Fabiane Guimarães lança livro que narra drama sobre barriga de aluguel
Após o sucesso com Apague a Luz se For Chorar, que será adaptado para o cinema, Fabiane Guimarães lança o romance Como se Fosse um monstro
atualizado
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A escritora Fabiane Guimarães lançou, na última sexta-feira (3/3), o romance Como se Fosse um Monstro. A história do livro é voltada para uma jovem, Damiana, que vira barriga de aluguel de um casal rico de Brasília. A empregada doméstica passa por uma inseminação artificial caseira e um quase cárcere privado de nove meses. Trata-se da segunda publicação da autora, que lançou Apague a Luz se For Chorar (2021) – obra que ganhará adaptação audiovisual pelas mãos do diretor e produtor executivo Flávio Tambellini.
Como se Fosse um Monstro surgiu a partir de uma notícia: “[A ideia veio] de uma reportagem, na verdade. Em 2019, durante uma viagem, li uma matéria sobre barrigas de aluguel ilegais no Brasil. Aqui, a prática é proibida, exceto nos casos em que a gestação é terceirizada de forma voluntária, por um membro da família”, explicou Fabiane.
“Imediatamente, pensei em como seria interessante escrever a história de uma barriga de aluguel, uma mulher que vende seus ‘filhos’, sem nenhum objetivo de ficar com eles, o que foi o pontapé para criar a história da Damiana”, completou.
Provocação de Fabiane Guimarães
Ao trabalhar o tema, Fabiane não esconde o desejo de promover um debate sobre ele, que, segundo ela mesma, ainda é tratado com certo olhar enviesado pela sociedade: “Estamos em 2023 e ainda existe um grande tabu em torno de como a maternidade é abordada. Mulheres que não querem ser mães são muito julgadas, e discussões sobre o aborto são praticamente anuladas no debate público”.
Entre as discussões propostas, uma delas é sobre o corpo feminino. “A impressão é que o corpo da mulher é uma propriedade coletiva, e não individual. Eu quis escrever a história de mulheres reais, com todas as suas ambiguidades, a partir dessa personagem tão inusitada que aluga o próprio corpo para gerar os filhos alheios”, descreveu.
Como se Fosse um Monstro também surgiu da inquietação da autora em relação a um problema em sua vida.”Eu me interesso bastante por escrever histórias fortes com personagens imperfeitos. Eu sabia que escreveria sobre maternidade em algum momento porque esse foi um tema que marcou muito a minha vida nos últimos anos, porque fui diagnosticada com endometriose severa e soube que teria que passar por um tratamento de fertilidade para engravidar”, revelou
Entretanto, há uma grande diferença entre as criações do livro e a Fabiane da vida real. “Ao contrário das minhas personagens, inclusive, eu sempre soube que desejava ser mãe, inclusive estou grávida neste momento. Mas o aprofundamento no tema me permitiu pensar sobre essa outra forma de maternidade e constituição familiar, que é o uso de uma barriga de aluguel, e como não necessariamente a mulher que se presta a esse papel vai criar laços afetivos com a criança. É um livro sobre maternidade e não maternidade”, refletiu.
Apesar de todo o sucesso de Apague a Luz se For Chorar, a escritora sabe dos desafios que tem em relação à repercussão de seu segundo romance: “Embora eu esteja muito satisfeita com o resultado final do livro, estou tentando não criar expectativas, porque o tempo de maturação de um trabalho literário é muito longo, às vezes o resultado e a repercussão demoram a chegar, então é preciso ter paciência. É um trabalho de formiguinha”.
Apague a Luz se For Chorar
Fabiane Guimarães se destacou no universo literário brasileiro após o sucesso de seu primeiro romance. Lançado em 2021, o livro marcou a estreia da escritora nesse meio e a temporada foi impactante. A brasiliense foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, um dos mais importantes do país, e do Prêmio Candango de Literatura. A escritora garante que ganhou muito mais confiança para trabalhar.
“Eu não diria que fez ‘muito sucesso’ porque isso é relativo. Mas as indicações aos dois prêmios, tanto o Prêmio São Paulo quanto o Prêmio Candango, me deram muita confiança no meu trabalho e no que posso alcançar. Às vezes, é muito difícil para escritores fora do eixo Rio-São Paulo alcançarem visibilidade nacional, então fiquei muito grata e feliz pelas indicações”, contou.
Apesar de ela evitar a alcunha de “muito sucesso”, o romance chamou a atenção de Flávio Tambellini, diretor e produtor executivo, e vai migrar para as telonas:
“Sim! Os direitos de adaptação para o cinema foram adquiridos pelo diretor e produtor executivo Flávio Tambellini, mas ainda não temos novidades em relação às filmagens. Já li o primeiro tratamento do roteiro e adorei.”
Apague a Luz se For Chorar conta a história de duas personagens, Cecília, que após a morte dos pais é obrigada a retornar a uma pequena cidadezinha do Rio de Janeiro, e João, um pai solteiro que precisa de dinheiro para ter acesso a um tratamento experimental para o seu filho, que sofre de paralisia cerebral. Entretanto, uma dúvida passa a atormentar a moça: a de que seus genitores, na verdade, foram assassinados.
Sobre o romance, Fabiane explicou a inspiração para o livro. “Eu queria escrever um suspense, porque sou fã do gênero, mas um suspense com personagens humanos, que sofrem o luto de uma forma muito particular. Saiu uma espécie de suspense dramático, que trata de assuntos sensíveis como a morte e os sacrifícios que são feitos em nome da família. De certa forma, acho que a história é um reflexo do luto que experimentei muito jovem, após a morte de algumas pessoas da minha própria família”, avaliou.
O futuro e o passado
Após a publicação de Como se Fosse um Monstro, Fabiane Guimarães explica tirou um tempo para descansar. “Sempre tenho ideias, estou sempre rascunhando alguma coisa. Mas agora estou de “férias”, então não estou trabalhando em nada no momento”, complementou.
Olhando para trás, e relembrando de quando começou a escrever, a autora define o sentimento como “satisfação e muita gratidão”. “Todos os dias agradeço por ter a sorte de estar vivendo exatamente a vida que eu queria viver. Mais do que ter um livro publicado, eu sempre quis ser escritora, ter uma carreira literária e continuar escrevendo”, finalizou.