Ex-presos políticos relatam cotidiano da ditadura em obra coletiva
“O livro nos ajuda a compreender o país que construímos”, afirma Hamilton Pereira, ex-secretário de Cultura do DF
atualizado
Compartilhar notícia
Nove presos políticos decidiram escrever, juntos, um livro que relatasse o cotidiano das prisões durante a ditadura militar. O resultado dessa empreitada vem à tona na íntegra pela primeira vez no livro “A Repressão Militar-Policial no Brasil – o livro chamado João” (R$45). A obra tem lançamento marcado para esta quinta-feira (30/3), às 19h, no Sebinho Livraria e Café (406 Norte), local no qual o título será vendido enquanto durar o estoque.
Os nove autores da obra são o ex-secretário de cultura do DF Hamilton Pereira, Aton Fon, Carlos Lichtztejn, Celso Horta, Gilberto Belloque, José Carlos Vidal, Manoel Cyrillo Netto, Paulo Vannuchi e Reinaldo Morano Filho. No cárcere, para despistar os carcereiros, eles utilizavam sinais de libras (língua utilizada por surdos), código morse e diminutos papeis – escondido em canetas, vasos sanitários e frestas de paredes.
Publicação
Os nove escritores eram militantes à época da prisão, mas não atuavam juntos. Eles se conheceram e trabalharam juntos no presídio do Carandiru (SP), desativado em 2002, e Barro Branco (SP), em funcionamento até hoje. Todos estão vivos e têm idade na faixa dos 70 anos.
Alguns trechos da obra já tinham sido usados em artigos de historiadores brasileiros e internacionais, mas o livro nunca tinha sido publicado na íntegra. “Foi um erro. Após a prisão nos afastamos e acabamos nunca correndo atrás do projeto”, explicou Hamilton.
Com a chegada da crise política nacional, os escritores conseguiram se reunir e levar adiante o projeto. “Vimos que a maré começou a subir e nos perguntamos o que poderíamos fazer? Assim, resolvemos publicar a obra”.
Para Hamilton Pereira, o livro é um ensaio memorialístico. “Ele nos ajuda a compreender o país que construímos. Mostra que quem não avalia os próprios erros acaba cometendo-os novamente. Não se pode improvisar governos”, conclui.