Designer brasiliense ganha Prêmio Jabuti com o livro Clarice
Felipe Cavalcante assina o projeto gráfico da obra escrita por Roger Mello
atualizado
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A lista de vencedores do prêmio Jabuti foi divulgada no fim de novembro e, entre os escolhidos pelo juri, está o livro Clarice, do escritor e ilustrador Roger Mello. A obra ganhou na categoria de Melhor Projeto Gráfico, realizado pelo designer brasiliense Felipe Cavalcante, e ficou entre os finalistas em Melhor Livro Juvenil.
Para os dois, a premiação sempre marcou a literatura brasileira e tem muita importância no meio. “O prêmio tem um caráter icônico, eu acho também fantástico essa ideia do jabuti ser o símbolo, porque, afinal de contas, o animal representa o arquétipo dos povos ancestrais do Brasil, com sabedoria e perseverança”, define Roger.
A trama se desenvolve ao redor das observações de duas crianças na ditadura militar. Clarice questiona o exercício de poder do adulto, sobre os medos, as contradições, as fugas e a opressão. A história fictícia relembra Brasília por memórias familiares sem a preocupação de entregar fatos, mas sim possibilidades de vivências das personagens.
Felipe entende que o Jabuti é mais do que um troféu, configura um reconhecimento, uma conexão entre o autor e o público. “Eu acho que essa vitória é sempre muito importante para quem participa de um projeto como esse. Mostra que o livro está caminhando e encontrando leitores. Isso é muito gratificante! No caso do Jabuti, a obra entra em uma esfera maior, acaba encontrando uma exposição grande”, comenta empolgado.
Os prêmios
A obra também participou de outras premiações: Clarice ganhou o 2º lugar e menção honrosa do juri no CICLA Chen Bochui, prêmio de ilustração em Shanghai, China. Também conquistou o Selo White Raven da Biblioteca Juvenil Internacional de Munique, Alemanha, e o FNLIJ 2019 de Melhor Livro Juvenil Hors-Concours. Ao todo, são seis condecorações até o momento.
Roger Mello é tio de Felipe e não esconde o orgulho pelo trabalho do sobrinho sobre sua obra. “A ilustração dele para esse livro é fantástica e me surpreendeu muito. Deu muitas outras dimensões ao ao texto, criando uma ficção visual incrível, porque as imagens e a fisicalidade do objeto ficaram inseparáveis”, elogia o escritor.
O designer ressalta as qualidades do texto e da literatura produzida na capital. “Temos representantes por aí. Sempre muita gente produzindo coisas de qualidade. Fico muito feliz de ver pessoas de Brasília ganhando visibilidade”, comemora.
A literatura e o cenário político
O prêmio vem em um momento controverso na literatura, pois muitas livrarias grandes estão em crise. Em março, a Saraiva fechou lojas e, seguindo os passos da livraria Livraria Cultura, entrou com pedido de recuperação judicial.
Felipe entende a gravidade da situação, mas consegue enxergar luz no fim do túnel. “O momento atual é obviamente complicado, por causa do contexto político caótico. No entanto, em contrapartida, existe um cenário de uma produção atual que é muito rico e de uma qualidade altíssima. No contexto da autopublicação e das feiras, você tem uma produção vasta e boa, além do aparecimento de editoras de médio porte, com trabalhos bem impressos e com esmero tipográfico”, avalia.
São muitos eventos literários acontecendo, claro que na garra, porque existe pouco incentivo ou quase nenhum, mas, em suma, é um contexto desfavorável
Felipe Cavalcante
O escritor do livro Clarice, Roger Mello, separa a arte da parte política para fazer um panorama sobre o movimento desse cenário. “A literatura no país, de uma maneira geral, continua extremamente produtiva no sentido da originalidade e das múltiplas vozes. Porém, temos um sucateamento da arte e uma tentativa bem grande de censura dos organismos ligados a esse segmento”, lamenta o autor.