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Em autobiografia, Rita Lee fala sobre estupro, drogas e música

No livro, a roqueira relembra dos tempos de Mutantes e fala sobre episódios difíceis, como quando foi estuprada com uma chave de fenda

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Rita Lee
1 de 1 Rita Lee - Foto: Divulgação

Às favas com o clichê. Rita Lee é a rainha do rock nacional e ponto final. Este título a artista paulista ostenta desde o lançamento, em 1975, do disco “Fruto Proibido”. Sim, aquele álbum maneiro recheado de clássicos como “Dançar Para Não Dançar”, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roquenrou”, “Luz Del Fuego” e, claro, “Ovelha Negra”. Aos que duvidam uma prova:

“Um disquinho bacaninha, lá estava eu botando minhas asinhas pra fora num ambiente mezzo machista, ma non troppo. Gosto muito desse trabalho, considerado por muitos como um divisor de águas do rock brazuquês, apesar da breguice do nome”, admite a própria roqueira paulista de 68 anos, em autobiografia que acaba de lançar pela editora Globo Livros.

Bem-humorada, culta, divertidamente cáustica e armada de farpas irônicas, Rita Lee brinda os fãs com uma narrativa empolgante, cheia de revelações curiosas, algumas surpreendentes. De tão surreais, parecem inacreditáveis. Quando, por exemplo, nos anos 70 “num daqueles momentos droguísticos”, foi resgatada por Hebe Camargo no meio da rua. Teve também uma vez que ela roubou as jiboias do astro do rock Alice Cooper, durante apresentação dele no Brasil, em 1974.

Mesmo as histórias já batidas sobre a trajetória ao lado dos irmãos Baptista, “ozmanos” dos Mutantes, e carreira solo, ganham um toque sui generis, contadas por ela. Fazendo uso de neologismos descolados, trocadilhos espertos e espirituosos que brincam com trechos de músicas e título de filmes, Rita Lee tira sarro de tudo e todos. Não perdoa nem a si própria. Sobre encarar a barra de ser uma estrela de rock num país machista, refletiu assim na época:

“Entre as tantas intérpretes brasileiras extraordinárias, de mulheres compositoras, eu só conhecia Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran e Maysa. Pensando nisso, resolvi investir em músicas de minha autoria para meu próprio consumo, uma vez que sabia não ser uma cantora de calibre”, escreve. “Perdi os agudos, mas para quem não tinha médios e graves… Cantora fake tinha suas vantagens”, ironiza ao relatar uma cirurgia nas cordas vocais.

As histórias são narradas em deliciosos drops de anis. Nada muito aprofundado no que tange aos detalhes. Tudo muito curto e grosso, mas preciso. Na linha o que tem que ser dito e nada mais. Então, revela que a primeira paixão na vida, quando tinha cinco ou seis anos, ainda morando no Casarão da Vila Mariana, conta ela, foi Peter Pan. James Dean seria o eterno ídolo teenage.

E Rita não para por aí. Doente pelos Beatles, rascunhou com talento desenhos de cada um dos fab four num daqueles papéis de pão e, numa visita a Londres, no auge da beatlemania, gulosamente lambeu a maçaneta da porta da frente da Apple. Ciente da importância que tem para o cenário musical brasileiro, mas sem parecer pedante, egocêntrica e vaidosa, a artista, que vendeu mais de 50 milhões de discos, destaca o pioneirismo de falar sobre a liberdade da mulher e o prazer feminino.

Filha de pai dentista de origem norte-americana, um sujeito sistemático e sério, o “xerife” Charles, herdaria a alegria e espontaneidade da mãe, Chesa, descendente de italianos. Na biografia revela também que quase chegou a ser filha de Ulysses Guimarães, foi cliente na farmácia de um certo Clodovil e estudou com Regina Duarte na faculdade de Comunicações da USP. Mundo pequeno.

Em “Rita Lee – Uma Autobiografia” tudo flui com uma leveza alegre de quem parece estar de bem com a vida e consigo mesma.Um precioso relicário da música brasileira construído a partir das memórias e trajetória de uma de suas grandes estrelas.

Impossível não se deliciar com as histórias engraçadas, estranhas, algumas tristes, como o episódio do estupro com uma chave de fendas aos 19 anos por um homem que foi à sua casa consertar a máquina de costura.

MissOwl/Reprodução

Cinco drops de anis de Rita Lee

A pianista – Uma aluna de piano dedicada, certa vez, ainda criança, Rita Lee foi escolhida para participar de uma audição dos alunos da prestigiada Escola Tagliaferro. No dia da apresentação, usando vestido charmoso cor-de-rosa com babados de renda branca feito pela mãe, fez feio. Tensa, não conseguiu segurar o nervosismo e molhou a roupa. Petrificada, a mestra foi pragmática e equivocada na premonição: “Ela é boa, mas não aconselho seguir na música”.

Rita Lee e os irmãos Baptista – Rita Lee conheceu os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista nas apresentações colegiais do Teatro João Caetano. Ela, como integrante das Teenage Singers. Eles, na banda Wooden Faces. Na época o grupo era formado por Cláudio, na bateria, Arnaldo no baixo e Serginho na guitarra. “Os cincos membros da família sofriam de rinite, respiravam pela boca, babavam muito e cuspiam quando falavam. Arnaldo era o irmão que eu gostaria de ter tido, aquele que te ensina a trocar pneu, dirigir moto, empresta roupa para você se disfarçar de menino e te leva no banheiro masculino. (…) Serginho gozava da minha cara e eu da dele, coisa de irmão mais novo, digamos que rolava uma não-camaradagem suportável entre nós”, destaca.

Um rei ameaçado por “bruxos” – Os Mutantes, que antes se chamavam “Os Bruxos” – mas Ronnie Von achou o nome “pobrinho” e os aconselharam a mudar – foram barrados de participar do programa Jovem Guarda porque Roberto Carlos não sentia confortável com a ideia de mais um trio com “dois rapazes e uma moça”. No livro, Rita Lee vai à forra. “Ao contrário da maioria, meus favoritos eram Erasmo e Wanderléia, ele pela atitude, ela pelo encanto. Roberto era delicado demais para ser roqueiro, mas tinha lá seu charme”.

Rita Lee no escurinho do cinema – Bem antes de Cacá Diegues, que a dirigiu em “Dias Melhores Virão”, Rita Lee tirou sarro como atriz em 1968 fazendo ponta no filme “As Amorosas”, de Walter Hugo Khouri. Uma ponta grande, já que o cineasta achou a roqueira uma gracinha e esticou seu tempo na tela. Os Mutantes ainda emplacaram no filme duas músicas nunca lançadas oficialmente, “O Tigre” e “Misteriosas Rosas Brancas”, ambas arranjadas por Rogério Duprat, primo de Walter Hugo Khouri.

Ney, o cupido – Rita Lee, que andou dando uns beijos no Paulo Coelho e flertou com André Midani (empresário fonográfico), foi apresentada ao guitarrista Roberto Carvalho por Ney Matogrosso. Sem perder tempo, a ruiva convidou ambos para jantar em sua casa e a noite terminou com o casal junto ao piano. “O gato, além de lindo, cheiroso e excelente guitarrista, também se mostrava exímio pianista. Amor à primeira tecla. Humm”, recorda.

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Rita Lee – Uma Autobiografia
Editora Globo Livros. Preço sugerido: R$ 44,90

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