Eventos literários movimentam cafés e restaurantes do Plano Piloto
Espaços como Objeto Encontrado e Ernesto Cafés Especiais veem a clientela aumentar quando recebem feiras literárias e lançamentos de obras
atualizado
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Juntar literatura e gastronomia em um mesmo local pode ser um bom negócio. Essa foi a constatação que alguns bares, cafés e restaurantes do Plano Piloto chegaram ao sediar feiras de escritores independentes, lançamento de livros e clube de leituras. Ao mesmo tempo em que fomentam a cultura local, a clientela dos espaços aumenta, driblando os efeitos negativos provocados pela crise econômica que atinge o DF e o país.
Um dos principais expoentes desse movimento é o Ernesto Cafés Especiais (115 Sul), que recebe eventos literários desde sua inauguração, em 2011. “Essa movimentação, inicialmente, aconteceu de forma orgânica, partindo de autores que frequentavam o café e viram o potencial do espaço para a realização de lançamentos e bate-papos”, conta Giordano Bomfim, responsável pelos projetos culturais da casa.
No último domingo (15/4), o Ernesto Cafés Especiais (115 Sul) recebeu – pela quarta vez – a feira de literatura independente “A Outra Margem”, que reuniu mais de 35 escritores e editoras locais. Nesse dia, o café dobrou o número de clientes. “Em um dia comum, o Ernesto recebe cerca de 500 clientes. Com eventos desse tipo, esse número chega a 900”, explica Giordano.Outro espaço conhecido por abrigar lançamento de livros de autores locais é o Objeto Encontrado (102 Norte). “Bares, cafés e restaurantes me parecem lugares ótimos para um evento desse tipo. Não faz sentido entender a cultura como algo deslocado do que seriam nossos hábitos e costumes”, analisa Lucas Hamu, proprietário do estabelecimento.
É praxe da casa receber semanalmente um evento literário. Em 8 de abril, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Paniago lançou o livro “É Um Bom Título”, sua primeira obra de ficção.
Enquanto clientes do café se tornam potenciais leitores do meu trabalho, a casa também recebe pessoas convidadas ao meu lançamento. Uma mão lava a outra
Paulo Paniago
O lucro da casa tende a crescer. “Em dias de eventos, a venda do café aumenta até 30%”, informa Lucas Hamu. Vale ressaltar que tanto o Objeto Encontrado quanto o Ernesto Cafés Especiais cedem o espaço, gratuitamente, aos escritores. “Só cobramos um preço simbólico em caso de feiras e workshops para ajudar nos custos”, esclarece Giordano Bomfim.
O restaurante Carpe Diem, da 104 Sul, é outro local conhecido e procurado pelos escritores locais. Diplomatas, professores e advogados já lançaram obras por lá. Ao todo, foram 3,5 mil eventos do tipo nos 26 anos da casa.
Movida Literária
Esse contato próximo entre os autores e espaços gastronômicos da cidade motivou cinco escritores da capital (Paulliny Gualberto Tort, Jéferson Assumção, Nicolas Behr, Zé Rezende Jr. e Maurício de Almeida) a criarem o Movida Literária.
Queremos misturar literatura e a boemia que os centros gastronômicos da cidade fornecem, pois acreditamos que esses dois elementos fazem muito bem à cidade e podem dar uma mexida na cena cultural local. Daí o nome Movida Literária.
Jéferson Assumção
O evento está marcado para ocorrer entre os dias 21 e 28 de maio. Ao todo serão 14 debates no Ernesto Cafés Especiais, Objeto Encontrado, Beirute (109 Sul), Sebinho Café & Bistrô (406 Norte), Bar 400 (410 Norte), Martinica (303 Norte) e Raízes (408 Norte).
“Todos os espaços escolhidos já inseriram a literatura como parte da programação local”, diz Jéferson. Em cada um dos encontros haverá uma mesa na qual um mediador e dois autores brasilienses conversarão, “olho no olho” do leitor, sobre o ato de criar.