no Twitter.

Bishop tem uma forte conexão com o Brasil. Em 1951 – ainda antes de ganhar o Prêmio Pulitzer em 1956 – ela aportou em Santos com a intenção de permanecer duas semanas, mas acabou se apaixonando pelo País e pela arquiteta Lota de Macedo Soares (1910-1967), e viveu aqui por 15 anos, entre o Rio e Petrópolis. O Brasil está presente em muitas de suas cartas, e também em uma parte da sua poesia.

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