Chega ao Brasil o único livro escrito por um escravo negro no país
Nascido em Benin, na África, Mahommad Gardo Baquaqua viveu por sete anos em Pernambuco após ser “comprado” por um padeiro
atualizado
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Por mais complexa que seja, ainda existem variadas lacunas na literatura brasileira. Uma delas diz respeito à escravidão: não há qualquer livro publicado no Brasil que conte a história do holocausto negro pelos olhos de um escravo.
Quer dizer, não havia. A editora Uirapuru publicou neste mês a autobiografia de “Mahommad Gardo Baquaqua” (R$ 38,50), lançada originalmente nos Estados Unidos há 160 anos. Mais do que contar a própria história, o autor traz detalhes sobre os costumes, as estruturas familiares e os castigos dirigidos aos negros daquela época.
Nascido em 1820 no reino de Borgoo, atual Benin, o muçulmano Mahommah Gardo Baquaqua conheceu o Brasil aos 20 anos, após ser raptado e passar meses em um navio negreiro. Ao desembarcar em Pernambuco, foi “comprado” por um padeiro, com quem permaneceu até 1847, momento em que fugiu em uma embarcação comercial para os Estados Unidos.
Chegando em Nova York, Baquaqua foi liberto pelos abolicionistas e seguiu para o Haiti, na América Central. Lá recebeu os cuidados de um casal de missionários batistas até retornar aos Estados Unidos em 1849. Rapidamente, mudou-se para o Canadá e começou a trabalhar com o editor Samuel Moore.
No trabalho, aprendeu o ofício da escrita e começou a se dedicar ao seu livro de memórias. Seis anos depois, Baquaqua teria terminado seu livro, que foi editado e publicado por Moore em 1854. No ano de 1857, mudou-se para a Inglaterra com o objetivo de voltar a sua terra natal.Mais do que traçar o cotidiano daquele período, Baquaqua faz reflexões sobre a religião islâmica, a botânica e a saudade da África. Além disso, a obra mostra as intensas tentativas de os escravizadores apagarem seu passado e os crimes cometidos contra ele.